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Ciência e extrações: como um problema técnico se torna uma questão sociotécnica
Esta comunicação é o resultado parcial de pesquisa de caráter etnográfico levada a cabo em um laboratório de genética de populações e evolução humana e molecular, localizado em uma importante universidade no Sul do Brasil. Entre outros aspectos, o que torna interessante o coletivo articulado em torno desse laboratório é o fato de, contextualmente, estes geneticistas se intitularem antropólogos biológicos; o que é particularmente instigante, não só por ser um laboratório de genética e biologia molecular, mas também por este estar situado no Brasil, país em que o campo da antropologia biológica ainda é pouco institucionalizado. Atualmente, o laboratório em questão participa, junto a pesquisadores de laboratórios de outros países da América Latina e do Reino Unido, de um consórcio de pesquisa sobre diversidade e evolução biológica das populações latino-americanas, integrando, assim, um coletivo mais amplo. Nesse contexto, ao abordar etnograficamente um consórcio de pesquisa que coloca em relação um grande números de pesquisadores e centros de pesquisa da América Latina, o foco central da etnografia em questão e que será abordado nesta comunicação são as práticas científicas levadas a cabo pelo grupo de pesquisadores brasileiros. Portanto, o que se etnografou não foi o laboratório em si, mas as conexões que são estabelecidas a partir dele, ao ser parte de um projeto de pesquisa de escala internacional. Mostra-se, a partir das práticas laboratoriais, que uma controvérsia não é algo “simplesmente” técnico, mas sim uma questão sociotécnica. Ademais, a discussão de tal controvérsia pretende colocar em relevo a dinâmica científica em um projeto que integra pesquisadores de universidades latino-americanas e é coordenado por um pesquisador sediado em uma universidade britânica
Desafios e perspectivas de um comitê de ética em pesquisa do Sul do Brasil: relato da experiência de Porto Alegre
The Research Ethics Committees have the role of protecting the rights of human beings in the midst of scientific research, guaranteeing ethics and the reduction of risks and damages. In this context, the Research Ethics Committee was created in Porto Alegre in 2005. It is a consultative, deliberative and educational collegiate body responsible for analyzing research projects involving municipal public services. This article presents the experience of this Committee, through its trajectory, frequent ethical issues and future perspectives. Its advances in these two decades of existence in guaranteeing ethics in research carried out in the municipality are remarkable, as well as there is clarity of future paths and the needs for the continuity of these actions.Os Comitês de Ética em Pesquisa possuem o papel de proteger os direitos dos seres humanos em meio a realização de pesquisas científicas, garantindo-lhes a ética e a redução de riscos e de danos. Neste contexto foi instituído em Porto Alegre, em 2005, o Comitê de Ética em Pesquisa. Trata-se de um órgão colegiado consultivo, deliberativo e educativo responsável pela análise de projetos de pesquisa envolvendo os serviços públicos municipais. Este artigo apresenta a experiência deste Comitê, através de sua trajetória, pendências éticas frequentes e perspectivas futuras. São notáveis seus avanços nestas duas décadas de existência na garantia da ética nas pesquisas realizadas no município, assim como há clareza dos caminhos futuros e das necessidades para a continuidade destas ações
Fonseca, Claudia; Rohden, Fabíola; e Machado, Paula Sandrine (org.). Ciências na Vida: Antro-pologia da ciência em perspectiva. São Paulo, Terceiro Nome, 2012: 301pp.
Resenha da coletânea Ciências na Vida: Antropologia da ciência em perspectiva, organizada por Claudia Fonseca, Fabiola Rohden e Paula Sandrine Machado, publicada em 2012.
Ciência, coletas e extrações : uma etnografia a partir de um laboratório de genética de populações
Esta dissertação é o resultado de um intenso processo de imersão em um dos espaços mais íntimos do fazer científico: o laboratório. O objetivo interposto foi o de realizar uma pesquisa de caráter etnográfico em um laboratório de pesquisa em genética de populações humanas, vinculado ao Instituto de Biociências, ao Departamento de Genética e ao Programa de Pós-Graduação em Genética e Biologia Molecular (PPGBM) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O objeto deste estudo não foi o laboratório de pesquisa em si, mas as práticas científicas levadas a cabo por este coletivo ao ser fazer do Consórcio para Análise da Diversidade e Evolução na América Latina (CANDELA), um consórcio de pesquisa multi-cêntrico que, como o próprio nome indica, procura dar conta da diversidade étnico-racial em diversos países na América Latina. Buscou-se etnografar o que acontecia, sobretudo, entre instrumentos e práticas laboratoriais, durante a realização deste consórcio de pesquisa, abordando as escolhas práticas e conceituais que foram adotadas no cotidiano científico durante pouco mais de seis meses. Tentou-se não perder de vista as associações mais amplas que foram estabelecidas nesse contexto, de forma que o laboratório foi o ponto de partida e não o ponto de chegada. Nesse sentido, o que se realizou é o que se denomina aqui de “etnografia a partir do laboratório”. No plano teórico-epistemológico, a proposta é a de colocar em questão dicotomias clássicas da ciência moderna, como cultura-natureza, a partir do estudo etnográfico de um projeto de pesquisa que estaria na fronteira entre as ditas ciências naturais e ciências sociais, contribuindo para a ampliação da discussão em torno da agência dos não humanos e de quanto isso se faz central em uma pesquisa de cunho etnográfico que leve a sério não só o que dizem nossos interlocutores humanos, mas também aqueles que emergem a partir da fala destes e da observação da prática científica. Além disso, ao mesmo tempo que esta dissertação procura mostrar a centralidade dos não humanos na prática científica principalmente através de um evento ocorrido ao longo do trabalho de campo, ela aponta para a possibilidade de interlocução entre as ciências biológicas e as ciências sociais.This dissertation is the result of an intense immersion in one of the most intimate spaces of the scientific practice: the laboratory. The goal brought was to conduct an ethnographic research in a laboratory in population genetics, linked to the Instituto de Biociências, of Departamento de Genética and to Programa de Pós-Graduação em Genética e Biologia Molecular (PPGBM) at the Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). The object of this study was not to research the laboratory itself, but the scientific practices undertaken by this collective as being part of the Consortium for Analysis of Diversity and Evolution in Latin America (CANDELA), a multi-center research consortium, as its name implies, sought to account for the racial-ethnic diversity in several countries in Latin America. It tries to give an account of what happened, especially among instruments and laboratory practice, within this research consortium, tackling the everyday practical and conceptual scientific choices ocurred during the over six months of fieldwork research. It intends to not lose sight of the broader associations that were established in this context, so that the laboratory was the starting point and not the ending point. In this sense, what took place is what is called here an “ethnography from the laboratory”. In a theoretical-epistemological scheme, the proposal is to discuss traditional dichotomies of modern science, such as culture and nature, from ethnographic study of a research project that was on the border between natural sciences and social sciences, contributing to expanding the discussion on the agency of nonhumans and how this is done in an ethnographic research that takes seriously not only what is said by our human counterparts, but also those that emerge from these talks and from the observation of scientific practice. Moreover, while this dissertation seeks to show the centrality of non-human in scientific practice mainly through an event that occurred over the fieldwork, it points to the possibility of dialogue between the natural sciences and the social sciences