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    Igualdade é uma palavra que o sonho humano alimenta: Rancière e a crítica aos discursos pedagógicos contemporâneos

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    In The Spirit of the Laws, Montesquieu attributes to education - and, in particular, to school form - the task of spreading and cultivating the love for equality, conceived as the political virtue par excellence and as the principle that supports the republican regime as a way of life. The challenge that his work poses to educators - that of an education system committed to making equality viable - mobilizes republican educational discourses which, since then, have tried to devise ways to implement the principle of equality within educational institutions. This article analyzes different ways by which educational discourses have proposed to operationalize this principle in terms of educational relationships. We start from the analysis of the public school as an effort to implement the liberal principle of equal opportunities, followed by the criticisms addressed to it by the reproductive theories and by the historical-critical pedagogical movement. In a third moment, we seek to articulate Rancière’s criticisms to both currents, as he presents a perspective in which the commitment to equality is not conceived as an objective of the educational action to be reached in the future, but as an axiom capable of producing egalitarian effects in present actions.Em O Espírito da Leis, Montesquieu atribui à educação – e, em particular, à sua forma escolar – a tarefa de difundir e cultivar o amor à igualdade, por ele concebido como a virtude política por excelência e como o princípio afetivo que sustenta o regime republicano como modo de vida. O desafio que sua obra lança aos educadores – o de viabilizar uma educação comprometida com o amor à igualdade – mobiliza os discursos educacionais republicanos que, desde então, procuraram conceber meios de efetivar o princípio da igualdade no âmbito das instituições educativas. O presente artigo analisa diferentes formas pelas quais os discursos educacionais se propuseram a operacionalizar esse princípio no plano das relações educativas. Partimos da análise da escola pública como esforço de efetivação do princípio liberal da igualdade de oportunidades e apresentamos, a seguir, as críticas a ela endereçadas pelas teorias reprodutivistas e pelas correntes pedagógicas autoproclamadas histórico-críticas. Em um terceiro momento, buscamos articular as críticas de Jacques Rancière a ambas as correntes, apresentando uma perspectiva na qual o compromisso com a igualdade não é concebido como um objetivo da ação educativa a ser alcançado no futuro, mas como um axioma capaz de produzir efeitos igualitários em suas ações presentes

    The ideals of a humanistic education (bildung) and the meaning of school experience

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    A sensação de que a instituição escolar vive uma profunda crise é bastante generalizada, sobretudo entre intelectuais e profissionais da educação. O consenso acerca de sua existência, no entanto, não tem implicado qualquer concordância no que concerne aos elementos que a teriam precipitado ou às características de sua atual configuração. A hipótese que guia essas reflexões visa a associar a noção de uma crise na educação escolar a um aspecto que costuma permanecer oculto na maior parte dos discursos críticos acerca da escolarização contemporânea: o esvanecimento do sentido político e existencial da experiência escolar. A fim de desenvolver tal hipótese, debruçamo-nos, inicialmente, sobre a variedade de possíveis acepções do termo “crise”, rejeitando aquelas que a vinculam de forma imediata às noções de declínio, decadência ou ocaso. A partir dos escritos de Arendt e Koselleck, a noção de crise é, então, utilizada em sua acepção primeira: a da emergência de um momento crucial que, por romper com respostas cristalizadas na tradição, exige reflexão e decisão. O que se procura realizar é, pois, um exercício de pensamento que recuse as abordagens funcionais e econômicas do sistema escolar em favor da compreensão de um sentido intrínseco para a experiência escolar: o da iniciação dos mais novos em heranças simbólicas capazes de dar inteligibilidade à experiência humana e durabilidade ao mundo comum. Uma iniciação cujo significado transcende qualquer funcionalidade exterior à experiência escolar, já que reside na própria formação de um sujeito, e não em sua possível inserção em um sistema produtivo.The feeling that the school institution is experiencing a deep crisis is quite widespread, especially among intellectuals and school professionals. The consensus about its existence, however, does not imply any agreement as far as its causes or current features are concerned. The hypothesis that guides the present reflections associates the notion of a crisis in education to one aspect that usually remains hidden in most critical discourses of contemporary education: the fading of a political and existential meaning for the school experience. In order to develop this hypothesis, the text focuses on the range of possible meanings of the term crisis, rejecting those that connect it immediately to notions of decay or decline of any sort. From the writings of Arendt and Koselleck, the notion of crisis is applied in its original Greek meaning: the emergence of a crucial moment that requires reflection and decision. Therefore, what I try to accomplish is an exercise of thought that refuses the functional and economic approaches of the school system, searching for an intrinsic meaning for school experience: the initiation of the new comers (children) in symbolic heritages capable of offering intelligibility to human experience and durability to our common world. An initiation whose meaning transcends any external functionality of the school experience in favor of a process whose final result is not a functional being, but an active subject

    Uma interpretação programática do direito à educação

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    The right to education occupies a unique place among social rights. Unlike some of its counterparts, its recognition as a fundamental right and its aspiration to universality apparently do not lead to great controversy regarding the legitimacy of its statement; and the legal mechanisms for their enforcement are quite clear. However, despite the universal offer of places in primary schooling, there is still a lot to be done as regards its accomplishment. The hypothesis guiding this article is that its fulfillment requires an elucidation about the legal good itself, the right to education as a public subjective right.O direito à educação ocupa um lugar ímpar entre os direitos sociais. Diferentemente de alguns de seus congêneres, seu reconhecimento como um direito fundamental e sua aspiração à universalidade não parecem ser objetos de grandes controvérsias no que concerne à legitimidade de sua enunciação e os mecanismos jurídicos para sua garantia são bastante claros. Contudo, a despeito da universalização da oferta de vagas no ensino fundamental, há muito a caminhar em relação à sua efetivação. A hipótese que guia o presente artigo é a de que sua plena realização requer uma elucidação acerca do próprio bem jurídico assegurado: o direito à educação como um direito subjetivo público

    Experiências temporais da vita activa e os desafios da transmissão intergeracional

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    Em seu prefácio à edição francesa de A Condição Humana, Paul Ricoeur sugere a importância da temporalidade como categoria interpretativa das atividades humanas tal como Arendt as descreve. O presente artigo procura, a partir da exploração dessa chave interpretativa, vincular as experiências temporais da vita activa à responsabilidade política dos educadores em face dos recém-chegados e da durabilidade do mundo. Nele sugerimos que, para Arendt, seria precisamente na tensão e na complementariedade entre as dimensões temporais da experiência do animal laborans, do homo faber e do zoon politikon que se equilibraria a frágil possibilidade de que a política venha a se constituir como uma resposta digna à pluralidade como condição da vida comum e, assim, contrapor-se às tentações totalitárias
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