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O trabalho do Antropólogo: olhar, ouvir, escrever
O Olhar, o Ouvir e o Escrever são destacados pelo autor como constituindo três momentos especialinente estratégicos do métier do antropólogo. Através de exemplos concretos fornecidos pela etnografia, procura-se mostrar como cada um desses momentos pode aumentar a sua eficácia no trabalho antropológico, desde que sejam devidamente tematizados pelo exercício da reflexão epistemológica. Se o Olhar etnográfico, tanto quanto o Ouvir, cumpre sua função básica na pesquisa empírica, é o Escrever, particularmente no gabinete , que surge com o momento mis fecundo ela interpretação; e é por meio dele - quando se textualíza a realidade sociocultural - que o pensamento se revela em sua plena criatividade.According to the author, seeing, hearing and writing constitute three strategic moments pertaining to the anthropologist's craft. Using concrete ethnographic examples, it is shown how each of these monents, when properly submitted to epistemological reflection, can increase the efficacy of anthropological work. Seeing and bearing accomplish their basic functions during empirical research. However, writing, parlicularly of the kind wich is done in the office, emergcs as the most fruitful moment of interpretation. Thinking is revealed in its most creatíve moment when writing becomes the means for textualizing socio-cultural reality
O enigma das máscaras
Onde estabelecer o limite entre a arte e a sociedade, entre a expressão estética e a significação, entre função social e função simbólica? A leitura do último livro do Professor Claude Lévi-Strauss, La Voie des Masques, agora em sua segunda edição (Plon, 1979), (*) nos propõe todas essas interrogações. E, mais ainda, encaminha algumas soluções. Trabalhando com um conjunto de grupos indígenas situados na costa nordeste do Pacífico, entre a Colúmbia Britânica e o Alasca, Lévi-Strauss procura penetrar no mundo simbólico dos povos Salish e Kwakiutl, através da análise de suas máscaras e dos Déné, por meio de suas placas de cobre trabalhadas; placas que, de uma certa maneira, reproduzem, igualmente, máscaras suficientemente estilizadas para exprimir uma figura numa superfície plana. Embora a beleza do livro nos convide a lê-lo como uma obra de etnologia da arte, isso seria apenas uma primeira e superficial impressão. A rigor, o livro nos conduz pelos caminhos da criação estética à lógica da criação de símbolos. “Les sentiers de la Création” , subtítulo da primeira edição La Voie des Masques (Genève, Skira, 1975) indica, certamente, que os caminhos abertos por Lévi-Strauss o foram no campo da lógica e não no da estética. A arte estaria, assim, tão-somente na concepção artística do livro, traço, aliás, característico de algumas obras do autor, como La Pensée Sauvage e os volumes de Mythologiques. La Voie des Masques é, sem dúvida, uma bem sucedida tentativa de elucidação de um tradicional e desafiador enigma em que a Etnologia sempre tropeçou: o que podem as máscaras nos ensinar
Homenagem a Castro Faria: Introdução
O ANUÁRIO ANTROPOLÓGICO não poderia deixar de homenagear o Professor Luiz de Castro Faria neste momento em que, aposentando-se no Museu Nacional, não obstante continua a prestar serviços à antropologia e à comunidade de seus oficiantes. Sua aposentadoria é, portanto, apenas formal, uma sorte de “ liberação de ponto” para se permitir continuar a colaborar com a disciplina e com todos nós de seu canto niteroiense. Os depoimentos enfeixados nesta simples mas sincera homenagem que lhe fazemos, de autoria das Professoras Maria da Conceição Beltrão, Alcida Rita Ramos e Yonne de Freitas Leite, são bem uma amostra das diferentes dimensões da atuação de Castro Faria, quer como pesquisador e professor, quer como administrador e grande incentivador dos estudos arqueológicos, etnológicos e lingüísticos em nosso país. As colegas acima nominadas souberam registrar o teor das diferentes formas de contribuição colhidas por suas respectivas áreas de exercício profissional
Identidade e estrutura social
Estar na Academia Brasileira de Ciência homenageando o Museu Nacional nos é duplamente gratificante. Primeiro porque a Casa da Ciência finalmente e graças à direção lúcida de um dos mais renomados cientistas brasileiros, Dr. Aristides Pacheco Leão, em boa hora abre suas portas para a Etnografía, permitindo a um público que lhe era até então estranho, o privilégio de comparecer à sede brasileira das ciências exatas e naturais. Quem sabe a partir deste evento tenhamos dado importante passo na diminuição da distância entre as ciências que habitam esta Casa e as ciências sociais e humanas que somente agora ”” que eu sabia ”” passam por seus umbrais. Segundo, porque estamos verificando que essa mesma etnologia, comumente vista num passado não muito distante, mesmo no Museu Nacional, como aquela dentre as suas disciplinas menos científicas, aparece hoje com uma robustez e uma força muito bem atestadas nos dez anos do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social que também agora comemoramos
Positivismo e a construção de modelos na antropologia
Barry Hindess, um Lecturer em Sociologia n a Universidade de Liverpool, e au to r de alguns livros de indiscutível interesse, como The Decline o f Working Class Politics (1971), The Use of Official Statístic ín Sociology (1973) e Pre-Capitalist Modes of Production (1975), este último escrito por P. Q. Hirst (e já traduzido p a ra o português ”” Zahar, 1976), incursiona agora, com este seu Philosophy itnã Methodology in the Social Sciences (1977) *, no campo da filosofia e da metodologia em ciências sociais com um objetivo bem delineado: a demolição da epistemologia e dos diferentes racionalismos e empirismcs que lhe dão guarida. Propõe-se, assim, a uma crítica das epistemologias fenomenológicas (Weber, Schutz e Husserl) e positivistas (Mill, Mach, Carnap e Popper) seguindo aproximadamente uma lin h a althusseriana, ou nela se inspirando. Sua crítica recai sobre algumas modalidades de positivismo que se manifestam num conjunto selecionado de autores, especialments filósofos e lógicos, e num ou noutro cientista social. Max Weber é o sociólogo que merece sua maior atenção, cabendo a Parsons e a um antropólogo como Lévi-Strauss referências quase episódicas
Leach e Lévi- Strauss
As relações entre a Inglaterra e o Continente, especificamente a França, não têm sido das mais frutíferas no campo da Antropologia. O renitente empirismo inglês e o não menos renitente racionalismo francês sempre foram obstáculos quase intransponíveis para as boas relações entre antropólogos de um e de outro lado da Mancha. E se sublinho o quase, é porque pelo menos em duas ocasiões essas relações se estreitaram, criando-se praticamente um campo comum, por pouco uma interação de idéias, não fosse a pequena reciprocidade dessas relações, posto que mais do que a ilha, foi o continente que marcou a sua presença. A primeira ocasião foi marcada pela presença da sociologia durkheimiana na antropologia, de Radcliffe-Brown, cujas repercussões no desenvolvimento da antropologia britânica são notórias. A segunda ocasião ”” que nos interessa mais de perto ”” é a que recentemente se deu e ainda está em pleno curso: a influência de Lévi-Strauss sobre Edmund Leach, indubitavelmente dos mais famosos antropólogos britânicos vivos ”” se não o mais. Mas estranhos fenômenos passam a ser observados: não temos mais a transfiguração empirista do racionalismo francês, como foi feita de modo claro ”” e por vezes ingênuo ”” por Radcliffe- Brown. Agora o que se verifica é uma incorporação suí generis do racionalismo, onde, menos do que observar uma certa continuidade de postulados empiristas, impenitente vacina contra os excessos racionalistas, o que se nota é o domínio desse racionalismo, porém sob um novo estilo de se fazer “antropologia empírica” : o curioso e deslocado estilo de Leach
A dupla interpretação na antropologia
Falar em interpretação nas Ciências Sociais hoje em dia e, sobretudo, na Antropologia, é uma temeridade, pois facilmente quem assim o fizer pode ser confundido com um defensor de uma "antropologia interpretativista", comumente chamada de "pós-modema". É evidente que não é isso que pretendo fazer neste artigo, cuja finalidade maior é a de dar algum relevo a questões de metodologia, como também de teoria, que digam respeito ao trabalho antropológico. E se estou aduzindo teoria à metodologia, faço pela simples razão de que não vejo utilidade em tratar esta sem aquela1. Pensar metodologias implica necessariamente invadir dimensões meta-teóricas. Por essa razão, justifico examinar aqui aspectos preliminares a metodologias específicas, debruçando-me sobre aquilo que estou chamando de "dupla interpretação". Por isso, pretendo expor algumas idéias que possam nos conduzir a evitar qualquer maniqueísmo que sempre assoma quando o tema é a interpretação e, com ela, o binômio explicar/compreender. No desenvolvimento dessas idéias, penso poder fazer valer a própria experiência ganha por nossa disciplina em sua já secular idade que ”” é bom esclarecer ”” não mais admite ser tratada de "jovem ciência", e, quase sempre, em sentido pejorativo. Juventude esta que lhe tem custado o descrédito em muitos contextos, notadamente naqueles em que se encontram as agências de fomento..
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