21 research outputs found

    Tratados da terra e gente do Brasil

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    2 ed.FINEPUFRJFUJBIBEPFAPERJME

    Os mártires e a cristianização do território na América portuguesa, séculos XVI e XVII

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    O artigo investiga um grupo de atores sociais bastante relevante para viabilizar a cristianização na América portuguesa: os mártires cristãos, indivíduos muito especiais, dispostos a regar a terra com seu próprio sangue, de forma a tornar definitiva e irreversível a ocupação cristã do território. Os mártires - e principalmente a narrativa em torno deles - parecem ter sido bastante acionados para integrar a América portuguesa e seus habitantes nativos à temporalidade e territorialidade cristã. Os mártires dos séculos XVI e XVII, principalmente missionários, reeditavam os martírios do início da cristandade, que espalharam o cristianismo rumo a diversas partes do mundo na antiguidade. Dessa forma, viabilizaram a cristianização das novas fronteiras, consagrando o solo com seu sangue divino e viabilizando posteriores processos de urbanização. Além da função estratégica dos mártires para os cristãos, o texto mostra que eles também tiveram significado peculiar na interlocução com as culturas ameríndias, que tinha como um de seus principais personagens o grande guerreiro, disposto a perder seu sangue em prol de seu grupo.This paper looks into a group of social agents who played a significant role in the Christianization of Portuguese America, namely, the Christian martyrs - very special individuals who were ready to wet the land with their own blood in order to make possible a definitive and irreversible occupation of the territory by Christian settlers. The martyrs, and above all the stories told about them, seem to have been called upon to integrate Portuguese America and its native inhabitants into the temporalities and territory of Christendom. Mostly made up of missionaries, this group of 16th and 17th-century martyrs reedited the martyrdom of early Christians, who spread their creed across numerous parts of the Ancient World. They enabled the Christianization of new frontiers by consecrating the soil with their divine blood and paving the way for subsequent processes of urban development. In addition to their strategic significance for Christianity, the text also shows that their martyrdom played a specific role in the Christian settlers' interaction with Amerindian culture, whose main cults included the figure of the great warrior, ever ready to shed his own blood for his group

    Vestígios indígenas na cartografia do sertão da América portuguesa

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    During the first three centuries of colonization of Portuguese America, indigenous cartography helped the outlanders to decipher the space that they conventionally named sertão (backcountry). The colonizers in the Captaincy of São Paulo (expeditions, soldiers, settlers, bureaucrats, merchants, and adventurers) mapped out the hinterland with utmost care. However, because the territory was a colony, such agents reorganized that space and classified the ethnic groups into distinct, fixed and homogenous categories. As the Portuguese Crown moved ahead with its conquest, the indigenous groups were gradually wiped out from the maps and their territories expropriated.Nos três primeiros séculos da colonização da América portuguesa, a cartografia indígena auxiliou no processo de decodificação do espaço convencionalmente chamado "sertão" pelos adventícios. Agentes de colonização da capitania de São Paulo (bandeirantes, soldados, povoadores, burocratas, comerciantes e aventureiros) mapearam cuidadosamente os territórios interiores. A situação colonial, entretanto, impôs uma nova orientação do espaço, bem como classificou os grupos étnicos em categorias distintas, fixas e homogêneas. Nesse processo de conquista da Coroa portuguesa, os grupos indígenas foram gradativamente eclipsados dos mapas, e seus territórios, expropriados

    Iconografia tropical: motivos locais na arte colonial brasileira

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    Este artigo estuda a representação visual da natureza tropical na arte sacra do período colonial brasileiro, entre os séculos XVI e XVIII, época em que as artes visuais do país se desenvolveram no contexto do barroco introduzido pelos missionários católicos. Foi na decoração das igrejas que apareceram algumas das primeiras representações artísticas de elementos da natureza local, notadamente as frutas tropicais, produzindo novas combinações junto à tradicional ornamentação fitomórfica europeia, constituída de folhas de acantos e vinhas. Após um levantamento das ocorrências dessas manifestações da temática local na decoração dos templos presentes nas regiões nordeste e sudeste do país, este trabalho aborda, nos textos dos viajantes e missionários produzidos no período, as interpretações cristãs da natureza tropical que permitiram o aproveitamento desses motivos como parte da estratégia de pregação e conversão católica por meio da alegorização moral e religiosa da natureza do Novo Mundo.This paper studies the visual representation of local nature in the sacred art developed during the colonial period of Brazilian history. In this period, between the XVIth and the XVIIIth centuries, the visual arts in the country evolved in the context of the Baroque introduced by Catholic missionaries. It was in the decoration of the churches in which the first representations of aspects of local nature, mostly the tropical fruits, appeared in Brazilian visual arts, producing new combinations together with the traditional European phytomorphic ornamentation of acanthus leaves and grapes. This research draws upon texts written by travellers and missionaries during the period to demonstrate how the Europeans interpreted and represented tropical nature and used these representations as part of the Catholic preaching strategy by means of moral and religious allegorization of the New World nature

    Com o diabo no corpo: os terríveis papagaios do Brasil colônia

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    Desde a Antiguidade, papagaios, periquitos e afins (Psittacidae) fascinaram os europeus por seu vivo colorido e uma notável capacidade de interação com seres humanos. A descoberta do Novo Mundo nada faria além de acrescentar novos elementos ao tráfico de animais exóticos há muito estabelecido pelos europeus com a África e o Oriente. Sem possuir grandes mamíferos, a América tropical participaria desse comércio com o que tinha de mais atrativo, essencialmente felinos, primatas e aves - em particular os papagaios, os quais eram embarcados em bom número. Contudo, a julgar pelos documentos do Brasil colônia, esses voláteis podiam inspirar muito pouca simpatia, pois nenhum outro animal - exceto as formigas - foi tantas vezes mencionado como praga para a agricultura. Além disso, alguns psitácidas mostravam-se tão loquazes que inspiravam a séria desconfiança de serem animais demoníacos ou possessos, pois só três classes de entidades - anjos, homens e demônios - possuíam o dom da palavra. Nos dias de hoje, vários representantes dos Psittacidae ainda constituem uma ameaça para a agricultura, enquanto os indivíduos muito faladores continuam despertando a suspeita de estarem possuídos pelo demônio. Transcendendo a mera curiosidade, essa crença exemplifica o quão intrincadas podem ser as relações do homem com o chamado “mundo natural”, revelando um universo mais amplo e multifacetado do que se poderia supor a princípio. Nesse sentido, a existência de aves capazes de falar torna essa relação ainda mais complexa e evidencia que as dificuldades de estabelecer o limite entre o animal e o humano se estendem além dos primatas e envolvem as mais inusitadas espécies zoológicas.Since ancient times, parrots and their allies (Psittacidae) have fascinated Europeans by their striking colors and notable ability to interact with human beings. The discovery of the New World added new species to the international exotic animal trade, which for many centuries had brought beasts to Europe from Africa and the Orient. Lacking large mammals, tropical America participated in this trade with its most appealing species, essentially felines, primates and birds - especially parrots - which were shipped in large numbers. It should be noted, however, that at times these birds were not well liked. In fact, according to documents from colonial Brazil, only the ants rank higher than parrots as the animals most often mentioned as agricultural pests. On the other hand, some of these birds were so chatty that people suspected them to be demonic or possessed animals, since only three classes of beings - angels, men and demons - have the ability to speak. Nowadays, several Psittacidae still constitute a threat to agriculture, and the suspicion that extremely talkative birds were demon possessed has also survived. More than a joke or a mere curiosity, this belief exemplifies how intricate man’s relationships with the “natural world” may be. In this sense, the existence of birds that are able to speak adds a further twist to these relationships, demonstrating that the problem of establishing a boundary between the animal and the human does not only involve primates, but also includes some unusual zoological species
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