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    Explicações reducionistas no discurso científico sobre o transtorno de déficit de atenção com hiperatividade desde 1950

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    Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, entro de Ciências da Saúde. Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva, Florianópolis, 2013O Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) se tornou um transtorno psiquiátrico bastante difundido, inclusive fora dos muros acadêmicos e clínicos. Muitas das informações veiculadas nesses ambientes provêm do discurso científico, conhecimento que possui bastante crédito perante a sociedade. De maneira geral, esse discurso descreve o TDAH como uma condição psiquiátrica altamente prevalente na população em geral, de origem genética, que produz alguma alteração cerebral, responsável pelos comportamentos considerados característicos do transtorno, tratável com medicamentos estimulantes. Para entender a configuração atual do discurso científico em torno do TDAH, é necessário analisar como a definição do transtorno e seus tratamentos foram mudando ao longo do tempo. Dessa forma, nosso objetivo é analisar o discurso científico do TDAH e seus tratamentos (principalmente o metilfenidato), desde a década de 1950, a partir de dois periódicos (The American Journal of Psychiatry e Pediatrics) e das diferentes edições do DSM (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders). Descrevemos alguns conceitos de explicações reducionistas e como esses conceitos aparecem no discurso neurocientífico atualmente para, a partir disso, analisar o caso do TDAH. Em seguida, investigamos os diagnósticos e conceitos relacionados ao TDAH desde 1950, a fim de entendermos de que forma as explicações biológicas reducionistas se tornaram hegemônicas no discurso analisado. Os diferentes tratamentos utilizados para problemas de atenção e agitação em crianças também foram examinados, com ênfase nos medicamentos estimulantes, principalmente o metilfenidato. Apresentamos uma breve descrição desse fármaco, seus usos, mecanismo de ação e efeitos adversos. O uso dos estimulantes permite a existência e a manutenção do discurso biológico reducionista em torno do TDAH. Fazemos uma crítica a esse tipo de argumento, que apareceu durante todo o período analisado; e afirmamos que elementos de vários níveis explicativos devem ser levados em consideração para explicar os comportamentos. A resposta positiva ao tratamento medicamentoso foi o principal argumento para a aceitação da hipótese biológica do TDAH. Mesmo que ainda não tenha sido possível provar essa hipótese até hoje, a responsividade aos estimulantes ainda é utilizada para mantê-la. Este argumento é frágil, primeiramente porque até pessoas "normais" respondem aos fármacos estimulantes. Além disso, mesmo supondo que o TDAH é uma doença, não podemos postular uma causa para ele baseada no mecanismo de ação de um medicamento sintomático. Assim, defendemos que os resultados dos estudos sobre o TDAH hoje são insuficientes para justificar que esse transtorno é uma doença biológica. Tratar todos os comportamentos diferentes como doenças, ou simplificálos, pode nos levar a ignorar as individualidades e esquecer as singularidades de cada um <br

    De tônico para idosos a melhorador de desempenho em crianças: os usos da Ritalina e as explicações cerebrais para transtornos mentais

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    The present study aims to understand the roots of the current uses of Ritalin (methylphenidate) and how the explanations about neural backgrounds for mental disorders make the use of drugs acceptable and even desirable to “treat” behavioral problems and enhance academic performance. We discuss the Attention Deficit Hyperactivity Disorder (ADHA) diagnosis, which allowed the use of methylphenidate and other stimulants in children; how the drug was used over time, since entering the market in the 1950s; the role of the biological explanations about the brain in emergence of ADHD as a psychiatric diagnosis treatable with drugs; and how these issues result in prescribing and using methylphenidate to enhance cognitive performance. Finally, we argue that the beliefs in neural background to mental disorders may create relevant social consequences: the relativization of social issues related to suffering; a tendency of trying to prevent “threats” through treatment and stigmatization of individuals considered in risk for mental distress; physical and neural damages due to exceeded and/or long-term use of psychoactive drugs, among others. Keywords: Ritalin; methylphenidate; ADHD; smart drugs; medicalization; pharmaceuticalisation.O objetivo deste artigo é analisar em perspectiva histórica os diferentes usos atribuídos à Ritalina (metilfenidato), desde a sua descoberta, na década de 1950, até hoje. Analisamos também como as explicações sobre supostos substratos neurais para os transtornos mentais possibilitou e legitimou o atual uso da droga para “tratar” problemas de comportamento e para melhorar o desempenho acadêmico. São abordados o diagnóstico do Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), que permitiu o uso de metilfenidato e de outros estimulantes em crianças; como esse medicamento foi usado ao longo do tempo, desde sua entrada no mercado na década de 1950; o papel das explicações biológicas cerebrais na consolidação do TDAH como diagnóstico psiquiátrico tratável com medicamentos; e como tudo isso resulta no metilfenidato como um medicamento prescrito e utilizado para melhorar o desempenho cognitivo. Argumentamos, ao final, que a crença nos substratos neurais de transtornos mentais pode gerar consequências sociais relevantes: a relativização da influência de questões sociais nos sofrimentos; a tentativa de prevenção de “perigos” por meio do tratamento e estigmatização de indivíduos considerados em risco; danos físicos e neurais decorrentes do uso exagerado e/ou a longo prazo de medicamentos psicotrópicos, dentre outras. Palavras-chave: Ritalina; metilfenidato; TDAH; smart drugs; medicalização; farmaceuticalização

    Transtorno de déficit de atenção com hiperatividade: medicalização, classificação e controle dos desvios

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    Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências da Saúde. Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública.O Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) se caracteriza por um conjunto principal de três sintomas, que são desatenção, impulsividade e hiperatividade. Atualmente, o TDAH é considerado como uma das doenças psiquiátricas mais diagnosticadas em crianças. Estima-se que sua prevalência esteja em torno de 3 a 6% das crianças em idade escolar. Seu diagnóstico é essencialmente clínico e subjetivo, o que traz dúvidas em relação ao número elevado de crianças que apresentam o problema e leva a uma reflexão sobre a excessiva medicalização de comportamentos infantis considerados anormais, principalmente por parte da escola. Em geral, a iniciativa para o encaminhamento dessas crianças ao profissional de saúde parte da escola, mas são os pais que decidem se as levam ou não a esse profissional e, no caso de haver algum tratamento recomendado, se irão segui-lo. Nesse contexto, se inseriu o objetivo principal dessa pesquisa, que foi analisar as visões de mães e professores sobre o diagnóstico e o tratamento do TDAH infantil. Para isso, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com mães de crianças diagnosticadas com TDAH e professores que possuíam algum vínculo com essas crianças. A análise dos dados encontrados resultou em dois grandes eixos-temáticos: "comportamentos anormais, normalização e controle social" e "classificação e classificados". Foi possível observar que as crianças que apresentam comportamentos socialmente considerados anormais constituem um problema para a escola, pois desestabilizam suas regras. Para que essas crianças se tornem indivíduos aceitos, uma das estratégias utilizadas atualmente é o encaminhamento ao profissional de saúde. Parte dessas crianças encaminhadas são diagnosticadas com TDAH. Uma vez que possuem esse diagnóstico e são tratadas, professores e pais mudam suas atitudes para com a criança e esta torna-se mais docilizável. Assim, o diagnóstico e o tratamento médicos são um dos principais meios de controle social, ou seja, constituem uma maneira de normalizar os indivíduos considerados desviantes. Mas esse controle por meio do diagnóstico médico, em outras palavras, por meio de uma classificação, podem também trazer efeitos sobre a criança. Mesmo que ela não entenda o real significado do seu problema, após o diagnóstico do TDAH, ocorrem modificações no meio social no qual ela vive, fazendo com que perceba que não é considerada igual às demais. O diagnóstico médico, em especial do TDAH, parece ser uma maneira rápida e relativamente fácil de resolver um problema, que é o incômodo representado pela presença dessa criança na escola. Os questionamentos sobre por que existem cada vez mais crianças anormais e por que nossa sociedade não consegue lidar com elas, ainda ficam sem uma resposta definitiva

    Ética e medicalização

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    O conteúdo deste unidade visa aprofundar os conhecimentos sobre a ética e sua relação com a medicalização. A contextualização do tema é feita partindo do aprofundamento e compreensão do conceito de ética e de bioética. Faz-se um resgate histórico de aspectos relacionados ao tema e a ligação com a prática profissional, refletindo sobre o modo como esses temas fazem parte de nossa rotina. Discute-se o processo de medicalização e a excessiva utilização de serviços médicos, percebendo como determinados fatores são identificados na sociedade atuale faz-se uma a reflexão a respeito das implicações éticas que podem existir na pesquisa com seres humanos, principalmente no que concerne à indústria farmacêutica. O conteúdo segue com a abordagem da medicalização, trazendo as várias definições possíveis para este processo e insere os termos desmedicalização e remedicalização, procurando estabelecer relação com a profissional. Por fim, o conteúdo discute a utilização de serviços médicos excessivos, incluindo medicamentos, em situações de vida que poderiam ser consideradas “normais”, repensando nosso modelo de saúde e a prática profissional.2.

    Uso racional de medicamentos

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    Ao longo das três unidades deste módulo, teremos um panorama do uso racional de medicamentos, a partir de sua definição, até sua compreensão como objetivo difícil de ser alcançado pelos profissionais da Saúde. Ademais, conheceremos as barreiras para o URM e as maneiras de enfrentá-las, e vimos como a prescrição e a dispensação de medicamentos são relevantes para favorecer seu uso racional. Por fim, compreenderemos como sua atuação profissional pode contribuir para um melhor uso dos medicamentos e, portanto, a uma melhor qualidade de vida dos usuários.1.0Ministério da Saúde/OPAS/OM

    Análise do consumo de benzodiazepínicos em um município do norte do Rio Grande do Sul, Brasil

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    Os benzodiazepínicos (BZD) são fármacos recomendados para o tratamento de transtornos de ansiedade e insônia, por um período curto de tempo. São bastante consumidos, especialmente no Brasil, entretanto podem levar a intoxicações e efeitos adversos significativos, além de dependência quando consumidos a longo prazo. Dessa forma, o objetivo deste trabalho foi traçar o perfil dos usuários de benzodiazepínicos em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) de um município de pequeno porte, da região norte do Rio Grande do Sul, em 2019. Trata-se de estudo descritivo, utilizando como base questionário anônimo com 62 indivíduos em uso de BZD e análise de suas prescrições. Destaca-se a maior quantidade de mulheres, de pessoas baixa escolaridade e idade entre 41 e 70 anos, dentre os entrevistados. O clonazepam foi o fármaco mais prescrito. A maior parte dos entrevistados fazia uso desse tipo de substância há mais de 5 anos. Essa característica é preocupante e indica que os BZD estão sendo utilizados de maneira indiscriminada no município, assim como ocorre em outras cidades do país. Os profissionais de saúde precisam estar atentos para o uso apropriado de medicamentos, evitando, dessa forma, iatrogenias decorrentes desse uso. ANALYSIS OF BENZODIAZEPINE CONSUMPTION IN A CITY OF NORTHERN RIO GRANDE DO SUL, BRAZIL Benzodiazepines (BZD) are drugs used as short-term therapies for the treatment of anxiety and insomnia. BZD are highly consumed, especially in Brazil, however, its longterm consumption can lead to addiction. Thus, this paper aims to describe the profile of BZD users in a Health Center (HC) in a small city of Northern Rio Grande do Sul, Brazil, in 2019. A descriptive analysis was designed based on an anonymous questionnaire with 62 BZD users, in addition to analysis of their prescriptions. We highlight that the majority of subjects are women, people with poor schooling and age between 41 and 70 years old. Clonazepam was the most prescribed BZD. The majority of the respondents was takingBZD for more than 5 years. This indicates that BZD are being used indiscriminately in the studied city, as is the case in many other Brazilian cities. Health professionals need to be attentive to inappropriate use of these drugs, avoiding their iatrogenic effects

    Medicalização dos desvios de comportamento na infância: aspectos positivos e negativos

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    The medicalization of deviant behaviors during childhood is usually presented as an effective strategy to deal with troublesome children, but the problems associated with medicalization are not frequently exposed. Even so, the process of medicalization is complex and may present many negative results. In this context, our aim is to discuss these difficulties. First, we present an overview of the relationship between medication and childhood. After that, we discuss some positive and negative aspects of medicalization. Finally, we conclude that framing a child under a psychiatric diagnosis is often more beneficial for the society and the child's surroundings than it is for the child herself.A medicalização dos comportamentos desviantes na infância é apresentada como uma estratégia eficaz para lidar com crianças que apresentam algum tipo de dificuldade, sem que, no entanto, as dificuldades desse processo sejam claramente expostas. O processo de medicalização, porém, é complexo e apresenta muitos resultados negativos. Dentro desse contexto, nosso objetivo é refletir sobre essas dificuldades. Primeiramente, apresentamos como se dá a relação entre medicalização e infâcia. Em seguida, discutimos alguns aspectos considerados positivos e negativos da medicalização. Para finalizar, consideramos que enquadrar uma criança em um diagnóstico psiquiátrico apresenta sérias consequências indesejáveis, e acaba sendo mais útil para a sociedade e para o entorno da criança do que para a própria criança.La medicalización de los comportamientos desviantes en la infancia es presentada como una estrategia eficaz para manejar niños que presentan algún tipo de dificultad, sin que, sin embargo, las dificultades de ese proceso sean claramente expuestas. El proceso de medicalización, sin embargo, es complejo y presenta muchos resultados negativos. En ese contexto, nuestro objetivo es reflexionar sobre esas dificultades. Primero, presentamos como se da la relación entre medicalización e infancia. Enseguida, discutimos algunos aspectos considerados positivos y negativos de la medicalización. Para finalizar, consideramos que encuadrar un niño en un diagnóstico psiquiátrico presenta serias consecuencias indeseables, y acaba siendo más útil para la sociedad y para el entorno del niño de lo que para el propio niño

    Entrevista com Marta Verdi sobre Ética e medicalização - parte 2

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    O vídeo apresenta a entrevista com a professora Marta Verdi, do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Santa Catarina, sobre as diferentes perspectivas em bioética hoje no Brasil.2.0Ministério da Saúd

    Gestão da Assistência Farmacêutica: módulo optativo: unidade 1: ética e medicalização

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    O conteúdo deste unidade visa aprofundar os conhecimentos sobre a ética e sua relação com a medicalização. A contextualização do tema é feita partindo do aprofundamento e compreensão do conceito de ética e de bioética. Faz-se um resgate histórico de aspectos relacionados ao tema e a ligação com a prática profissional, refletindo sobre o modo como esses temas fazem parte de nossa rotina. Discute-se o processo de medicalização e a excessiva utilização de serviços médicos, percebendo como determinados fatores são identificados na sociedade atuale faz-se uma a reflexão a respeito das implicações éticas que podem existir na pesquisa com seres humanos, principalmente no que concerne à indústria farmacêutica. O conteúdo segue com a abordagem da medicalização, trazendo as várias definições possíveis para este processo e insere os termos desmedicalização e remedicalização, procurando estabelecer relação com a profissional. Por fim, o conteúdo discute a utilização de serviços médicos excessivos, incluindo medicamentos, em situações de vida que poderiam ser consideradas “normais”, repensando nosso modelo de saúde e a prática profissional.1.0Ministério da Saúd

    Entrevista com Marta Verdi

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    O vídeo apresenta a entrevista com a professora Marta Verdi, do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Santa Catarina, sobre as diferentes perspectivas em bioética hoje no Brasil.1.0Ministério da Saúd
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