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A tomada do palco: performances sociais de Mao Tsé-Tung a Martin Luther King, e a Black Lives Matter hoje
Sociólogos da cultura vêm desenvolvendo, desde 2000, perspectivas teóricas e aplicações empíricas da teoria da performance social, que tem como ponto de partida a atualização da obra tardia de Durkheim, somada a elementos da virada estética e da teoria do drama.. Essa abordagem refuta a interpretação econômica da ação desenvolvida por Marx, assim como a abordagem teórica da ação iniciada por Weber e continuada por Parsons. Neste ensaio, pretendo demonstrar como a teoria da performance social pode esclarecer a arte do protesto, tomando como exemplos a revolução comunista da China, o movimento americano por direitos civis de meados do século 20, e os protestos atuais, majoritariamente afro-americanos, contra a violência policial nas cidades americanas. Entre a tradição de protesto afro-americana de meados do século vinte e as condições da população negra pobre das periferias das cidades do início do século 21, emerge o imenso desafio de forjar novos roteiros orientados à ação. São necessárias lideranças fortes, com talento dramatúgico e de direção. A fusão exitosa de público, roteiro e atores exige acesso aos meios de produção simbólica; interpretação empática das atuações em curso, por parte dos críticos; e suficiente influência ante os poderes relevantes para evitar repressão pelas forças do Estado. Esses diversos elementos foram postos em prática pelo movimento negro pelo fim da violência policial, que vem ganhando impulso desde 2012. Empregando novos meios digitais de produção simbólica, seus organizadores transmitiram narrativas, slogans e gestos persuasivos, provocando protestos massivos de afro-americanos e mudanças na opinião pública americana em relação à violência policial e ao racismo.