6 research outputs found

    Malungo’s stigma and experience: the tavern drinking culture

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    O artigo apresenta os resultados parciais de uma pesquisa de doutorado sobre a história das tavernas no Brasil e realiza um esforço inicial de reflexão sobre os contextos de consumo de bebida alcoólica naqueles espaços, bem como nos seus entornos. A partir da crítica de um estereótipo segundo o qual a ingestão alcoólica dos grupos escravizados estava associada ao pecado, ao vício e à doença, investigo suas práticas de beber a partir do conceito de cultura etílica (drinking culture). A taverna foi um dos locais onde estas experiências aconteciam, assim como as senzalas e terreiros. Neste sentido, ela também foi o palco da conformação de identidades e resistências não violentas constituídas pelos africanos diaspóricos.This article presents partial results of a PhD research on the history of taverns in Brazil and makes an initial effort to reflect about alcohol consumption practices in those spaces as well as in their surroundings. Based on the critic of a stereotype according to which alcohol consumption by enslaved groups was associated with sin, addiction and disease, I investigate their drinking practices using the concept of “drinking culture”. The tavern was one of the spaces where these practices took place, as well as the slave quarters and yards. In this sense, taverns were also a kind of other nest to formation of identities and non-violent resistances constituted by diasporic Africans

    Aspects of the alcohol consumption culture of enslaved groups

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    No século XVIII a ideologia religiosa associava a ingestão de álcool pelos escravizados com a fonte dos pecados e no século XIX com a origem de males morais. Exemplo desta ideologia aparece quando, ao descrever as senzalas que observou, o viajante Ribeyrolles refere-se a elas como sendo “antros, onde reinam às vezes as distrações e prazeres bestiais da embriaguez, em que jamais se fala do passado, porque é a dor, nem do futuro porque está cerrado”. A senzala então seria o espaço dominado pelo prazer bestial da embriaguez escrava, por sua vez, momento de negação completa (“jamais”) do trabalho de memória marcado pelo sofrimento e negação completa do planejamento do porvir. Ademais, o consumo de álcool parecia apenas acontecer em excesso, como se não houvesse uso regulado e socialmente aceito entre os grupos escravizados. Estudando a “macumba paulista”, Roger Bastide encontra relato de que naquele ritual faziam “‘um feitiço’ diante da imagem de Cristo, ao pé do qual puseram pinga e mandioca”. Câmara Cascudo informa que a aguardente penetrou o cerimonial religioso e se integrou ao “patrimônio oblacional africano”. Uma série de outras referências dão notícia da presença do álcool destilado presente nas experiências religiosas dos grupos escravizados. Nas festividades do cachambu e do jongo, por exemplo, a pinga é usada para molhar o couro dos tambores e afiná-los na fogueira, não apenas para ingestão. Por sua vez, ao estudar a vida cotidiana dos escravizados no Rio de Janeiro do século XIX, Mary Karash acrescentou outras razões do lugar da cachaça entre os africanos e seus descendentes: baixo preço, gênero básico da dieta, complemento alimentar (carência de alimentos nutritivos), socialmente aceitável entre os próprios escravizados e provoca embriaguez. Tomando como horizonte conceitual as noções de gramática profunda (Mintz e Price) e memória subterrânea (Michael Pollak), pretendo nesta apresentação expor os resultados parciais do significado do consumo do álcool destilado durante a escravidão brasileira do período imperial, com destaque para a dimensão religiosa e embriagante da ingestão alcoólica. A proposta é fazer a crítica desta ideologia racista da embriaguez escrava identificando traços de uma cultura etílica afro-orientada, forjada no Sudeste escravista e que ainda guarda reminiscências nas práticas contemporâneas. Deste modo pretendemos investigar em que medida esta cultura de consumo alcoólico foi elemento de resistência ao cativeiro

    History of taverns from the gold to the coffee cycle (18th and 19th centuries)

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    O trabalho apresenta uma introdução à história das tavernas no Brasil. A partir de fontes de naturezas diversas, descrevemos o processo de emergência, disseminação e transformação do comércio e da cultura de taverna entre os séculos 18 e 19. As áreas de mineração e as zonas de plantation foram os espaços privilegiados da análise, incluindo a cidade do Rio de Janeiro. Estabelecimentos contraditórios construídos para a ocupação do sertão, ora abrigando momentos de autonomia, ora reproduzindo as imposições do cativeiro, as vendas e tavernas hospedaram a ordem e a desordem, o caminho e o descaminho, o lícito e o ilícito. Ao examinar seus momentos decisivos no campo e na cidade, verificamos que, apesar de estigmatizadas, elas cumpriram funções variadas que garantiram sua longevidade.The thesis presents an introduction to the history of taverns in Brazil. Drawing on sources from several modalities, we described the emergency, dissemination and transformation of tavern commerce and culture in the 18th and 19th centuries. The mining areas and plantation zones were privileged focuses of analysis, including the city of Rio de Janeiro. Contradictory establishments, built for the occupation of the sertão, sometimes housing scenes of autonomy, sometimes reproducing the impositions of captivity, sales and taverns hosted order and disorder, the path and the detour, the licit and the illicit. When examining its decisive moments in the countryside and in the city, we found that, despite being stigmatized, taverns fulfilled a varied range of functions that ensured their longevity

    Moderation in excess: study on the history of drinks in colonial society

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    Esta dissertação investiga alguns aspectos da história das bebidas no século XVIII. A partir de uma caracterização inicial do processo de domesticação da embriaguez na Europa moderna, fornecemos a descrição de elementos do moralismo lusitano respeitantes à questão dos usos de vinho e aguardentes. Disso extraímos a hipótese de que a moderação teria sido o valor que orientou o comportamento alcoólico na sociedade portuguesa. Já na sociedade colonial, examinada nos dois capítulos finais, defendemos que o referido valor cumpriu a função ideológica de mascarar a experiência etílica dos habitantes daquelas paragens, experiência esta marcada por diferentes formas de beber e de embriaguez. Numa sociedade organizada para a expropriação de recursos valendo-se de mão-de-obra escrava, o beber moderado entrou em choque com as diversas circunstâncias apresentadas aos colonizadores nos trópicos.This study investigates some aspects of the history of drinks in the eighteen century. From an initial characterization of the domestication process of being drunk in the modern era, provides the key element of moralism Lusitanian relating to the question of the uses of wine and spirits. From this we extract the hypothesis that moderation would be the value that guided the alcoholic behavior in Portuguese society. In the colonial society, examined in the last part, we argue that the value of the ideological function served to mask the experience of the inhabitants of those areas, this experience marked by different forms of drinking and drunkenness. In a society organized for the expropriation of resources by availing itself of slave labor, moderate drinking has clashed with the different circumstances presented to the colonists in the tropics

    Moderation in excess: study on the history of drinks in colonial society

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    Esta dissertação investiga alguns aspectos da história das bebidas no século XVIII. A partir de uma caracterização inicial do processo de domesticação da embriaguez na Europa moderna, fornecemos a descrição de elementos do moralismo lusitano respeitantes à questão dos usos de vinho e aguardentes. Disso extraímos a hipótese de que a moderação teria sido o valor que orientou o comportamento alcoólico na sociedade portuguesa. Já na sociedade colonial, examinada nos dois capítulos finais, defendemos que o referido valor cumpriu a função ideológica de mascarar a experiência etílica dos habitantes daquelas paragens, experiência esta marcada por diferentes formas de beber e de embriaguez. Numa sociedade organizada para a expropriação de recursos valendo-se de mão-de-obra escrava, o beber moderado entrou em choque com as diversas circunstâncias apresentadas aos colonizadores nos trópicos.This study investigates some aspects of the history of drinks in the eighteen century. From an initial characterization of the domestication process of being drunk in the modern era, provides the key element of moralism Lusitanian relating to the question of the uses of wine and spirits. From this we extract the hypothesis that moderation would be the value that guided the alcoholic behavior in Portuguese society. In the colonial society, examined in the last part, we argue that the value of the ideological function served to mask the experience of the inhabitants of those areas, this experience marked by different forms of drinking and drunkenness. In a society organized for the expropriation of resources by availing itself of slave labor, moderate drinking has clashed with the different circumstances presented to the colonists in the tropics
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