15 research outputs found
Quando poesia rima com trabalho: perspectivas profissionais a partir de um sarau literário
Since the late 1990s, writers coming from low-income background identified mostly as black, and associated with different forms of expression (such as marginal and peripheral literature), have been gaining visibility in the Brazilian cultural scene. Many of them are also engaged in literary collectives organizing literary events in slums and peripheral areas, among other activities, intended to reclaim and resignify the cultural practices associated with economic and cultural elites. Drawing from this context and several cultural policies intended to address the needs of these artists and activists, this article focuses on the career trajectories of Raquel Almeida and Michel Yakini – co-founders of the literary collective Elo da Corrente – to discuss the writers' chances of professionalization in the cultural sector. The data and reflections presented here are based on in-depth interviews carried out at different times in the public performance of these writers, as well as on a series of research projects on the cultural production arising from the peripheries of São Paulo (NASCIMENTO, 2006; 2011 e 2017). In conversation with theories exploring social trajectories (BOURDIEU, 1986), life projects (DAYRELL, 2005a), transition into adulthood (SPOSITO, 2007) and policies addressing the democratization of culture (such as VILUTIS, 2009, ABREU, 2010 and MAIA, 2014), this article explores literary events not only as important spaces for the production and distribution of peripheral literature but, above all, as spaces through which its regular participants build their subjectivities. These events allow participants to explore different ways of being in the world, facilitating emotional ties to the peripheral areas and giving access to new opportunities for political participation, community life and professional experience.Associados a expressões variadas, como literatura marginal e periférica, escritores originários das camadas populares e majoritariamente identificados como negros têm ganhado visibilidade na cena cultural brasileira, desde o final dos anos 1990. Boa parte deles também está engajada em coletivos literários que, entre outras atividades, promovem saraus em periferias e favelas, apropriando-se e dando novos significados a um tipo de prática atribuída às elites econômicas e culturais. Tendo como referência esse contexto, bem como um conjunto de políticas organizadas para responder às demandas desses artistas e ativistas, o artigo enfoca as trajetórias de Raquel Almeida e Michel Yakini, cofundadores do Coletivo Literário Elo da Corrente, para discutir perspectivas de profissionalização na área cultural. Os dados e reflexões aqui apresentadas se baseiam em entrevistas realizadas em diferentes momentos da atuação pública desses escritores, assim como se apoiam em uma série de pesquisas realizadas sobre produção cultural nas periferias paulistanas (AUTORA, 2006; 2011 e 2017). Em diálogo com teóricos que refletiram sobre trajetória social (BOURDIEU, 1986), projeto de vida (DAYRELL, 2005A), transição para vida adulta (Sposito, 2007) e políticas voltadas para a democratização da cultura (como VILUTIS, 2009, ABREU, 2010 e MAIA, 2014), busca-se demonstrar que, mais do que importantes instâncias de produção e difusão de literatura nas periferias, os saraus são espaços a partir dos quais seus frequentadores assíduos agenciam subjetividades, modos de ser e estar no mundo, ao criarem vínculos afetivos com o território periférico e acessarem novas oportunidades de participação política, vivência comunitária e atuação profissional
Apresentação
Apresentação do dossiê Literatura e Periferia, ELBC n. 49
\'Marginal literature\': the writers of periphery enter in scene
Este trabalho busca analisar a apropriação recente da expressão \"literatura marginal\" por escritores oriundos da periferia, tomando como ponto de partida o conjunto de autores que publicaram nas três edições especiais Caros Amigos/ Literatura Marginal, nos anos de 2001, 2002 e 2004. A pista deixada por essas publicações era que, mais do que o perfil sociológico dos participantes ou um determinado tipo de literatura, a junção das categorias literatura e marginalidade por tais escritores encobria uma atuação cultural específica, que está relacionada a um conjunto de experiências e elaborações compartilhadas sobre marginalidade e periferia, assim como a um vínculo estabelecido entre criação literária e realidade social. Por isso, além de apresentar empiricamente essa nova geração de escritores marginais, esta pesquisa visou articular a formação interna do grupo e seu significado mais geral, buscando demonstrar como um conjunto de idéias e vivências compartilhadas possibilitou que moradores da periferia, tradicionalmente excluídos como sujeitos do processo simbólico, pudessem entrar em cena para produzir sua própria imagem, dando origem a uma intensa movimentação cultural em bairros da periferia paulistana.This work intends to analyze the recent appropriation of the expression \"marginal literature\" for deriving writers of the periphery, being taken as starting point the set of authors who had published in three special editions of Caros Amigos/ Literatura Marginal, in the years of 2001, 2002 and 2004. The hint left for these publications was that, more than the sociological profile of the participants or a stricted kind of literature, the junction of the categories literature and marginality for such writers hid a cultural specific performance, which is linked to a set of experiences and elaborations shared on marginality and periphery, as well as a link established between literary creation and social reality. Therefore, besides empirically to present this new generation of writers delinquents, this research aimed at to articulate the internal formation of the group and its meaning more general, searching to demonstrate as a set of ideas and shared experiences made possible that living of the periphery, traditionally excluded as citizens of the symbolic process, they could enter in scene to produce its own image, giving origin to an intense cultural movement in paulistana neighbourhoods of periphery
It\'s all ours! Cultural production of the periphery of São Paulo
Trata-se de uma etnografia que visa interpretar a produção cultural da periferia paulistana, a partir do trabalho desenvolvido pela Cooperifa (Cooperação Cultural da Periferia) nos anos de 2001 e 2011. Entre outras atividades, este autodenominado movimento cultural promove saraus literários que operam como encontros comunitários e oportunizam novas opções de lazer, produção e participação político-cultural. Nesse sentido, busco apreender os discursos acerca da periferia, tanto no que se refere ao espaço social quanto à sua cultura peculiar, construído pelos protagonistas deste movimento no cenário contemporâneo. Observa-se, assim, um processo de produção cultural em que não somente os produtos e circuitos de consumo periféricos apresentam-se como soluções criativas ao mercado cultural, mas, também, coloca novamente os moradores da periferia no centro da cena pública, a partir da elaboração de uma agenda comum.This is an ethnography that aims to interpret the cultural production of the suburbs of São Paulo, from the work done by Cooperifa (Cultural Cooperation in the Periphery) between 2001 and 2011. Among other activities, cultural movement that promotes self-styled literary soirees that operate as community meetings and nurture new leisure facilities, production and participation in political and cultural. In this sense, seeking to understand the speeches about the periphery, both in terms of social space as to its peculiar culture, built by the protagonists of this movement in a contemporary setting. There is thus a process of cultural production that not only the consumer products and peripheral circuits are presented as creative solutions to the cultural market, but also raises again the residents of the periphery in the center of the public stage, from the development of a common agenda
Por uma interpretação socioantropológica da nova literatura marginal
A partir dos anos 1990, a associação do termo "marginal" à literatura em território brasileiro não aponta apenas para os novos mecanismos e estratégias de produção e circulação dos textos. Remete, ao mesmo tempo, à idéia de um grupo de escritores que são originados e identificados com as periferias urbanas brasileiras dou que estão ou estiveram "à margem" da sociedade (pobres, negros, rappers, presidiários, etc.); e à positivação do que é característico dos espaços "marginalizados" (como o linguajar, as gírias, os valores, as formas dc sociabilidade, etc.). Dentre os produtos literários destes escritores destacam-se as três edições especiais da revista Caros Amigos/Literatura Marginal, cujos elementos sociológicos serão tomados, neste artigo, como ponto de partida para uma interpretação socioantropológica do fenômeno da "nova literatura marginal