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O Livro das confissões de Martin Pérez e a disciplina corporal na Península Ibérica do século XIV
As sociedades humanas são permeadas por códigos discursivos que determinam suas bases e guiam os comportamentos de seus integrantes. As relações sociais envolvem crenças, valores e expectativas. Assim, o estabelecimento de significantes e significados culturais é condição sine qua non para a formação da sociedade. Esses significantes quase sempre estão aliados aos interesses das camadas sociais dominantes. A partir desses pressupostos, essa dissertação avalia como o corpo e o sexo são objetos do controle exercido pela Igreja, configurados como uma via para que a instituição obtenha a dominação social. Para essa avaliação, o estudo analisa as relações construídas no embate entre: natureza e impulsos corporais versus comportamento visto como civilizado ou não pecaminoso, segundo o discurso religioso medieval. Mais especificamente, são observados, tendo como fonte o Livro das confissões de Martin Pérez, os discursos acerca do corpo e do sexo produzidos pelos eclesiásticos ibéricos no século XIV. A partir dessa obra, busca-se indicar a disciplina corporal proposta pela Igreja. Para tanto, são aplicados os pressupostos da análise do conteúdo como método de análise da fonte histórica em questão. O estudo ora apresentado busca, portanto, responder à seguinte questão: Como o discurso eclesiástico, ao disciplinar os corpos e regulamentar a prática sexual, se propõe a servir ao ideal civilizador? Acreditamos que, a partir da confissão técnica pela qual a Igreja foi capaz de aprofundar sua dominação ideológica , da condenação do prazer e do controle estrito das práticas sexuais, a Igreja propôs o distanciamento cada vez maior do corpo para com o estado de natureza, imprimindo o ideal sociocultural na vida cotidiana dos fiéis