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    Desdizendo a performance: macumba e a proliferação do incerto

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    Trilhando pelos caminhos da produtiva incerteza da performance enquanto prática e conceito, aqui me volto para o que se des-faz em palavras, pondo de ponta cabeça a clássica definição de Austin da força do ato performativo. O encontro nas macumbas cariocas entre entidades e clientes é marcado pela instabilidade da linguagem e pelo risco da palavras na própria busca do desvelar dos caminhos futuros na consulta com essas entidades. O encontro recente com uma entidade em que ela diz desdizer o que havia revelado à cliente me leva a refletir sobre essas consultas como um colocar em prática da potência do incerto. O ato (anti)performativo de des-dizer pode ser lido como um colocar de novo em jogo o desconhecido, deslocando cliente e entidade do aprisionamento da certeza e colocando-as de volta no movimento de fabulação que está no cerne da consulta com as entidades.  Following the productive uncertainty of performance as practice and concept, here I turn to what is undone in words, turning upside down John Austin's classic definition of the power of the performative act. The encounter in macumba centers in Rio de Janeiro between entidades [spiritual entities] and their clients is marked by the instability of language and the danger of words in the very search to unveil future paths in consultation with these entidades. The recent meeting with an entidade in which she un-says what she had revealed to the client leads me to reflect on these consultations as a mode of putting into practice the power of the uncertain. The (anti)performative act of unsaying can be read as putting the unknown back into play, diverting client and entidade from the imprisonment of certainty and into the fabulation that is at the heart of consultations with the entidades

    Narrar o mundo: estórias do "povo da rua" e a narração do imprevisível

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    Enquanto narrativas podem ser pensadas como produtoras de "ordenamentos" e como manifestações simbólicas de formas ideológicas, por outro lado, podemos também enfatizar a dimensão poética da narrativa, apontando a produção de significados e a proliferação de signos mediados pelo ato de narrar o mundo. A partir desta perspectiva teórica, este ensaio busca explorar as muitas estórias sobre os chamados espíritos do "povo da rua", enfatizando a dimensão performativa da narrativa. Contadas por "clientes", "filhos-de-santo" e pelos próprios "espíritos", tais narrativas não são meramente simbólicas ou representativas, mas também constitutivas do próprio "poder sobrenatural" tido como inerente aos espíritos. Mais do que narrar uma "realidade" supostamente exterior a elas, as estórias tornam-se parte inextricável da "realidade" que narram. Ao deslocar o foco para além dos rituais demarcados espacial e temporalmente, a narrativa etnográfica busca aqui articular um espaço interpretativo onde se possa evocar a socialidade do narrar o mundo.<br>Although narratives can be conceived both as a mode of 'ordering' meaning and as symbolic manifestations of ideological forms, the poetic dimension of narrativity also involves the production of meanings and a proliferation of signs mediated by the act of 'narrating the world.' Adopting this theoretical premise, the essay seeks to explore the many stories of the so-called spirits of the 'povo da rua' ('street people'), emphasizing the performative dimension of narrative. Recounted by 'clients,' 'practitioners' and the spirits themselves, such narratives are not only symbolic or representative, but also constitutive of the 'supernatural power' attributed to the spirits. More than narrate a reality external to the stories, the narratives themselves become an inextricable part of the reality they narrate. By shifting the focus away from the framed space and time of ritual, the ethnographic narrative also seeks to evoke the very sociality of this narrating of the world
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