Modelos de explicação científica, inferência da melhor explicação e a história da dupla-hélice do DNA

O presente artigo objetiva realizar um estudo de caso que aplica o modelo de inferência da melhor explicação (inference to the best explanation, IBE) de Peter Lipton ao episódio histórico da construção do modelo de dupla-hélice do DNA, no século XX. Procura avaliar a eficiência de tal modelo quando confrontado com a história da ciência e em que medida é capaz de rivalizar com ou superar outros modelos de explicação já consolidados na literatura de filosofia da ciência, tais como os modelos nomológico-dedutivo e indutivo-estatístico de Carl Hempel, o modelo de relevância estatística de Wesley Salmon, ou, ainda, o modelo pragmático de explicação de Bas van Fraassen. Por fim, a conclusão apresentada é que o modelo de inferência da melhor explicação se mostra mais eficaz para ilustrar esse episódio da história da genética do que as outras propostas filosóficas analisadas

FÍSICA DE CRENTE: PIERRE DUHEM

O ensaio Física de Crente integra a obra Ensaios de Filosofia da Ciência, publicado em 2019 pela Associação Filosófica Scientiae Studia e conta com uma introdução e tradução do prof. Dr. Fábio Rodrigo Leite. O ensaio se trata de um interessante e polêmico texto do filósofo da ciência francês Pierre Duhem que foi originalmente publicado em 1905 nos Annales de Philosophie chrétienne (77e année, 4e série, t. I, p. 44 et p. 133) como uma resposta a um texto de Abel Rey, publicado em 1904 na Revue de Métaphysique et de Morale, em este que criticava alguns pressupostos e concepções filosóficas de Duhem como influenciadas e subordinadas aos dogmas cristãos, mais precisamente, da Igreja Católica Apostólica Romana. Duhem interpretou as críticas de Rey como se referissem ao seu sistema físico e buscou respondê-las dessa forma. Como nos atesta Leite (2019, p. 59), Rey posteriormente esclareceu que não estava a atacar o sistema físico de Duhem, mas sim suas concepções filosóficas. De qualquer modo, o conteúdo do ensaio Física de Crente é extremamente interessante ao passo que o autor, mesmo sendo um católico fervoroso e exímio filósofo e cientista, busca demonstrar que o desenvolvimento da Física independe dos dogmas cristãos, embora não seja incompatível com eles.             Na presente resenha, cada seção corresponde a uma seção do texto original do autor

UMA ANÁLISE LATOURIANA DO CONCEITO DE CONHECIMENTO ANTERIOR E SEU EMPREGO NO REALISMO CIENTÍFICO

A necessidade de uma análise do conceito de Conhecimento Anterior se torna evidente quando, ao adentrarmos no debate do Realismo Científico (mais precisamente na discussão acerca dos limites da Inferência da Melhor Explicação), alguns filósofos passam a utilizá-lo sem fornecer uma definição adequada que possibilite vislumbrar o alcance epistemológico de tal categoria. Portanto, o presente artigo busca trazer um estudo acerca do conceito de conhecimento anterior com base na obra do filósofo e sociólogo francês, Bruno Latour. O autor nos apresenta, em sua obra Ciência em Ação (1987), estruturas que buscam elucidar o processo de desenvolvimento da dinâmica científica, levando em consideração tanto os aspectos epistemológicos, quanto os aspectos sociais envolvidos. A partir de uma análise de tais estruturas e do emprego delas em um episódio da história da ciência (a consolidação da dupla-hélice de DNA), oferecemos uma definição do conceito de conhecimento anterior que se propõe a indicar os limites da justificação do realismo científico com base no uso dessa noção conceitual. Oferecemos, além disso, uma sistematização conceitual da supracitada obra latouriana

UM SINCERO ADEUS À “VERDADE APROXIMADA”?

Tradução do artigo A Fond Farewell to ‘Approximate Truth’?, de autoria do filósofo da ciência P. Kyle Stanford e publicado originalmente na Spontaneous Generations: A Journal for the History and Philosophy of Science (v. 9, n. 1, 2018)

APRESENTAÇÃO

Apresentaçã

Abdução, inferência da melhor explicação e argumentos realistas:: arguição ao artigo “a inferência abdutiva em Peirce” de Josiel Camargo

Este breve artigo é uma arguição ao artigo “A inferência abdutiva em Peirce” de autoria de Josiel dos Santos Camargo publicado na Revista Diaphonía v. 7, n. 2, em 2021. Argumentarei que o autor cometeu um equívoco ao identificar o conceito de abdução com a inferência da melhor explicação e isso acarretou na incorreta identificação entre abdução e os argumentos realistas do milagre e da coincidência cósmica

Uma análise do argumento do conjunto defeituoso de Van Fraassen e seu impacto no realismo científico

Ao longo do debate em torno do realismo científico, os adeptos de tal vertente filosófica buscaram inúmeras vezes fundamentar sua posição através do famoso argumento da Inferência da Melhor Explicação (Inference of the Best Explanation - IBE), o qual se propõe como um reflexo da prática inferencial científica através da eliminação de hipóteses rivais. Bas van Fraassen (1989) elaborou uma crítica a essa defesa, com o assim denominado Argumento do Conjunto Defeituoso (Bad Lot), no qual o autor questiona a possibilidade de IBE esgotar todas as possíveis alternativas de comparação, pois a hipótese adotada pode ser a melhor de um conjunto defeituoso avaliado. Os realistas objetaram ao argumento, primeiramente, alegando que a posição empirista de van Fraassen sofre as mesmas consequências que a posição realista e, sobretudo, que tal argumento não tem relação com a prática científica real, não sendo mais do que uma objeção de cunho lógico e abstrato, por não considerar o conhecimento anterior consolidado. O presente artigo visa, em um primeiro momento, a reconstrução dos argumentos da IBE e Bad Lot, bem como suas críticas, mostrando suas lacunas e indicando que uma possível solução seja um estudo minucioso do conceito de conhecimento anterior

O REALISMO CIENTÍFICO E SEUS RIVAIS

According to scientific realism, natural sciences seek the truth about the physical world, and successful scientific theories depict and account for, approximately at least, the natural reality. On the basis of this general thesis, scientific realists place themselves as opponents of three schools of philosophical thought about science: anti-realism, historiographical approach and social constructivism. This paper puts itself three aims: i) outlining how scientific realism introduces these disputes; ii) defending the thought a that, although the first dispute (with anti-realism) can be understood as a genuine one, the other two (with the historiographical approach and with social constructivism) carry some details that undermine the very notion of dispute as intended by scientific realists; iii) giving an account to what will be argued for at item (ii) and that is the account: for scientific realists there would be no details at all and thus either one supports scientific realism or one refuses scientific realism; in other words: whatever cannot be assimilated by scientific realism would be understood as a kind of an anti-realistic philosophy.Para o realismo científico as ciências naturais buscam a verdade sobre o mundo físico e as teorias científicas bem-sucedidas descrevem e explicam, ao menos de modo aproximado, a realidade natural. Com base nesta tese geral, os realistas científicos se colocam como rivais de três escolas de pensamento filosófico sobre a ciência: o antirrealismo, a concepção historiográfica e o socioconstrutivismo. Este artigo possui três objetivos: i) descrever como o realismo científico apresenta estas rivalidades; ii) defender a ideia de que, embora a primeira rivalidade (com o antirrealismo) possa ser considerada como tal, as outras duas (com a concepção historiográfica e com o socioconstrutivismo) possuem nuances que enfraquecem a própria noção de rivalidade tal como pretendida pelos realistas científicos; iii) oferecer uma explicação para o que será defendido no item (ii), a qual seria a seguinte: para os realistas científicos não existiriam as nuances (do item (ii)) e assim ou se defende o realismo científico ou se rejeita o realismo científico; em outras palavras: tudo o que não pode ser assimilado no interior do realismo científico é considerado uma forma de antirrealismo.   DOI: https://doi.org/10.29327/2194248.5.2-1

INFERÊNCIA DA MELHOR EXPLICAÇÃO E INFERÊNCIA DA ÚNICA EXPLICAÇÃO

O artigo apresenta os modelos da inferência da melhor explicação de Peter Lipton e da inferência da única explicação de Alexander Bird, mostrando que a diferença entre ambos é, em um primeiro momento, meramente semântica, mas, no desenvolvimento da discussão, revela sua origem nas diferentes fontes filosóficas utilizadas por ambos os autores

Discrepancy between cranial and DNA data of early Americans: Implications for American peopling

Currently, one of the major debates about the American peopling focuses on the number of populations that originated the biological diversity found in the continent during the Holocene. The studies of craniometric variation in American human remains dating from that period have shown morphological differences between the earliest settlers of the continent and some of the later Amerindian populations. This led some investigators to suggest that these groups - known as Paleomericans and Amerindians respectively - may have arisen from two biologically different populations. On the other hand, most DNA studies performed over extant and ancient populations suggest a single migration of a population from Northeast Asia. Comparing craniometric and mtDNA data of diachronic samples from East Central Argentina dated from 8,000 to 400 years BP, we show here that even when the oldest individuals display traits attributable to Paleoamerican crania, they present the same mtDNA haplogroups as later populations with Amerindian morphology. A possible explanation for these results could be that the craniofacial differentiation was a local phenomenon resulting from random (i.e. genetic drift) and non-random factors (e.g. selection and plasticity). Local processes of morphological differentiation in America are a probable scenario if we take into consideration the rapid peopling and the great ecological diversity of this continent; nevertheless we will discuss alternative explanations as well.Facultad de Ciencias Naturales y Muse