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O MAPA DA TRIBO DE SALGADO MARANHÃO: canto de um regresso
discute-se a obra O mapa da tribo (2013), do poeta maranhense Salgado Maranhão, à luz de um problema bastante antigo, mas que se remodela e se reatualiza ao longo de épocas literárias diversas. Trata-se da perda do vínculo comunitário que era próprio da poesia antiga, vínculo esse que começa a se desfazer com a transição da poesia oral para sua circulação e consumo em livro. Tal processo desencadeia o dilema do eu divido do qual irão se ocupar diversos poetas. Mostra-se como as produções poéticas moderna e contemporânea lidaram com tal dilema e como ele se formula nos poemas de O mapa da tribo. Explorando o tema poético da viagem de retorno, aventa-se a possibilidade de o livro em questão ser uma “resposta” poética a esse antigo dilema
DOIS PERSONAGENS E DUAS SENTENÇAS: SÓCRATES, ZÉ BEBELO E O TEMA DO JULGAMENTO
RESUMO: Este artigo estabelece um cotejo entre o episódio do julgamento de Zé Bebelo (da obra Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa) com o evento do julgamento de Sócrates tal como chegou até nós pelos discípulos Platão e Xenofonte. Discutem-se as semelhanças entre os julgamentos e põe-se em evidência a reflexão política e filosófica que está em jogo em ambas as situações, especialmente nos desenlaces distintos que apresentam. Foram utilizados comentários e informações de I.F.Stone em seu livro O julgamento de Sócrates.
Vestígios do topos do panegírico na poesia de Geraldo Carneiro
Este artigo analisa o poema “a ideia da mulher”, de Geraldo Carneiro, inserido em Balada do impostor (2006), procurando observar sua relação com a tópica trovadoresca do panegírico da mulher amada estudada por Segismundo Spina (2009). Procura interpretar o poema, contrastando o modo e o efeito que o aproveitamento do tópico pode acarretar na produção de versos contemporâneos baseados em temas de origem tão remota (século XIII) e de suporte ideológico tão distinto: a misoginia que atravessa o elogio idealista dos trovadores
Em virtude do muito desejar: a personagem Flora, do romance Esaú e Jacó, de Machado de Assis, à luz do desejo mimético
Em estudo sobre as metáforas machadianas, Dirce Côrtes Riedel (1979) identifica, no capítulo LXXXIII de Esaú e Jacó, a presença de nove grandes paradoxos estruturantes do modo como é narrada a situação vivida por Flora, no decorrer de uma noite de insônia, em que sofre a angústia da cisão interna de seu desejo oscilante entre os irmãos Paulo e Pedro. Este trabalho parte da premissa de que a personagem corresponde à personificação do desejo e que o paradoxo funciona, na literatura e na poesia, como um eficiente recurso de figuração desse impulso humano. Pretendemos mostrar de que maneira o dilema da “inexplicável” Flora diz respeito ao próprio modo de ser e à própria dinâmica de funcionamento do desejo. Para alcançarmos esse objetivo utilizaremos a teoria do desejo mimético, tal como a desenvolveu René Girard em seus principais livros, Mentira romântica e verdade romanesca e Coisas ocultas desde a fundação do mundo.
ÊXTASE E ENTUSIASMO EM ALEXEI BUENO E HILDA HILST
The present article aims to discuss the “ecstasy” and “enthusiasm” topics in both classical tradition and the Brazilian contemporary lyric through the topic investigation, based on Ernst Robert Curtius’ studies, providing the connections with Dionysus and his representations in lyric poetry, especially in the works of the Brazilian contemporary poets Hilda Hilst (2017) and Alexei Bueno (2003; 2006). Plato’s dialogues, Íon (1988) and Fedro (2011); Aristotle’s works, Poética (2005) and O Problema XXX (1998); and Horace’s Arte Poética (2005), served as the theoretical framework in terms of setting the matter into the ancient tradition, and the works of Carl Kerényi, Dioniso (2002), Junito Brandão, Mitologia Grega (1987), and Marcel Detienne’s Dioniso a céu aberto (1988), were used to catalogue the mythical narratives characteristics, in order to assist the corpus analysis. Thus, it is proposed a reading of the poems through the referred theoretical perspective to identify how this topos has been appropriated by these contemporary authors.O presente artigo objetiva discutir os temas do “êxtase” e do “entusiasmo” tanto na tradição clássica quanto na lírica brasileira contemporânea a partir da investigação tópica, com base nos estudos de Ernst Robert Curtius, estabelecendo as conexões com Dioniso e suas representações na lírica, especialmente na dos poetas brasileiros contemporâneos Hilda Hilst (2017) e Alexei Bueno (2003; 2006). As obras de Platão, Íon (1988) e Fedro (2011); de Aristóteles, Poética (2005) e O Problema XXX (1998); e de Horácio, Arte Poética (2005), serviram como aporte teórico para a colocação do problema nos contornos da tradição antiga, e as obras de Carl Kerényi, Dioniso (2002), de Junito Brandão, Mitologia Grega (1987), e de Marcel Detienne, Dioniso a céu aberto (1988), serviram para elencar características das narrativas míticas com o intuito de auxiliar a análise do corpus. Propõe-se, portanto, uma leitura dos poemas a partir do viés teórico referido a fim de identificar como esse topos foi apropriado por esses autores contemporâneos
A poética de Mariana Luz
O presente estudo faz uma análise crítica da criação poética da autora maranhense Mariana Luz. A poetisae professora de Itapecuru Mirim tornou-se em 1948 a segunda mulher e primeira negra a ocupar um lugarna Academia Maranhense de Letras. O objetivo deste trabalho é, através de uma análise criteriosa da poesiade Mariana Luz, tendo como base autores consagrados da Teoria Literária como Segismundo Spina,Ernest Curtius, Alfredo Bosi, Afrânio Coutinho, Massaud Moisés e outros, apontar o estilo literário dapoetisa maranhense, demonstrando sua estética, sua subjetividade, as temáticas mais visitadas, e destacar,desta maneira, uma obra que merece ser conhecida e valorizada tanto por seu teor estético quanto por seuvalor de resgate da história e da memória social. O presente trabalho não abordará questões bibliográficassobre a autora, tampouco pretende estudar toda sua obra que inclui poesia, dramaturgia, crônicas, orações,cantos litúrgicos. Tendo como corpus de estudo somente a poesia de Mariana Luz, encontrada no livro deJucey Santana (2014), Mariana Luz vida e obra, e em jornais e revistas da época e nos manuscritos daautora, este trabalho certamente contribuirá para a cultura, a literatura e a memória maranhenses
Tópicas da temporalidade na poesia contemporânea de língua portuguesa
Durante a tradição clássica a imitação de modelos e formas literárias alimentava a produção dos artistas, apoesia era, sobretudo, imitativa. Um poeta, para ser classificado como bom, deveria saber imitar o que osseus mestres faziam. Posteriormente com o romantismo é a ideia de originalidade que se impõe como critériopara a criação, pois o movimento romântico defendeu uma literatura acima de tudo original e propôsque os lugares-comuns não deveriam mais ser utilizados como parâmetro para a criação. Entretanto, apesardessa grande ruptura romântica com o clássico, há na poesia contemporânea a recorrência de topoi líricos,o que põe em xeque o conceito de o que é ser original em literatura e se realmente é possível sê-lo. Importanos,no entanto, demonstrar que mesmo depois da descontinuidade romântica com o tradicional, ainda hána poesia atual autores que se valem de lugares-comuns da lírica clássica para compor suas obras. O toposou lugar-comum, conforme nos informa Ernst Robert Curtius em seu livro Literatura Européia e IdadeMédia Latina, é proveniente da literatura antiga – da lírica principalmente – e são comumente visitados porpoetas de várias épocas, inclusive da atualidade. Desta maneira, no decorrer de toda a pesquisa, buscou-seinvestigar a recorrência dos lugares-comuns carpe diem e exegi monumentum na poesia contemporânea. Ocarpe diem, presente na ode n° 11 do Livro das Odes de Horácio significa viver o dia, colher o dia, ou seja,aproveitar o hoje, viver o momento e deixar de se preocupar tanto com o futuro. O exegi monumentum, porsua vez, foi uma expressão utilizada por Horácio em sua Ode 3.30 que ressalta o caráter imortalizador dapoesia. Interessa-nos, contudo, demonstrar a maneira como autores modernos, mesmo depois da originalidadeser parâmetro para criação, valem-se dos lugares-comuns consagrado por Horácio, manipulando-os edando a eles novas direções semânticas ao colocar seu talento pessoal e as ideias de sua época
Todorov e sua defesa contemporânea da poesia: uma análise da conferência ‘Poderes da poesia’
Este artigo analisa a conferência proferida por Tzvetan Todorov no Rio de Janeiro, no dia 7 de junho de 2011, como uma variação contemporânea de uma modalidade de crítica literária consagrada como “defesa” da poesia e que tem em A defense of poesy (cerca de 1582-1583) de Sir Philip Sidney e A defence of poetry (1821) de Percy Bysshe Shelley alguns, embora não os únicos, exemplos paradigmáticos. Propõe-se, para tanto, uma leitura do texto de Todorov à luz da estrutura e dos argumentos dessas duas defesas de modo a estabelecer uma filiação do texto de Todorov à tradição das “defesas” na crítica literária, ainda que tais textos não tenham funcionado como modelos diretos de imitação para a crítica do autor búlgaro. Os comentários de Enid Abreu Dobránszky acerca desse “gênero” da crítica serviram de base para a hipótese aqui aventada