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    O acento da participação na gramática dos média

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    O conceito de comunicação participativa constitui, em parte, uma redundância. No sentido lato do termo participação como ação de tomar parte, todo o fenómeno de comunicação é, por definição, participativo. Processo intersubjetivo, que implica a interação de sujeitos, a comunicação supõe, por isso, uma ligação que se estabelece na base da partilha. Interpessoal ou de âmbito público, naquilo que ele tem de adjacente ao ato de significar, o ato de comunicar nada tem de unilateral; corresponde sempre à mútua implicação de coenunciadores que se encontram na troca de chaves do sentido. Por outro lado, escutar, ler, ver, enfim receber, são em si formas de participação na ação de comunicar, porque textos, sons ou imagens são, como o romance para Umberto Eco, “máquinas de gerar interpretação” (Eco, 1995), que exigem um mecanismo cooperativo entre aqueles que de modo simplista situamos nas funções de “emissor” e de “recetor”.info:eu-repo/semantics/publishedVersio

    A história surda dos estudos de rádio e os desafios da investigação sobre as significações do ouvir

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    Com mais de 90 anos, a rádio tem sido um meio negligenciadopelos estudos dos média. No contexto dos média tradicionais, énão só um meio “invisual” mas também o meio menos “visível”da produção científica em comunicação. Neste artigo, reflete-sesobre a produção de conhecimento nessa área e sobre os desafios doestudo de uma cultura do ouvir em tempos dominados pelo olhar.O ponto de vista dessa abordagem funda-se na autorreflexividadecientífica e numa análise sociossemiótica do meio rádio.With more than 90 year-old history, radio has been neglected by media studies. Within mainstream media, radio is not only a blind medium but an invisible medium too in terms of scientific production on communication. This article reflects on the production of knowledge in this area and the challenges of studying a culture of listening in times dominated by the look. The point of view of this approach is based on scientific self-reflexivity and sociosemiotics analysis of radio

    Da figura do Ombudsman de Média às singularidades do provedor Paquete de Oliveira

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    Herdada da máquina da administração pública e da política, a figura do ombudsman de média corresponde essencialmente a um instrumento de autorregulação que convoca o próprio público a participar no processo de reflexão crítica sobre os meios de comunicação e as suas práticas. Adotando em Portugal a designação específica de provedor, esta posição tem sido entendida como a de um mediador entre os órgãos de comunicação social e as respetivas audiências. Embora algumas abordagens tendam a ver no ombudsman uma atividade de marketing das empresas de média (uma espécie de “atenção ao cliente”), na sua origem esta função está vinculada à necessidade de acolher as perceções de leitores, ouvintes e telespectadores sobre o desempenho dos meios e dos seus profissionais e contribuir para promover uma consciência crítica sobre a atuação dos média. A experiência de ombudsman de média tem em Portugal 20 anos. Iniciou-se na imprensa e estendeu-se aos meios audiovisuais de natureza pública em 2006. Ainda que nem todos os órgãos tenham “subscrito” a iniciativa de incorporar esta função, desde 1997, no conjunto da imprensa, rádio e televisão, foram designadas duas dezenas de provedores. Sem a pretensão de uma análise exaustiva, este artigo foca-se no propósito de refletir em termos gerais não só sobre a função em si mesma mas também sobre o perfil de quem a assume. É a este pretexto que se toma por referência a experiência inaugural do Provedor do Telespectador, repetida mais tarde no jornal Público, para apreciar as singularidades do provedor Paquete de Oliveira.Inherited from the public administration and politics, the position of the media ombudsman corresponds essentially to an instrument of self regulation that invites the public itself to participate in the process of critical reflection on the media and its practices. Adopting in Portugal the specific name of provedor, this position has been understood as consisting in a mediator between the media and the correspondent audiences. Although some approaches tend to see in the ombudsman an activity of marketing of the media companies (a kind of “customers service”), in its origin this function is linked to the need to understand the perceptions of readers, listeners and viewers on the performance of the media and their professionals and contribute to promote a critical awareness of media role in society. The media ombudsman experience has in Portugal a 20 year-old history. It began in the press and was extended to public service audiovisual media in 2006. Although not all media companies have “subscribed” the initiative to incorporate this function, since 1997, in the press, radio and television, two dozens of ombudsmen were already assigned. Without pretending to do an exhaustive analysis, this article focuses on the purpose of reflecting in general terms not only on the function itself but also on the profile of the one who assumes it. This is the opportunity to take as a reference the inaugural experience of the TV ombudsman, repeated later in the newspaper Público, to appreciate the singularities of the ombudsman Paquete de Oliveira.info:eu-repo/semantics/publishedVersio

    Bilhete de afetos. O postal e a arte de seduzir

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    [Excerto] A história que os livros contam do postal ilustrado é a história de um meio ao mesmo tempo elegante e discreto. Sem o impacto estrondoso de outros meios como a rádio e a televisão, ou como as redes sociais, o bilhete-postal responde por um conjunto de transformações que mudaram não apenas as práticas de comunicação interpessoal como também os fluxos de comunicação pública e institucional. Gentil na aparência e expedito no formato, o postal exibiu com charme uma aptidão especial para corresponder aos apelos da modernidade. Foi, num período auspicioso para as artes e o espetáculo em geral e para a comunicação gráfica e visual em particular, o suporte da sedução ao serviço do progresso. Numa edição da revista Ilustração Portugueza de 1917. dizia-se que “o bilhete-postal é a graça, o sorriso, a banalidade e o perfume postos ao serviço da saudade, do negócio, da sociabilidade e do amor”. [...]Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT

    Metajornalismo: do discurso normativo à autorreferencialidade como condição ética

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    O reconhecimento do poder do jornalismo como atividade constitutiva, isto é, como prática que age sobre o curso da história, conduziu a uma necessidade crescente de refletir sobre a ética dos procedimentos de recolha e tratamento da informação. Alvo de críticas frequentes enunciadas por escritores e intelectuais que, no século XIX, encaravam o jornalismo como uma literatura rafeira, os jornalistas passaram, a partir da segunda metade do século XX, a estar sob o olhar escrutinador da sociedade. Se a sua condição sempre foi, de algum modo, a de “vigilantes” dos poderes instituídos, a de uma espécie de “novos cães de guarda”, no dizer de Serge Halimi (1998), com o tempo, a consciência de que a vigilância também pode ser encarada como o exercício de um poder contribuiu para uma ideia de que também seria necessário “vigiar os vigilantes”. Quer na perspetiva profissional quer na perspetiva científica, desenvolveu-se então um discurso profundamente normativo em relação ao jornalismo e aos jornalistas. A definição de um estatuto profissional específico arrastou consigo a fixação de códigos de ética e deontologia que atribuíram a esta atividade um sentido de dever ser. Em consequência, alargou-se a toda a opinião pública a perceção de que tanto a conduta dos jornalistas como os efeitos da produção jornalística e da ação dos média se inscrevem num conjunto de normas reguladoras que explicitam os limites da atividade. Neste artigo, revisitamos o percurso que conduziu a uma perspetiva normativista do jornalismo. Por outro lado, reconhecendo que o jornalismo ganhou progressivamente valor-notícia, retomamos o conceito de metajornalismo para explorar uma via alternativa ao discurso convencional da norma. Com efeito, ao considerar o jornalismo sobre o jornalismo como uma prática autorreferencial, tomamo-lo no avesso do exercício normativista, deslocando o paradigma dos estudos jornalísticos de uma ética transcendental para uma ética situacional.The recognition of journalism’s power as a constitutive activity—that is, as a practice that shapes the course of history—has heightened the need to reflect on the ethics of the procedures involved in the collection and construction of news. Whereas, in the nineteenth century, journalism was the target of criticism from writers and intellectuals who considered it as coarse literature, from the second half of the twentieth century onwards, journalists began to be scrutinized by society. If the role of journalists had always been, as it were, to monitor the powers that be, to act as kinds of “new watchdogs” in the words of Serge Halimi (1998), it appeared over time that surveillance could also be considered as an exercise of power, and as such, that the “watchers” needed to be “watched.” In this regard, a deeply normative discourse developed in both professional and scientific circles. A specific professional status was defined, bringing along codes of ethics which garnered journalistic practice with a sense of duty. As a result the general public perception is that the role of journalists, the effects of journalistic production and the way media act are all accountable to regulatory norms that set the boundaries of the activity. In this article, we revisit the history that led to the emergence of a normative perspective of journalism. While acknowledging that journalism has gained progressively in “news value,” we propose a return to the concept of meta-journalism in order to explore an alternative to the classical discourse of the norm. Indeed, by considering “journalism on journalism” to be a self-referential practice, we adopt an inverse approach to the normative exercise by shifting the paradigm of journalism studies from a transcendental ethos to a situational one.La reconnaissance du pouvoir du journalisme comme activité constitutive, c’està- dire comme une pratique qui agit sur le cours de l’histoire, a fait croitre la nécessité de réfléchir sur l’éthique des procédures de collecte et de traitement de l’information. Cibles de critiques fréquentes énoncées par des écrivains et des intellectuels qui, au XIXe siècle, considéraient le journalisme comme une littérature bâtarde, les journalistes sont passés, à partir de la seconde moitié du XXe siècle, sous le regard scrutateur de la société. Si le rôle des journalistes a toujours été, en quelque sorte, celui de ‘vigie’ des pouvoirs institués, une espèce de « nouveaux chiens de garde », selon les mots de Serge Halimi (1998), une prise de conscience du fait que la surveillance peut également être considérée comme l’exercice d’un pouvoir, et qu’en cela, elle rend nécessaire de « regarder les vigies » est apparue. Tant dans les perspectives professionnelles que scientifiques s’est développé un discours profondément normatif par rapport au journalisme et aux journalistes. La définition d’un statut professionnel spécifique a entrainé la mise en place d’une éthique et de codes de déontologie qui ont associé à cette activité un sens du devoir être. En conséquence s’est répandue la perception, dans toute l’opinion publique, que tant le rôle des journalistes que les effets de la production journalistique et de l’action des médias font partie d’un ensemble de normes réglementaires qui régissent les limites de l’activité. Dans cet article, nous revisitons l’histoire qui a conduit à l’émergence d’une perspective normative du journalisme. Tout en reconnaissant que le journalisme a gagné progressivement en « news value », nous proposons de revenir au concept de métajournalisme afin d’explorer une voie alternative au discours classique de la norme. En effet, lorsque l’on considère la pratique du journalisme sur le journalisme comme une pratique autoréférentielle, nous adoptons la démarche inverse de l’exercice normatif, en faisant glisser le paradigme des études du journalisme d’une éthique transcendantale à une éthique situationnelle

    A impiedade das críticas ou a consciência da auto-regulação? O processo Casa Pia e o julgamento metajornalístico

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    (Excerto) Na sua justa e verdadeira atitude, o jornalismo aspira acima de tudo à procura do verdadeiro e do justo. É sua vocação primeira informar, revelar a genuinidade da vida. Mas a informação não existe jamais em si. Ela resulta, segundo Dominique Wolton, de uma construção de homens que tentam compreender o mundo para o dizer a outros homens. A informação funda-se, pois, no pressuposto de um poder, aparentemente exclusivo dos jornalistas: o poder de olhar o mundo e dizer dele o que se espera que todos devam saber. Este poder, que uns designaram por quarto (vigilante dos três poderes fundacionais do Estado democrático- liberal) e que outros3 entenderam sobrepor- se veemente às autoridades executiva, legislativa e judicial, é para Dominique Wolton a prova de que os jornalistas são os grandes vencedores do último meio século

    Colónias de som: o papel da rádio na expressão sonora das lusofonias

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    Funcionando hoje como uma presença discreta e talvez não tanto como um meio de comunicação de primeiro plano, a rádio tem, no entanto, desempenhado um papel fundamental na construção de comunidades sonoras no espaço lusófono. Estreitamente ligada à indústria da música, mais do que qualquer outro meio, a rádio tem manifestado neste domínio uma excecionalidade nem sempre devidamente reconhecida. Numa altura em que estamos todos centrados na imagem como forma quase absoluta de expressão, parecemos esquecer que uma dimensão muito significativa da nossa identidade se faz através da sonoridade que há nas coisas e nos lugares. Ao reconhecer, portanto, que as lusofonias também são constituídas por esta alma invisível, procuraremos nesta comunicação construir um argumento em torno das potencialidades da rádio para o reforço de laços históricos e simbólicos. Desenvolveremos a este título uma atenção particular ao conceito de rádio comunitária, tomando como exemplo a Rádio Ás, uma emissora online que resulta de uma parceria entre três municípios – Aveiro-Portugal; Santa Cruz (Cabo Verde); e São Bernardo do Campo (Brasil) – e se define como um veículo da lusofonia. O objetivo é pensar as estações de rádio como colónias de som habitadas por um espírito que só o ouvido pode conhecer

    Ecos e sotaques do local : o insustentável sonho da radiodifusão de proximidade

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    (Excerto) O declínio do conceito de comunicação social de massas acontece mais ou menos em simultâneo com a consolidação da radiodifusão de proximidade. Com um propósito que contrariava a ideia de disseminação de informação para um público excessivamente indiferenciado, as iniciativas locais de emissão radiofónica lançaram um movimento de promoção do conceito de comunidade equivalente ao que hoje se encontra no espírito das redes sociais. Continuando um processo de regionalização da comunicação iniciado pela imprensa local, que desde cedo procurou dar visibilidade à vida da pequena geografia das regiões, as rádios locais deram um impulso decisivo para a fragmentação das audiências e para a diferenciação da oferta de conteúdos. A situação crítica que as rádios locais atuais experimentam, não apenas em Portugal como em muitos outros países ditos desenvolvidos, esconde a responsabilidade que estes projetos tiveram na multiplicação dos centros de produção de conteúdos e dos canais de difusão de informação e entretenimento. As duas últimas décadas do século XX foram exemplares na história dos média tanto do ponto de vista tecnológico como em termos de dinamismo e diversidade. Para além dos canais privados de televisão em sinal aberto, que apareceram na década de 1990, e da criação de novos títulos de imprensa, como o Independente e o Público, por exemplo, o final do século foi particularmente animado por uma profusão sonora incomparável a qualquer outro momento da história da rádio.Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT

    O imaginário lusófono na expressão dos postais ilustrados

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    Apesar de não serem uma invenção moderna é à Modernidade que efetivamente pertencem os postais ilustrados. Emprestando à escrita epistolar um tom mais informal, os postais ilustrados significaram, grosso modo, a massificação da correspondência interpessoal, graças sobretudo às potencialidades da ilustração como recurso para veicular informações que a linguagem verbal tornaria inacessíveis à população analfabeta. Ora, se, no século XVIII, registamos o aparecimento dos primeiros cartões de visita com decorações em torno dos nomes3, no século XIX, a história da ilustração consolida-se definitivamente com a invenção da fotografia. É que, passando a ser uma técnica francamente industrializada, a fotografia acabou por resultar numa democratização das artes visuais e garantir a possibilidade de reprodução mecânica de imagens rigorosamente captadas da realidade. Ainda que não sejam factualmente coincidentes, não seria, no entanto, legítimo apartar a história dos postais ilustrados4 da história da fotografia

    A reconfiguração das rádios locais ou a ameaça da “frequência deslocalizada”

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    Prefácio a "Teias da rádio: ensaios e reflexões sobre as políticas do setor"Quando nos referimos à vitalidade do setor da radiodifusão em Portugal é comum assinalar-se que o país tem mais de 300 frequências atribuídas, uma herança, sabemos, do espetacular entusiasmo do período das piratas. Longe vão, no entanto, os tempos dessa efervescência mediática que instalou tantas emissoras locais na paisagem radiofónica nacional. Quase três décadas depois da ordenação do espectro, promovida pela Lei nº 87/1988, de 30 de julho, a primeira Lei da Rádio, a radiodifusão local é, em muitos casos, uma espécie de património devoluto condenado por falta de viabilidade económica. Embora certamente se possam contar bons exemplos de resiliência, de projetos bem-sucedidos e solidamente enraizados, inclusive com “bem- -aventurada” adaptação ao online, uma parte significativa das rádios lançadas em 1989 já pouco guardará do caráter inovador e enérgico com que foram criadas. Seja pelo impacto da internet e do multimédia seja pela fragilidade original em termos de sustentabilidade financeira, a radiodifusão local em Portugal não é um campo inteiramente bem resolvido.info:eu-repo/semantics/publishedVersio
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