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A rainha D. Beatriz e a sua casa (1293-1359)
Dissertação apresentada para cumprimento dos
requisitos necessários à obtenção do grau de
Doutor em História, na área de especialidade
de História MedievalA infanta D. Beatriz, filha do rei de Castela D. Sancho IV e da rainha D. Maria
de Molina, tornou-se rainha de Portugal ao contrair matrimónio, no ano de 1309, com
D. Afonso IV. Foi para servir os interesses político-diplomáticos dos dois reinos que
este consórcio foi estabelecido nos acordos do Tratado de Alcanises (1297),
contrariando a doutrina eclesiástica que condenava como incestuosos os matrimónios
entre consanguíneos e afins. No caso em apreço, os futuros monarcas portugueses
estavam incluídos neste interdito eclesiástico, embora tenham recebido a necessária
dispensa papal.
Dos três papéis desempenhados por D. Beatriz, mãe, mulher e rainha,
pretendemos demonstrar que a consorte tinha um protagonismo diferente daquele que é
conferido ao monarca, mas não o podemos considerar de menor relevância.
Da investigação efectuada às fontes coevas ressalta, numa primeira observação,
que a rainha senhoreava em algumas terras. Destas recebia proventos com os quais
mantinha os seus vassalos e servidores que com ela compartilhavam a vivência diária no
âmbito da sua “Casa”. Dos muitos conflitos que marcaram o reinado do Bravo
consideramos que aquele que mereceu uma maior atenção por parte da rainha foi o que
opôs o monarca ao infante D. Pedro, seu filho e futuro rei português. Nesta oposição
aberta entre pai e filho, a rainha, não esquecendo o seu papel de mulher, não se opôs,
abertamente, a seu marido. Porém, a documentação deixa-nos entrever a sua
preocupação enquanto mãe, revelando um jogo de bastidores que a rainha manteve com
o objectivo de alcançar a paz não só para o reino, mas também para a sua parentela.
A morte era uma realidade tão constante e presente no quotidiano da sociedade
medieva que era aceite como inerente à própria natureza humana. No entanto, esta
familiaridade não diminuiu o medo sentido face à morte. Porque ela é certa, mas incerta
a sua hora, era necessário preparar o “saimento” deste Mundo. Foi neste contexto que a
rainha de D. Beatriz mandou redigir três testamentos e um codicilo nos quais após a
entrega da alma a Deus e depois de cuidar do seu corpo, deixou expresso como
deveriam ser distribuídos os seus bens móveis. É compreensível que a rainha quisesse
contemplar, de forma privilegiada, os da sua linhagem, procurando, assim, evitar a
fragmentação irremediável dos seus bens. Com as informações obtidas no seu
testamento conseguimos imaginar a soberana durante a sua vivência diária a circular
pelos diferentes espaços de uma forma que se traduzia na ostentação da sua riqueza,
como o impunha a sua condição social. Os objectos que adornaram o seu corpo e a
fizeram resplandecer com o seu brilho e fascínio eram, por um lado, parte da memória
da linhagem e, por outro, parte da sua própria existência