18 research outputs found

    O vinho na História dos Açores : a introdução, a cultura e a exportação

    Get PDF
    Nas sociedades primitivas, a garantia da subsistência, naturalmente assegurada pela pluralidade das produções, constitui o principal propósito da economia. Todavia, a expectativa do enriquecimento motiva a procura e a descoberta de especializações, condizentes com o carácter da natureza e a carência do mercado. Assim, a par da diversidade dos cultivos, que assegura o sustento das gentes, individualizamos a predominância de certos bens, que logra a exportação e o lucro. Nesta perspectiva, entre os séculos XV e XVII, reconhecemos um primeiro sistema económico insular, onde pontificam os cultivos do trigo e do pastel e a escala das armadas comerciais do Oriente e do Novo Mundo. Nesta fase, registamos principalmente a participação das ilhas de maior projecção político-económica, sobretudo a Terceira e S. Miguel. No caso terceirense, releva a importância da cidade de Angra, motivada pela excelência do ancoradouro, que determina o desenvolvimento da economia e a convergência da administração. No caso micaelense, ressalta a riqueza da agricultura, movida pela extensão e pela fertilidade dos solos, que resulta na abundância das colheitas. […]

    O Significado de uma Expedição.

    Get PDF
    XI Expedição Científica do Departamento de Biologia - Graciosa 2004.A tradição administrativa insular dos séculos XIX e XX - consubstanciada na divisão do arquipélago em três distritos, entre 1836 e 1976, mas igualmente na repartição do poder político por três ilhas, após a institucionalização da autonomia constitucional em 1976 - constitui a motivação e o sustentáculo da tripolaridade da Universidade dos Açores, que se acha repartida por Ponta Delgada, Angra do Heroísmo e Horta, os centros urbanos de maior significação política. Porém, até o carácter da geografia e o sentido da história convertem a organização tripolar em inevitabilidade e em solução, o mesmo é dizer, em modelo obrigatório e justo, que garante o desenvolvimento regional em harmonia, por facultar a promoção do avanço e a salvaguarda do equilíbrio, contribuindo para a construção do progresso do todo, que é o arquipélago, e para a redução das assimetrias das partes, que são as ilhas. Nos Açores, a acção universitária contribui para o progresso de todas as ilhas sem excepção. Todavia, mais do que uma universidade tripolar, importa a construção de uma universidade multipolar, isto é, mais do que a defesa da tripolaridade, importa a defesa da multipolaridade, que corresponde à omnipresença. Com efeito, se é certo que o carácter do arquipélago desaconselha a concentração dos serviços numa só ilha, também é certo que não obriga à sua repartição por três ilhas, nem à sua acomodação nos três centros urbanos tradicionais. Aliás, o que mais urge é a aproximação da actividade universitária a mais ilhas e a mais lugares, porque os Açores são o império da diversidade, porque só assim avulta verdadeiramente a utilidade da Universidade, enquanto meio de desenvolvimento regional. A concretização de um tal desiderato não implica a construção de novas infraestruturas, nem o acréscimo de despesas de funcionamento, mas obriga à obtenção do apoio dos poderes locais e à utilização de novas tecnologias, que são conjuntamente agentes indispensáveis da extensão universitária hodierna. A 11ª expedição científica do Departamento de Biologia, realizada em 2004 à Graciosa, desempenha um papel fundamental, no propósito de aproximação da Universidade dos Açores a mais ilhas e a mais lugares. Além disso, fruto do dinamismo do Doutor João Tavares, corresponde à retoma de uma tradição louvável, que se iniciou em 1977, com uma ida ao Pico, que se interrompeu em 1997, depois de uma viagem à Madeira, mas que conheceu uma época de ocorrência contínua entre 1988 e 1994, com incursões na Graciosa, Flores, Santa Maria, Formigas, Pico, S. Jorge, Faial e Terceira. Quer isto dizer que, após sete anos de suspensão, se recupera uma prática meritória, que oxalá reconquiste a regularidade. Quer isto dizer que, após dezasseis anos de ausência, acontece o regresso à Graciosa que, na acepção científica, constitui uma oportunidade de reanálise e de comparação

    Madalena (Pico), 8 de Março de 1723 : as condições da criação de um município

    Get PDF
    Em 1723, a criação do município da Madalena na ilha do Pico decorre de uma conjunção de factores de natureza política, social e económica. O pretexto político reside na relevância dos concelhos na orgânica administrativa do Antigo Regime, que motiva o desvelo das populações, particularmente das elites nobiliárquicas, tendente à conquista de maior emancipação. De facto, antes do liberalismo, as câmaras possuem uma jurisdição muito vasta, incomparavelmente superior à dos nossos dias. Na altura, a fragilidade do estado, ainda desprovido de meios eficazes de controlo das periferias, favorece o acréscimo do poder camarário, que abrange uma imensidade de domínios. Assim, compreendemos naturalmente a irrupção de intentos comunitários, que visam a consecução da dignidade municipal. A motivação social deriva principalmente do aumento da população, indispensável na reivindicação de maior decoro institucional. Na realidade, após a rarefacção dos homens típica dos séculos XV e XVI, distinguimos um acréscimo demográfico substancial, que converge nas ilhas mais periféricas do grupo central, durante as centúrias de seiscentos e de setecentos. Na ocasião, a Graciosa e o Faial atingem as mais altas densidades populacionais do arquipélago, enquanto que S. Jorge e o Pico multiplicam substancialmente o número de habitantes. Aliás, o Pico transforma- se então no 3º aglomerado humano dos Açores, à frente do Faial e apenas atrás da Terceira e de S. Miguel. Nestas circunstâncias, a profusão das gentes exige obviamente o adensamento da malha administrativa, que justifica a constituição de mais uma entidade concelhia. Por fim, a razão económica consiste no incremento da vinha, resultante da aptidão dos solos, das influências metropolitana e madeirense e da obtenção de mercados no Ultramar, sobretudo no âmbito dos impérios de Portugal e da Inglaterra. Nesta conjuntura, a acumulação de riqueza e o desenvolvimento das relações externas também forçam à procura de um novo enquadramento político, que possui por corolário a elevação do povoado à condição concelhia. Nos Açores, a criação do município da Madalena em 1723 avulta, entretanto, por muito tardia. No nosso entendimento, as motivações de semelhante atraso radicam na falta de dinamismo económico, que só desponta com o desenvolvimento da viticultura na 2ª metade do século XVII, e na proximidade do Faial, que exerce uma considerável sujeição sócio-política sobre o Pico, principalmente sensível na denominada região da fronteira. Porém, o desenvolvimento da economia e a influência da demografia invertem o sentido das relaçoes Faial-Pico. Com efeito, em lugar da plena dependência, emerge uma conjuntura de maior complementaridade, movida pela nova dinâmica económica, que favorece a emancipação política. [...

    Portugal é o mar

    Get PDF
    Conferência proferida no Palácio dos Capitães-Generais em Angra do Heroísmo, a 10 de Junho de 2006, na Sessão Solene Comemorativa do Dia de portugal, promovida pelo Representante da República para a Região Autónoma dos Açores"[...]. No fim da Idade Média, é a necessidade de conhecimento do mar que motiva o descobrimento das ilhas. Com efeito, a ameaça do Islão obriga a Europa à exploração do Atlântico, que principia com o desvendar da costa africana e com incursões nos arquipélagos fronteiros, nas Canárias, na Madeira e nos Açores. Nas Idades Moderna e Contemporânea, é a relevância do mar que provoca o realce dos Açores. Em virtude de uma posição geográfica de privilégio, determinada pelas condições da natureza e pelo carácter da navegação, as ilhas assumem grande importância nas relações transatlânticas, quando o domínio dos oceanos equivale ao meio de engrandecimento dos estados. O mar português, mais do que o mar do passado, será o mar do futuro. Hoje, conserva uma importância inquestionável, como instrumento de acção política, como fonte de inúmeros recursos. Para a União Europeia, demasiado continentalizada, depois do mais recente alargamento, que possibilitou a inclusão de 10 países do centro e do leste, e muito constrangida, face à preponderância dos Estados Unidos, a ocidente, o enigma da Rússia, a oriente, e a força do Islão, a sul, o mar português é o meio de libertação da Europa. Para Portugal, que agora busca na Europa os recursos que outrora lhe foram sonegados pelo Império, o mar é a nossa maior riqueza, o mar é a nossa reserva estratégica. Por isso, a defesa do mar é uma prioridade nacional. No passado, o mar português compreendia o leito e as margens do Atlântico, o corredor do Índico e as escalas do Pacífico. Agora, a situação é bem diversa! Na actualidade, o mar português é sobretudo um mar açoriano. Assim, no futuro, às ilhas cabe uma missão na história de Portugal idêntica ou superior à de outrora. [...]

    As histórias nacional, regional e local nos programas e manuais escolares dos ensinos básico e secundário

    Get PDF
    A ausência de prática lectiva no âmbito dos ensinos básico e secundário constitui naturalmente um óbice de vulto à participação num debate sobre a problemática dos manuais escolares. Assim, na base destas reflexões, avultam apenas correlações profissionais e familiares com questões do ensino não superior, que oxalá não ressaltem por insuficientes e distorcidas. Com efeito, a minha correspondência com os graus de ensino em discussão no “Encontro sobre Manuais Escolares”, promovido em Ponta Delgada pelo Departamento de Ciências da Educação nos dias 13 e 14 de Setembro de 2000, deriva somente do facto de na Universidade dos Açores ser docente de um curso que também forma professores, de ter sido esporadicamente orientador de estágios integrados e ainda de ter representado a instituição universitária açoriana, entre 1990 e 1992, na Comissão Nacional das Provas Específicas de História, então realizadas no seio das Universidades, embora com base em programas substancialmente diferentes dos actuais. Porém, mais do que tudo isso, pesa decerto o convívio quotidiano que, por muitos anos, correlaciona a generalidade das famílias com o processo oficial de aprendizagem. [...

    Agualva e Vila Nova : uma raiz comum

    Get PDF
    Nos séculos XV e XVI, Agualva é a designação mais comum de uma extensa freguesia terceirense, situada entre as paróquias de Santa Beatriz das Quatro Ribeiras e de S. Miguel das Lajes. O povoado, que possui mais de uma légua de costa e que chega do mar à serra, tem por paroquial a igreja do Espírito Santo - actual templo da Vila Nova, edificada ainda no século XV - e dispõe de várias ermidas sufragâneas, por exemplo, as de Nossa Senhora da Ajuda, da Madre de Deus, de S. João e de S. Pedro e, também, a de Nossa Senhora de Guadalupe - actual templo da Agualva, elevada à dignidade de paroquial no termo do século XVI. A imprópria localização da igreja do Espírito Santo, hoje situada numa das pontas da freguesia da Vila Nova, constitui a prova inequívoca de que a construção quatrocentista do templo responde a necessidades de um território maior, que se estende consideravelmente para norte. [...

    Sobre história da solidariedade

    Get PDF
    Em finais de 2001, publiquei um livro de história sobre a minha terra natal, as Lajes da ilha Terceira. Para tal, realizei alguma investigação, procedi a muitas consultas. Fi-lo em crónicas mais antigas, em bibliografia mais recente, mas também na imprensa periódica. Fundamentalmente, consultei o boletim paroquial O Semeador, que entre as décadas de 1960 e de 1980 foi o principal repositório do quotidiano da freguesia, hoje elevada à condição de vila. Pela análise do obituário, concluí que nos anos sessenta e setenta os homens e as mulheres da minha freguesia, que eu então pensava que morriam muito velhos, afinal faleciam bem novos, com sessenta e poucos anos de idade, em média, apesar da divulgação dos sistemas de assistência social, por exemplo, a Caixa de Previdência e as Casas do Povo. Volvido um quarto de século, os homens e as mulheres da minha freguesia, os homens e as mulheres de todas as freguesias dos Açores morrem substancialmente mais velhos, com uma média já próxima dos 80 anos. O confronto da esperança de vida, à entrada do último quartel do século XX, e nos alvores do século XXI, demonstra a importância do progresso material na melhoria das condições de vida. Ficamos até convencidos de que a evolução natural da sociedade é no sentido da perfeição. Porém, um tal optimismo, quando interiorizado inconscientemente, gera um grande individualismo, que move o desprezo pela entreajuda, que durante séculos foi o meio fundamental de defesa e de sobrevivência das comunidades. [...

    Os Açores e os impérios : séculos XV a XX

    Get PDF
    [...]. Os Açores não constituem simplesmente um elo da correspondência transatlântica. Aliás, possuem uma identidade bem complexa. Com efeito, se a História evidencia muito a mundividência, apresentando as ilhas como o centro do Mundo, já a literatura ressalta muito o isolamento, resultante do afastamento dos continentes e da descontinuidade territorial, apresentando as ilhas como o fim do Mundo. Curiosamente, a política e os políticos, talvez com maior sentido do pragmatismo e da oportunidade, agem em função das circunstâncias. De facto, proclamam a projecção da universalidade, quando reivindicam mais capacidade de auto-governo, mas insistem na pobreza da ultraperifericidade, quando exigem mais contrapartidas financeiras. Apesar da divergência das perspectivas, atentemos mais na universalidade dos Açores, que historicamente influi na definição das dinâmicas do Atlântico, conferindo maior projecção à Europa

    Os ilhéus na colonização do Brasil : o caso das gentes do Pico na década de 1720

    Get PDF
    [...]. A ocupação ultramarina decorre principalmente da cooperação dos metropolitanos. No entanto, entre as parcelas de Além-Mar, identificamos o estabelecimento de uma importante correspondência, que atenua a falta de homens nas possessões de colonização mais recente pela transferência de gentes das regiões de povoamento mais primitivo. Nestas circunstâncias, ressalta o exemplo dos arquipélagos do Atlântico, particularmente a Madeira e os Açores, que constituem uma experiência pioneira de domínio português à distância. Porém, as ilhas também se convertem em agentes da gesta do Ultramar, sobretudo quando a necessidade de exploração e alargamento do Brasil suscita a participação dos insulanos. Na disseminação de açorianos e madeirenses pelas longínquas partes do Além-Mar, impera a conjugação de diversos factores, mormente as vicissitudes da arroteia ilhense e os embaraços jurídicos, que tolhem a distribuição da propriedade, e os incentivos dos novos espaços e os estímulos do poder régio, que significam a abertura de outras oportunidades. [...
    corecore