115 research outputs found

    Cavalo dos Deuses: Roger Bastide e as transformações das religiões de matriz africana no Brasil

    Get PDF
    Depois de ter sido considerada uma das principais contribuiçõesvao estudo das chamadas religiões afro-brasileiras, a obra de Roger Bastide vem sendo, há mais de trinta anos, objeto de uma série de críticas. Este trabalho parte da hipótese de que a maioria dessas críticas não leva em consideração um dos postulados centrais do trabalho de Bastide, a saber, que a compreensão das religiões africanas no Brasil dependeria da combinação entre uma perspectiva etnográfica e uma sociológica. Ou seja, dependeria da possibilidade de conciliar o imperativo de levar a sério o que dizem os nativos com a tentativa de construção de um quadro mais amplo dessas religiões. O fato de ter separado essas perspectivas em dois livros distintos sugere que a dificuldade não foi resolvida. O objetivo deste trabalho é tentar demonstrar que o aprofundamento da perspectiva etnográfica é o único meio para atingir a generalização sociológica

    Uma categoria do pensamento antropológico: a noção de pessoa

    Get PDF
    The "notion de personne" is certainly one of the most recurring categorics in the conceptual fraime of social and cultural anthropology, but we use to forget the greal number of problems underlying this notion, as well as that its specific sense seems to change from author to author. Beginning wilh Mauss's classic paper about the issue, this article intends to map some of these problems and ambiguitics. To do that it sketches the historical hackground of the question and tries to present some ways to recover the creative potential of a concept that has always pennitted the elaboration of alternalive points or view about social and cultural diversity.A "noção de pessoa" é certamente uma das categorias mais recorrentes no corpo conceitual da antropologia social e cultural. Isso é tão verdadeiro que costumamos esquecer a grande quantidade de problemas que a noção transporta, bem como o fato de que seu sentido preciso parece variar muito de autor para autor. Partindo do texto clássico de Mauss a respeito do tema, este artigo pretende, por meio de um rápido histórico da questão . mapear alguns desses problemas e explicitar algumas dessas ambigüidades. Finalmente, novos caminhos são propostos visando a recuperação do potencial criativo que a "pessoa'' sempre repreesentou na reflexão antropológica, funcionando como meio para a elaboração de perspectivas alternativas acerca da diversidade social e cultural

    O visível mundo do espiritismo

    Get PDF
    O Mundo Invisível* de Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti, remanej amento de uma dissertação de Mestrado escrita para o Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como bem indica seu subtítulo, pretende investigar as questões de “Cosmología, Sistema Ritual e Noção de Pessoa no Espiritismo’ em sua vertente Kardecista, tornando mais visível um campo de estudos que, como nos lembra a autora, tem tradicionalmente chamado a atenção dos pesquisadores mais para sua contribuição ao chamado ‘“ sincretismo religioso” brasileiro do que à especificidade de seu sistema de crenças. O livro pretende concentrar-se justamente nesta última e toma para isto, como pressuposto básico explicitado desde sua “Apresentação” , a impossibilidade teórica de uma rígida dicotomía, tal qual postulada em diversas correntes do pensamento antropológico, entre “ religião” e “ sociedade” . Tal postura levaria, inevitavelmente, a não ver no primeiro termo mais que uma expressão, direta ou transformada, de outras realidades tidas a priori como mais substantivas e /ou determinantes. Assim, somos convidados a admitir, numa perspectiva maussiana, que a religião é em si mesma social e que, por outro lado, o que chamamos sociedade não deve ser tomado como uma essência substantiva, consistindo antes na resultante do interrelacionamento de uma multiplicidade de planos, cada um deles dotado de um certo grau de especificidade e autono* mia. Neste sentido, embora admitindo que, por existir no mundo, a religião seja obviamente por ele influenciada, a autora enfatiza o outro lado da questão, o fato de que a religião é “ uma matriz de produção de valores, de maneiras de pensar e se relacionar com a realidade social mais abrangente” ( : 10). Deste modo, o livro pretende analisar as particularidades do Espiritismo enquanto sistema de crenças e enquanto produtor de certas “ leituras” e “ experiências sociais” bastante específicas

    Cosmopolíticas, etno-ontologias e outras epistemologias. A antropologia como teoria etnográficas

    Get PDF
    In this paper I propose to explore the possibility of practicing an anthropology that –in the most radical way as possible-does not discredit our participants’ practices and thoughts. I present ethnographic and theoretical issues from my research on religion and politics, in order to discuss the possibility of doing anthropology from a fundamental unknown, in the philosophical sense of the term. In other words, to do anthropology starting from a kind of transcendental not knowing that, far from paralyzing the research, may, on the contrary, act as its dynamic impulse.En ese texto, propongo explorar la posibilidad de practicar una antropología que, de la manera más radical posible, no pase por la descalificación de la práctica y el pensamiento de aquellos y aquellas con quienes trabajamos. Para esto, voy a presentar problemas etnográfico-teóricos extraídos de mi investigación sobre religión y política. Se discutirá, en última instancia, plantear la posibilidad de la práctica de la antropología a partir de un desconocido fundamental, en el sentido filosófico del término. En otras palabras, de practicar la antropología a partir de una especie de no sabemos trascendental que, lejos de paralizar el trabajo de investigación, funcionaría, por el contrario, como su impulso dinámico.Este texto se propõe a explorar a possibilidade de praticar uma antropologia que, da maneira mais radical possível, não passe pela desqualificação da prática e do pensamento daquelas e daqueles com quem trabalhamos. Para isso, apresenta problemas etnográfico-teóricos extraídos de minha pesquisa sobre religião e política. Trata-se, em última instância, de discutir a possibilidade da prática da antropologia a partir de um desconhecido fundamental, no sentido filosófico do termo. Em outras palavras, de praticar a antropologia a partir de uma espécie de não sabemos transcendental, que longe de paralisar o trabalho de investigação funcionaria, ao contrário, como seu impulso dinâmico

    Pierre Clastres ou uma Antropologia contra o Estado

    Get PDF
    This article is based on the assumption that there is no reason to imagine that the mechanisms “against the State”, that were uncovered by Pierre Clastres in Amerindian societies, had their existence limited to that “type” of society. In that direction, the following text intends to isolate some of the principles, themes and central guidelines of Clastres’s work. This effort is also reinforced by my own experiences doing researches about African- Brazilian religions and politics, as well as in investigations on the history of anthropological thought.Baseado no pressuposto de que não há nenhuma razão para imaginar que os mecanismos “contra-Estado” descobertos por Pierre Clastres nas sociedades indígenas ameríndias tenham sua existência limitada a esse “tipo” de sociedade, esta comunicação pretende isolar alguns dos princípios, temas e linhas de força principais do pensamento de Clastres. Esse esforço é orientado por minha própria experiência de pesquisa no campo das religiões e das políticas afro-brasileiras, assim como em investigações sobre a história do pensamento antropológico

    Os tambores dos mortos e os tambores dos vivos. Etnografia, antropologia e política em Ilhéus, Bahia

    Get PDF
    This paper questions whether it is possible holding on to a traditional anthropological point of view when the phenomenon observed lies at the heart of the observer's society. For this purpose, I assess various classical contributions to the debate on anthropological observation with relation to my own fieldwork experience, drawn from my study of political participation and elections amongst black movement activists in Ilhéus, southern Bahia, Brazil. Leaving aside any normative intentions, I lay out some critical issues to current anthropology, such as the following: Is it effectively possible to adopt "a view from afar" when facing something as central to the observer's society as representative democracy? If so, in which way and following which procedures? What is the difference, if any, between the study of a group of "believers" (for instance, in Candomblé) by a "skeptical" observer, and the study of "skepticals" (for instance, in politics) by a "believer" observer? Do differences of scale between objects of study, groups or societies inevitably affect research procedures?O objetivo último deste texto é refletir sobre a possibilidade de manter o ponto de vista antropológico tradicional, quando o objeto observado faz parte do coração da sociedade do observador. Essa reflexão é efetuada por meio de um confronto entre algumas discussões mais ou menos clássicas sobre a observação antropológica e minha experiência de campo, pesquisando eleições e participação política dos movimentos negros em Ilhéus, no sul da Bahia. Deixando de lado qualquer preocupação normativa, trata-se, através desse confronto, de tentar equacionar uma série de questões cruciais para a antropologia contemporânea: será efetivamente possível assumir um olhar distanciado em relação a algo tão central para o observador quanto a democracia representativa? De que forma e seguindo que procedimentos? Existe alguma diferença entre estudar um grupo de "crentes" (no candomblé, por exemplo) sendo "cético" e um grupo de "céticos" (na política, por exemplo) sendo "crente"? As supostas diferenças de escala entre objetos, grupos ou sociedades devem inevitavelmente afetar os procedimentos de pesquisa

    Lévi-Strauss e os sentidos da História

    Get PDF
    Este texto explora alguns aspectos do pensamento de Claude Lévi-Strauss a respeito da história. Partindo de uma crítica às leituras reducionistas de sua obra, trata-se de demonstrar dois pontos. Em primeiro lugar, ainda que a reflexão sobre a história ocupe na obra do autor uma dimensão aparentemente secundária, é justamente a partir dela que se pode atingir dimensões importantes e marginalizadas do chamado estruturalismo. Em segundo lugar, trata-se de demonstrar que a reflexão levistraussiana foi capaz de desenvolver uma persperctiva verdadeiramente antropológica e não etnocêntrica acerca da história e da historicidade das sociedades humanas.This text explores various aspects of Claude Lévi-Strauss's thought concerning history. Starting out from a critique of reductionist readings of his work, the paper aims to demonstrate two points. Firstly that, even though the reflection on history occupies an apparently secondary dimension in the author's work, it is precisely this deliberation which allows us to touch on important and marginalized aspects of so-called structuralism. Secondly, the paper aims to show that Lévi-Strauss's reflections allowed the development of a truly anthropological, rather than ethnocentric, perspective on the history and historicity of human societies

    Antropologia contemporânea, sociedades complexas e outras questões

    Get PDF
    Que antropólogo poderia levar realmente a sério uma suposta "antropologia das sociedades primitivas" (ou "simples”, ou como se quiser denominá- las)? Sabe-se que as primeiras críticas ao emprego dessas categorias remontam ao final do século passado, com as obras de Boas e Durkheim, constituindo hoje um dos poucos aspectos quase consensuais da disciplina. Parece, contudo, que falar em sociedades "complexas" ou "modernas” não levanta tantos problemas, o que é evidentemente um contra-senso, se admitirmos a impossibilidade ou a inadequação do uso de termos como "simples" ou "primitivo". Essa ausência de problematização só pode derivar na verdade do fato de tendermos a esquecer como a própria noção de "sociedade primitiva" foi construída. Como demonstrou Adam Kuper num trabalho fascinante, a elaboração de uma imagem das sociedades ditas primitivas, bem como das "tradicionais", cumpriu a função política e intelectual de permitir o desenvolvimento de imagens da "sociedade moderna", "complexa", de nossa própria cultura enfim (Kuper 1988). A análise de Kuper permite igualmente uma melhor compreensão de alguns problemas mais específicos que parecem comprometer os estudos antropológicos das sociedades complexas. Se a noção de sociedade primitiva foi constituída, implícita ou inconscientemente, como projeção invertida da nossa, e se a função latente dessa projeção foi a de objetivar ou ratificar uma certa imagem de nós mesmos, isso significa que, para os primeiros antropólogos, a contribuição da antropologia para a análise das sociedades complexas deveria ser apenas parcial e indireta

    A política da má vontade na implantação das cotas étnico-raciais

    Get PDF
    A primeira parte deste texto elabora reflexões sobre racismo e inclusão que derivam do cruzamento de nossa formação como antropólogos e de nossa experiência como etnógrafos que acreditam que os efeitos do trabalho de campo e da etnografia devem ultrapassar em muito e em todas as direções o campo teórico ou acadêmico, já que há sempre algo a aprender com as pessoas com quem trabalhamos. Em seguida é apresentado um relato do longo processo de implantação das cotas étnico-raciais no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional. Além de sua importância intrínseca, acreditamos que esse registro pode ser útil para o crescente número de iniciativas que visam implementar políticas de ação afirmativa em diversos programas de pós-graduação. Ao mesmo tempo, não nos furtaremos a algumas primeiras avaliações do funcionamento e dos rumos que o processo vem tomando no PPGAS do Museu Nacional, bem como a propor algumas conexões entre essa experiência e as reflexões da primeira parte do texto.         The first part of this text reflects on racism and inclusion from the point of view of our formation as anthropologists and our experience as ethnographers who believe that the effects of fieldwork and ethnography must surpass the theoretical or academic field, since there is always something to learn from the people with whom we work. After that we give an account of the long process of implementation of ethnic-racial quotas in the Postgraduate Program in Social Anthropology- National Museum. In addition to its intrinsic importance, we believe that this record can be useful for the growing number of initiatives aimed at the implementation of affirmative action policies in several postgraduate programs. At the same time, we will not shy away from some initial assessments of the workings and directions that the process has taken in the National Museum, and we also propose a few connections between this experiment and the reflections of the first part of the text.
    corecore