5 research outputs found

    Moisés Bertoni: Ciência e Estado-Nação (1890-1929)

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    Poderia ser a ciência uma forma de afirmar, consolidar ou estremecer relações internacionais? Em que medida a ciência se produziu nesta relação entre nacional e internacional na América Latina no início do século XX? Estas perguntas surgiram na pesquisa sobre a obra de Moisés Bertoni durante o período em que viveu e publicou na República do Paraguai (1890-1929). Nascido na Europa, Bertoni escolheu o Paraguai para trabalhar e findar seus dias. Ali, empreendeu enorme trabalho científico de campo e fundou sua própria editora, a Ex Sylvis. A partir dali, publicava seus resultados e também recebia publicações do mundo todo. O financiamento estatal, mesmo que precário, estabeleceu estreitas relações entre o Estado e a produção intelectual de Bertoni. Não sem razão, ele e sua família representavam o Paraguai em congressos científicos internacionais, estabelecendo contatos e buscando afirmar um lugar para ele no circuito científico e para aquele país no concerto das nações. Em fase inicial, a pesquisa aponta a relação entre o esforço científico de perseguir leis e regras universais, e a delimitação dessas práticas em fronteiras nacionais. Neste sentido, o cientista Bertoni é co-participante da construção do estado-nação paraguaio, de suas significações identitárias e da fixação de suas fronteiras simbólicas

    Moisés Bertoni e o Povoamento da América: primeiras questões

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    Qual a origem dos povos que habitavam a América quando da chegada dos europeus? Entre as mais diferentes respostas já construídas nos últimos séculos, a obra La Civilización Guarani (1922) foi escrita  a partir de relatos da América colonial e de análises da antropologia linguística do cientista suíço-paraguaio Moisés Bertoni. Nela, Bertoni objetivou localizar a origem dos povos guaranis como sinônimo da origem humana na América. Neste percurso, motivado pela crença na ideia de uma ciência universal, sua pesquisa procurou estabelecer hipóteses sobre o povoamento da América do Sul. Imerso em um vasto campo de experimentação científica e intenso confronto entre empiria e teoria, os debates de que participou sobre a origem dos povos americanos pode ter como efeito colateral a discussão sobre a origem, a identidade e o lugar social das populações indígenas no estado-nação moderno. Até este momento da pesquisa, pode-se afirmar que a ciência produzida por Bertoni insere-se numa rede de (re)significação do passado colonial e indígena

    Fronteiras em Movimento: o Oeste nos Estados Unidos e no Brasil

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    A construção de estados nacionais na América pode ser visualizada por distintos movimentos políticos, culturais e socioeconômicos. Diferentes intelectuais, em diferentes países, buscaram formulações teóricas para explicar seu passado e ensejar políticas de territorialização e legitimação do nacional. Neste sentido, o texto compara o conceito de fronteira aberta, desenvolvido por Frederick Jackson Turner em 1893, ao conceito de fronteiras guaranis de José de Melo e Silva, publicado em 1939. Entende-se que conceitos podem ser apropriados em contextos geográficos e temporais diferentes, resultando em propostas diferenciadas da construção de identidades nacionais e representações de fronteira. Entende-se que demarcar fronteiras significa estabelecer representações do outro e erigir regiões. Neste caso, tanto os Estados Unidos rumo ao Pacífico quanto o Brasil nação em relação ao país vizinho Paraguai, em que Melo e Silva buscava combater a fronteira aberta e demarca-la na construção da brasilidade em oposição ao outro indígena sul-americano. Tais fronteiras desvelam relações de poder que instauram processos de crença e di-visão do mundo social

    Narrativas Guaranis de José de Melo e Silva (1939) na Fronteira Brasil/Paraguai

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    Neste trabalho, entende-se que a produção de conhecimento veiculada por meio de textos e autores foi um alicerce de expansão do modelo de estado nacional brasileiro denominado Estado Novo (1937-1945). Tal produção visava estabelecer limites de atuação do estado, legitimando uma política de valorização do nacional em relação ao elemento estrangeiro. Neste contexto, o trabalho objetiva discutir a visão do outro no texto Fronteiras Guaranis (1939), obra de José de Melo e Silva, à época profundamente engajado com o projeto político de Getúlio Vargas denominado Marcha para Oeste. Em seu trabalho, Melo e Silva constrói a brasilidade em oposição ao “guaranizado” paraguaio, elemento fronteiriço que estaria ameaçando culturalmente a fronteira brasileira. O autor trabalha argumentos eugênicos para caracterizar aquela população, condicionando suas ações por sua etnia, e propondo soluções para integrar aquelas pessoas ao que chamava de civilização brasileira. Entende-se que ao buscar narrar uma história e constituir uma geografia humana na fronteira, Melo e Silva instituiu identidades, (re)criando aquele espaço e com isso delimitando os lugares sociais que deveriam ser ocupados pelos indígenas paraguaios, no geral como mão-de-obra barata para a extração da erva-mate e o treinamento para o trabalho agrícola em escolas profissionais. Tais ideias integram elementos materiais e imateriais do discurso, demarcam e legitimam projetos políticos e processos de classificação e controle estatal de povos indígenas em prol de um modelo de sociedade baseado na agropecuária

    Fronteira Brasil/Paraguai: narrativas guaranis na obra de José de Melo e Silva (1939)

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    O trabalho analisa a visão do outro texto Fronteiras Guaranis (1939), obra de José de Melo e Silva, escrito durante o Estado Novo (1937-1945). Em seu trabalho, Melo e Silva constrói a brasilidade em oposição ao “guaranizado” paraguaio, cuja presença estaria ameaçando a fronteira brasileira. O autor propunha soluções para integrar aquelas pessoas ao que chamava de civilização brasileira, buscando narrar uma história e constituir uma geografia humana na fronteira. Neste processo, Melo e Silva delimitou lugares sociais a serem ocupados pelos indígenas paraguaios, no geral como mão-de-obra barata para a extração da erva-mate e o treinamento para o trabalho agrícola em escolas profissionais. Sendo assim, inscrito nas páginas dos textos de Melo e Silva encontra-se um modelo de civilidade para aqueles guaranis, o que significava o controle estatal de povos indígenas em prol de um modelo de sociedade brasileiro baseado na agropecuária
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