3 research outputs found

    Paracoccidioidomicose com falsa positividade do líquido espinhal para Cryptococcus: relato de caso / Paracoccidioidomycosis with false spinal fluid positivity for Cryptococcus: case report

    Get PDF
    Introdução: A paracoccidioidomicose (PCM) é uma doença fúngica sistêmica causada pelo fungo dismórfico paracoccidioides brasiliensis. Apresenta alta prevalência na América do Sul, principalmente no Brasil, que concentra 80% dos casos notificados no continente. O envolvimento isolado do sistema nervoso central (SNC) não é a forma mais frequente, representando cerca de 10-25% dos casos, e se manifesta em duas formas principais: meníngea ou pseudotumoral. Portanto, o objetivo do presente estudo é apresentar um caso de PCM com acometimento do SNC, a fim de alertar para a importância do diagnóstico e tratamento precoces no prognóstico dessa doença. Relato do caso: Mulher, 55 anos, deu entrada no Pronto-Socorro com queixa principal de fraqueza progressiva do lado esquerdo. O exame físico revelou hemiparesia esquerda. O líquido cefalorraquidiano (LCR) apresentava líquido levemente xantocrômico, com aumento expressivo de proteínas, perfil de hipergamia, normoglicemia, imunoglobulina G elevada e aumento de leucócitos, principalmente linfomonocíticos. Bacterioscopia, culturas para fungos e micobactérias foram negativas. A Ressonância Magnética (RM) revelou lesões hiperintensas na transição mesencéfalo-pontina e no hemisfério cerebelar direito, ambas de etiologia incerta. Um mês após a admissão, houve positividade do antígeno criptocócico no LCR e foi iniciado tratamento com os antifúngicos Fluconazol e Anfotericina B. Apesar do tratamento, a paciente evoluía com piora do quadro, tendo começado a manifestar espasmos clônicos faciais e surgido trombose sinusal. Por esse motivo, optou-se por biópsia, que revelou a presença de paracoccidioides, sugerindo reação cruzada com falsa positividade do líquido espinhal para Cryptococcus. O paciente evoluiu para coma irreversível e faleceu poucos dias depois. Discussão: O envolvimento do SNC foi sugerido pela primeira vez em 1919, mas foi somente a partir dos anos 60 que essa forma de apresentação começou a ser estudada com mais profundidade. A frequência desse envolvimento tem variado amplamente entre os vários autores. A maioria dos pacientes com envolvimento do SNC tem doença disseminada e é bastante incomum que este seja o único órgão afetado. Em geral, a análise do LCR é normal ou pode apresentar pleocitose leve com predomínio de células linfomononucleares ou aumento de proteínas, com baixa sensibilidade e especificidade. Além disso, a pesquisa sobre o parasita, seja por exame direto ou cultura, raramente é positiva. Os métodos imuno-histoquímicos podem ser positivos no LCR, porém esse achado não implica necessariamente em dano ao SNC, podendo ocorrer reações cruzadas, principalmente com Histoplasmose e Criptococose. Conclusão: O envolvimento do SNC na Paracoccidioidomicose é mais frequente do que se supunha até recentemente. Seu diagnóstico é particularmente difícil, pois muitos casos só são desvendados após cirurgia e estudo anatomopatológico, devendo ser incluídos no diagnóstico diferencial de meningoencefalites e tumores do SNC, principalmente em pacientes de áreas endêmicas e com evidência clínica de infecção. Este relato de caso suscita a necessidade de se considerar a possibilidade de uma reação cruzada com outro fungo, gerando falsos positivos, em pacientes com infecções do SNC

    A emergência da nova variante P.1 do SARS-CoV-2 no Amazonas (Brasil) foi temporalmente associada a uma mudança no perfil da mortalidade devido a COVID-19, segundo sexo e idade

    Get PDF
    Background Since the end of 2020, there has been a great deal of international concern about the variants of SARS-COV-2 B.1.1.7, identified in the United Kingdom; B.1.351 discovered in South Africa and P.1, originating from the Brazilian state of Amazonas. The three variants were associated with an increase in transmissibility and worsening of the epidemiological situation in the places where they expanded. The lineage B.1.1.7 was associated with the increase in case fatality rate in the United Kingdom. There are still no studies on the case fatality rate of the other two variants. The aim of this study was to analyze the mortality profile before and after the emergence of the P.1 strain in the Amazonas state. Methods We analyzed data from the Influenza Epidemiological Surveillance Information System, SIVEP-Gripe (Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica da Gripe), comparing two distinct epidemiological periods: during the peak of the first wave, between April and May 2020, and in January 2021 (the second wave), the month in which the new variant came to predominate. We calculated mortality rates, overall case fatality rate and case fatality rate among hospitalized patients; all rates were calculated by age and gender and 95% confidence intervals (95% CI) were determined. Findings We observed that in the second wave there were a higher incidence and an increase in the proportion of cases of COVID-19 in the younger age groups. There was also an increase in the proportion of women among Severe Acute Respiratory Infection (SARI) cases from 40% (2,709) in the first wave to 47% (2,898) in the second wave and in the proportion of deaths due to COVID-19 between the two periods varying from 34% (1,051) to 47% (1,724), respectively. In addition, the proportion of deaths among people between 20 and 59 years old has increased in both sexes. The case fatality rate among those hospitalized in the population between 20 and 39 years old during the second wave was 2.7 times the rate observed in the first wave (female rate ratio = 2.71; 95% CI: 1.9-3.9], p <0.0001; male rate ratio = 2.70, 95%CI:2.0-3.7), and in the general population the rate ratios were 1.15 (95% CI: 1.1-1.2) in females and 0.78 (95% CI: 0.7-0.8) in males]. Interpretation Based on this prompt analysis of the epidemiological scenario in the Amazonas state, the observed changes in the pattern of mortality due to COVID-19 between age groups and gender simultaneously with the emergence of the P.1 strain suggest changes in the pathogenicity and virulence profile of this new variant. Further studies are needed to better understanding of SARS-CoV-2 variants profile and their impact for the health population.Introdução Desde o final de 2020 tem havido grande preocupação internacional com as variantes do SARS-COV-2: B.1.1.7, identificada no Reino Unido; B.1.351, descoberta na África do Sul e P.1, que emergiu inicialmente estado brasileiro do Amazonas. As três variantes foram associadas a aumento na transmissibilidade e piora da situação epidemiológica nos locais onde se expandiram. A linhagem B.1.1.7 foi associada ao aumento da taxa de letalidade no Reino Unido. Ainda não existem estudos conclusivos sobre letalidade das outras duas variantes. O objetivo deste estudo foi analisar o perfil de mortalidade antes e depois da emergência da linhagem P.1 no Amazonas. Métodos Analisamos os dados do sistema nacional de vigilância epidemiológica, comparando dois momentos epidemiológicos distintos: durante o pico da primeira onda, entre abril e maio de 2020, e em janeiro de 2021, mês em que a nova variante passou a predominar. Calculamos as taxas de mortalidade, letalidade e letalidade entre pacientes internados, todas as taxas foram calculadas por idade e por sexo e determinados os intervalos de confiança de 95%. Achados Observamos que na segunda onda houve maior incidência e aumento na proporção de casos de COVID-19 nas faixas etárias mais jovens. Observou-se, também, um aumento na proporção de mulheres entre os casos de SARI de 40% (2.709) na primeira onda para 47% (2.898) na segunda onda e entre mortes por COVID-19 de 34% (1,051) para 47% (1.724), respectivamente. Além disso, a proporção de mortes entre 20 e 59 anos aumentou em ambos os sexos. A letalidade entre os hospitalizados na população entre 20 e 39 anos durante a segunda onda foi 2.7 vezes a primeira onda [razão de taxas sexo feminino=2,71; CI(95%)=1,9-3,9], p<0.0001; razão de taxas sexo masculino=2.70(2.0-3.7)), na população geral as razões de taxa foram 1,15(1,1-1,2) no sexo feminino e 0,78(0,7-0,8) no sexo masculino. Interpretação Observamos mudanças no padrão de mortalidade por COVID-19 entre as faixas etárias e sexo simultaneamente à emergência da linhagem P.1, sugerindo mudanças nos perfis de patogenicidade e virulência, novos estudos são necessários para melhor compreensão das variantes do SARS-CoV-2 e suas consequências na saúde da população

    Uso do excesso de mortalidade associado à epidemia de COVID-19 como estratégia de vigilância epidemiológica – resultados preliminares da avaliação de seis capitais brasileiras

    Get PDF
    In early 2020, the World Health Organization (WHO) recognized the pandemic situation of the new coronavirus (severe acute respiratory syndrome coronavirus 2, SARS-CoV-2), which causes Coronavirus Disease-2019 (COVID-19). In Brazil by the end of April 2020, another 110 thousand cases and 5,000 deaths had been confirmed. The scarcity of laboratory resources and overload of the care network, added to the broad clinical spectrum of the disease, can make it difficult to capture all mortality from this disease through epidemiological surveillance based on individual notification of cases. The aim of this study was to evaluate the excess of deaths in Brazilian capitals with the highest incidence of COVID-19, as a way of validating the method, we also evaluated a capital with low incidence. We assessed weekly mortality from all causes during the year 2020, up to the epidemiological week 17, compared with the previous year. The data were obtained through the National Civil Registry Information Center (CNIRC, acronym in Portuguese). We estimate the expected mortality and the 95% confidence interval by projecting the observed mortality in 2019 for the population of 2020. In the five capitals with the highest incidences it was possible to identify excess deaths in the pandemic period, the age group most affected were those over 60 years old, 31% of the excess deaths occurred in the population between 20 and 59 years old. There was a strong correlation (r = 0.94) between the excess of deaths in each city and the number of deaths confirmed by epidemiological surveillance. There was no excess of deaths in the capital with the lowest incidence, nor among the population under 20 years old. We estimate that epidemiological surveillance managed to capture only 52% of all mortality associated with the COVID-19 pandemic in the cities studied. Considering the simplicity of the method, its low cost and reliability for assessing the real burden of the disease, we believe that the assessment of excess mortality associated with the COVID-19 pandemic should be widely used as a complementary tool to regular epidemiological surveillance and its use should be encouraged by WHO.No início de 2020 a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu a situação de pandemia do novo coronavírus (severe acute respiratory syndrome coronavirus 2, SARS-CoV-2), causador da Coronavirus Disease-2019 (COVID-19). No Brasil até o final de abril de 2020 já tinham sido confirmados mais 110 mil casos e de 5 mil óbitos. A escassez de recursos laboratoriais e sobrecarga da rede assistencial, somados ao amplo espectro clínico da doença, pode dificultar a captação de toda a mortalidade por esta doença pela vigilância epidemiológica baseada na notificação individual dos casos. O objetivo deste estudo foi avaliar o excesso de mortes nas capitais brasileiras com maiores incidências de COVID-19, como forma de validação do método avaliamos, também, uma capital com baixa incidência. Nós avaliamos a mortalidade semanal por todas as causas durante o ano de 2020, até a semana epidemiológica 17, comparando com o ano anterior. Os dados foram obtidos através da Central Nacional de Informações do Registro Civil (CNIRC). Nós estimamos a mortalidade esperada e o intervalo de confiança de 95% projetando a mortalidade observada em 2019 para a população de 2020. Nas cinco capitais com maiores incidências foi possível identificar excesso de mortes no período da pandemia, a faixa etária mais afetada foram aqueles com mais de 60 anos, 31% do excesso de mortes ocorreu na população entre 20 e 59 anos. Houve uma forte correlação (r=0.94) entre o excesso de mortes em cada cidade e o número de mortes confirmados pela vigilância epidemiológica. Não houve excesso de mortes na capital com mais baixa incidência, nem entre a população com menos de 20 anos. Estimamos que a vigilância epidemiológica conseguiu captar apenas 52% de toda a mortalidade associada à pandemia de COVID-19 nas cidades estudadas. Considerando a simplicidade do método, seu baixo custo e confiabilidade para avaliação da carga real da doença, acreditamos que a avaliação do excesso de mortalidade associado à pandemia de COVID-19 deveria ser amplamente utilizada como ferramenta complementar à vigilância epidemiológica regular e ter seu uso incentivado pela OMS
    corecore