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    Luto impossível e melancolia na tradução de Memórias do Cárcere

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    We propose to draw a parallel between the endless work of mourning and the translation scene in Graciliano Ramos' Memoirs of Prison, and its translation Mémoires de Prison. Following the tread of Jacques Derrida's thought, we argue that translation sets in motion an enduring process of mourning due to the imperative necessity of introjecting the “original” text and, paradoxically, to the impossibility of accomplishing such intent ”“ since the other and their writing are not available in a fully approachable present. Once assimilation has been interrupted, the work of mourning remains open in its undecidability and, therefore, open to the melancholic condition of longing for a “nonexistent completeness” (PERES, 2011) of the original. Through investigation of the translation of Graciliano Ramos' testimonial narrative into French, we attest a bereaved translation task that, in an effort to repeat wounds of the other who had been imprisoned, transforms his writing, showing marks of a mourning for a non-present origin. Therefore, translators engender a gesture of appropriating without completely appropriating the other, speaking with him without silencing him, writing over his text, without destroying it, but counter-signing it and a secret rest of his otherness that cannot be appropriated. We notice traces of this bereaved ex-appropriation in non-translated words, and in its explanatory notes, in the expressions that constitute the melancholic atmosphere of Graciliano's testimony that the translators transform, creating, in this way, a different melancholic atmosphere in their rewriting, and, at last, in the mutation they operate in the melancholic antagonistic movement and the elliptical language of Memoirs. As a consequence of such gestures, traces of an open wound in Memoirs of Prison become relevant in Mémoires de Prison, in the sense that Derrida (2000) engages to the action of  making “relevant”: suppressing and elevating, in the same movement of iterability (repetition and deferral) that keeps the mourning for the non-present other and his non-appropriable signature. The data presented in this paper are based on the analysis of the first volume of Memories, entitled “Voyages”, and its translation.Propomos urdir um paralelo entre o trabalho de luto e a cena tradutória ”“ que compreende o instante da escrita tradutória, os tradutores e o texto a traduzir ”“ partindo da leitura de Memórias do Cárcere, de Graciliano Ramos (1954), e da sua tradução em Mémoires de Prison, elaborada por Antoine Seel e Jorge Coli (1988). Seguindo o rastro do pensamento de Jacques Derrida, argumentamos que a tradução mobiliza um processo perdurável de luto pela necessária introjeção do texto “original” e, paradoxalmente, pela impossibilidade de realizar tal intento, uma vez que o outro e sua escrita não estão disponíveis em um presente resgatável. Diante da assimilação interrompida, o luto permanece aberto, prolongando-se na sua indecidibilidade e, por conseguinte, abrindo-se à condição melancólica na “ânsia desejante” pela “inexistente completude” (PERES, 2011) de uma escrita original. Na investigação da tradução da narrativa testemunhal de Graciliano Ramos para o francês, atestamos a performance enlutada dos tradutores que, no esforço de repetirem as feridas do outro encarcerado, operam a transformação da sua escrita, deixando entrever as marcas de um luto pelo original  que não é presente em si. Desse modo, os tradutores buscam se apropriar sem se apropriar completamente do outro, falar com ele sem silenciá-lo, rasurar sua escrita, sem destruí-la, contra-assinando o texto e um resto secreto e inapropriável da sua alteridade. Apreendemos vestígios dessa busca de apropriação  por meio das palavras não traduzidas, das notas explicativas que acompanham essas transcrições, dos signos que, transformados no processo tradutório, compõem a trama melancólica da escrita de Graciliano e dos tradutores; e, por fim, vemos traços dessa busca interrompida de introjeção da escrita do outro na mutação que os tradutores operam no movimento antagônico da melancolia e na linguagem elíptica e “seca” do testemunho original. Nesses gestos, os rastros de uma ferida aberta em Memórias do cárcere são relevados por Seel e Coli em Mémoires de Prison, no sentido que Derrida (2000) enreda à ação de “relevar”: suprimir e elevar, num mesmo movimento de iterabilidade (repetição e diferimento) que guarda o luto pelo outro não-presente e pela sua assinatura não-apropriável. Os dados aqui apresentados partem da análise da tradução do primeiro volume das Memórias, intitulado “Viagens”

    Escrever, ferir, traduzir: o corpo-a-corpo da escrita entre Memórias do cárcere e Memóires de prison

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    We argue that Memoirs of prison, by Graciliano Ramos, and its translation in Mémoires de prison, enact the notion of writing as the opening of a wound that Jacques Derrida's thought gives rise. That wound in writing mourns and testifies to the moment of its emergence that is no longer present. The narrative process in Memoirs of prison sets in motion a constant struggle to exhume the traumatic past, reopening the wound for the reader's testimony. The French translation unfolds from the contact with the “hardships” of Graciliano's pungent narrative, in such a way that impressions from this contact influence the transformations translators operate in the text body. In this scenario, a "corps à corps", to which Derrida (2007) alludes, takes place in language and writing. Through this movement, the original, which is not complete and immune to fissures, is wounded, but at the same time, it survives and keeps testifying in the translation. We reflect on how trauma writing generates a wound in Graciliano's testimony and how Mémoires de prison reveals that wound, while turning its opening even wider. Our analysis is based on the first volume of the book - Voyages - and its translation.Argumentamos que Memórias do cárcere, de Graciliano Ramos, e sua tradução em Mémoires de prison encenam a noção que Jacques Derrida (1986, 1992, 2007) enseja de escrita como a abertura de um ferimento que lamenta e testemunha o instante não mais presente da sua efração. O processo narrativo das Memórias põe em movimento um constante embate para exumar o passado traumático, reabrindo a ferida para o testemunho do leitor. Partindo do contato com as “agruras” do outro, a tradução para o francês se desdobra de modo que as impressões do contato com o relato pungente de Graciliano influenciam nas transformações que os tradutores operam no corpo do texto. Nesse cenário, tem lugar um “corpo-a-corpo” na língua e na escrita, ao qual Derrida (2007) alude. Por meio desse movimento, o original, que já não é pleno e imune a fissuras, é ferido, porém, ao mesmo tempo, sobrevive e continua a testemunhar na escrita tradutória. Discutimos como a escrita do trauma gera em si uma fissura na trama testemunhal de Graciliano Ramos e como Mémoires de prison a revela, ao passo que abre ainda mais a cesura. Nossa análise parte da leitura do primeiro volume da obra – Viagens – e da tradução

    Tradução e escrita testemunhal em Mémoires de prison

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    Propomos refletir sobre o processo tradutório do testemunho de Graciliano Ramos, Memórias do Cárcere (1954), ressaltando as marcas do contato com essa escrita “penosa” que a tradução de Antoine Seel e Jorge Coli, Mémoires de Prison (1988), põe em relevo O testemunho original relata a prisão arbitrária sofrida pelo autor durante a ditadura Vargas e a experiência traumática do cárcere. A narração dessas memórias sinaliza para o seu conturbado processo de escrita de situações limites, encenando a aporia que, segundo Jacques Derrida (2000b), comanda o processo tradutório: a necessidade dominante de traduzir e, ao mesmo tempo, as limitações da tarefa. Essa aporia atravessa as leituras do filósofo acerca do gesto testemunhal. Como afirma, ao apresentar-se como único sujeito a presenciar uma verdade, a testemunha recusa a traduzibilidade e a possibilidade de ser substituída (DERRIDA, 2000a), numa performance do que lemos nos últimos versos de Ashenglorie, por Paul Celan: ninguém testemunha pela testemunha. Contudo, Derrida (2000a) argumenta que o testemunho só tem valor quando é traduzível e, assim, comunicável. Considerando que a necessidade tradutória coexiste com a impossibilidade de sofrer e sobreviver no lugar da testemunha, enxergamos o primeiro obstáculo para os tradutores. Como repetir o testemunho de Graciliano, traduzindo suas feridas, diante da impossibilidade de testemunhar em seu lugar? Numa reflexão sobre tradução e testemunho, Marc Crépon (2006) sugere que, diante do desafio tradutório impossível, deve-se testemunhar o encontro com a escrita original e fazer da tradução o documento desse encontro. Ou seja, em vez de testemunhar pela testemunha, deve-se testemunhar, na tradução, as impressões do contato com o corpo textual ferido do original. Argumentamos que a escrita tradutória das Memórias se revela um processo de recriação em que seus tradutores foram tocados pelo peso da escrita do cárcere, forjando na tradução o testemunho das impressões diante do original

    A transformação d’Os sertões nas traduções para o inglês

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    The Deconstruction thinker, Jacques Derrida, dedicates part of his work tothe reflection on translation. His contribution breaks with the representativetranslation principle especially when Derrida argues that translation constitutes the original text growth and afterlife, both of which do not happen without transforming what ought to be translated. Following this notion, we reflect on the translation of Brazilian writer Euclides da Cunha’s major narrative, Os sertões. For this discussion, two existent translations in English have been analyzed, the first by Samuel Putnam which dates back to 1944 and the version by Elizabeth Lowe published in 2010.O pensador da desconstrução, Jacques Derrida, dedica parte da sua obra à reflexão em torno da tradução. O filósofo rompe com o ideal de tradução como representação ao assumir essa atividade como maturação e sobrevida de um texto original que não acontecem sem transformação daquilo que se traduz. Partindo dessa perspectiva, refletimos em torno da tradução da obra mestra de Euclides da Cunha, Os sertões: Campanha de Canudos. Para esta discussão, elegemos as duas traduções para o inglês, a primeira, escrita em 1944, por Samuel Putnam, e a mais recente, de 2010, por Elizabeth Lowe.Jacques Derrida, pensador de la deconstrucción, dedica parte de su obra a la reflexión en torno a la traducción. El filósofo rompe con el ideal de  raducción como representación al asumir esa actividad como maduración y supervivencia de un texto original que no suceden sin transformación de lo que se traduce. A partir de esa perspectiva, reflexionamos en torno a la traducción de la obra maestra de Euclides da Cunha, Os sertões: Campanha de Canudos. Para esta discusión, elegimos las dos traducciones al inglés, la primera, escrita en 1944, por Samuel Putnam y la más reciente, de 2010, de Elizabeth Lowe
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