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    Os desafios da investigação linguística em África: o caso de Moçambique

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    O estudo das línguas moçambicanas tem conhecido melhores tempos nas últimas décadas como resultado do que se pode chamar crescimento da consciência dos moçambicanos sobre a necessidade de construir uma nação forte, próspera e desenvolvida, o que só é possível numa sociedade democrática onde cada ator está consciente do seu papel no processo de desenvolvimento. A decisão sobre a introdução das línguas no ensino básico em Moçambique, através do modelo de ensino bilingue, fundamentada na necessidade de remoção de um dos mais importantes obstáculos do sucesso escolar, marcou um dos momentos mais importantes de rutura entre a visão nacionista (Fishman 1968) da política linguística moçambicana adotada nos primeiros tempos da independência e a visão nacionalista (Fishman op. cit.) e democrática onde a contribuição de cada moçambicano na construção de estado de direito é valorizada. Este triunfo de visão nacionalista sobre a visão nacionista coloca aos moçambicanos, sobretudo aos linguistas, para começar, grandes desafios. Com efeito, ao mesmo tempo que a referida decisão veio estimular a investigação tanto através de estudos visando analisar o impacto da decisão política de introdução das línguas no ensino (Moisés 2011, Ngunga et al. 2010) na educação em geral como da descrição da gramática das línguas visando municiar os professores, alunos e técnicos de educação de conhecimentos sobre a estrutura e o funcionamento destas línguas (NGUNGA 2002, NGUNGA e SIMBINE 2012, LANGA 2012, MACALANE 2012). A presente comunicação apresenta o estado atual da investigação das línguas africanas em Moçambique à luz dos desenvolvimentos mais recentes da situação sociopolítica do país

    Interferências de Línguas Moçambicanas em Português falado em Moçambique

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    When two groups of people come into contact for a considerable period of time, as the case of Portuguese and the Mozambican, among other things, their languages end up influencing one another (Sapir 1921) through the emergence of some features of either language in the spoken discourse of one of the languages. In linguistics literature, when the linguistic feature of one language is generally present in the other language, that  phenomenon is called loan; yet when  sporadic and (almost) individual, it is called interference (Ngunga 2009), since the process of non-mother tongue acquisition implies using the phonic organs and  psychological processes shaped  to produce  mother tongue sounds and structures. This exercise may result in what language teachers call “errors”, which result from the transfer of mother tongue structures to the target language (Cardoso 2007). Based on the method of observation of over three decades, which consisted in listening, collection  and systematization  of the utterances produced by Mozambicans, the present paper studies  the interferences of Mozambican languages onto the Portuguese language, namely in the following fields: Phonetics, Phonology, Syntax and Semantics. The results of the study show that the sudden appearance of some features of Mozambican languages in the Portuguese language may affect the communication process in the latter. Therefore, the paper suggests some strategies to help the teacher in finding some exercises to minimize the learning difficulties the Mozambican non-mother speakers of Portuguese encounter when attempting to learn this language.Quando dois povos entram em contacto durante um período considerável, como é o caso dos portugueses e moçambicanos, entre os vários aspectos, as suas línguas acabam por se influenciar mutuamente (Sapir 1921) através de aparecimento de alguns traços de uma língua no discurso de falantes da outra língua. Em literatura linguística, se o traço linguístico de uma língua que aparece na outra for generalizado, este fenómeno, chama-se empréstimo, mas se for esporádico e (quase) individual, chama-se interferência (Ngunga 2009), pois o processo de aquisição de uma língua não materna implica utilização dos órgãos do aparelho fonador e de processos psicológicos formatados para uso na produção de sons e outras estruturas da língua materna. Este exercício pode resultar no que os professores de línguas chamam de “erros” resultantes de transferência de estruturas da língua materna para a língua alvo (Cardoso 2007). Baseado no método de observação que consistiu na escuta, recolha e sistematização de enunciados produzidos por moçambicanos ao longo de cerca de três décadas, este artigo visa estudar as interferências de línguas moçambicanas na língua portuguesa nas áreas fonética, fonológica, sintáctica e semântica. Os resultados desta investigação mostram que o surgimento inadvertido de traços das línguas moçambicanas no Português pode afectar o processo de comunicação nesta língua. Por isso, o texto sugere algumas estratégias para ajudar o professor a encontrar possíveis exercícios para minimizar as dificuldades de aprendizagem de Português como língua não materna por alunos moçambicanos

    AFFRICATION OF VOICED LABIALS CONSONANTS /B, V/ IN CHANGANA: an evidence of the Obligatory Contour Principle in Bantu

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    À luz da teoria de fonologia autossegmental (Leben, 1973; 2006; 2011; Goldsmith, 1976; 2004; Odden, 1986) e da geometria de traços (Clements e Hume, 1995), este artigo analisa e descreve a africatização das consoantes labiais vozeadas no Changana como resultado do Princípio de Contorno Obrigatório (PCO). Descreve os processos fonológicos que culminam com a transformação destes sons labiais em africada lábio-alveolar [bz] durante os processos derivacionais de diminutivização e locativização de nomes. Nestes contextos, as vogais arredondadas em posição final de palavra e as vogais iniciais dos sufixos derivativos, (/a/) do sufixo diminutivo e a vogal inicial do sufixo locativo formam hiatos, pondo em causa o PCO que proíbe a adjacência de segmentos com traços idênticos. A resolução destes hiatos resulta na transformação das vogais arredondadas em posição final de palavras em semivogal lábio-velar. Através da propagação e assimilação de traços, esta lábio-velar altera as consoantes labiais vozeadas que constituem ataques da sílaba final da palavra, transformando-as em africada lábio-alveolar [bz]. Estes processos são uma prova da eficácia do PCO, o que contraria as tentativas de sua refutação (ODDEN, 1986) que motivaram o presente estudo. Os dados foram colhidos através do método filológico combinado com a introspecção entrevistas a 3 falantes nativos de três variantes do Changana, respectivamente, residentes no Distrito de Manjacaze.In the light of the theory of autosegmental phonology (Leben, 1973; 2006; 2011; Goldsmith, 1976; 2004; Odden, 1986) and of the geometry of features (Clements and Hume 1995), this article analyzes the affrication of voiced labial consonants in Changana as a result of the Obligatory Contour Principle (OCP). It describes the phonological processes that culminate in the transformation of voiced labial sounds into the labial-alveolar affricate [bz], during the derivational processes of diminutivization and locativization. In this context the word final rounded vowels and the initial vowels of the derivative diminutive and locative suffixes, form an hiatus, calling into question the OCP that prohibits the adjacent of segments with identical features. The resolution of these hiatus results in turning the rounded word final vowels into labiovelar glide. Labialization through the spread and feature assimilation alters the voiced labial consonants in the onset of the final syllable of the word transforming them into labial alveolar affricate [bz]. These processes are an evidence of the OCP's efficacy, contradicting the attempts to refute it (ODDEN, 1986). The data were collected through philological method combined with introspection and interviews to 3 speakers from the District of Manjacaze
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