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    Repertório Histórico Ilustrado de Equipamentos e Ferramentas de Cozinha: uma discussão metodológica

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    Esta comunicação enfoca a metodologia usada no desenvolvimento do subprojeto “Processamento de alimentos no espaço doméstico. São Paulo, 1860-1960”, desenvolvido como parte do projeto temático Fapesp “Coletar, identificar, processar, difundir: o ciclo curatorial e a produção de conhecimento” (processo 2017/07366-1). O objetivo é apresentar as etapas do projeto em curso, que tem como objetivos finais a elaboração e a publicação de um repertório ilustrado sobre objetos de cozinha e o embasamento da exposição “CasaCorpo”, proposta para a reinauguração do Museu Paulista da Universidade de São Paulo, em 2022. O projeto associa-se aos estudos de cultura material da forma como vêm se expandindo na historiografia em articulação com teorias da Antropologia, em especial no que concerne às interações entre sujeito e objeto e ao enfoque dessa dinâmica por meio do conceito de “agenciamento”, que sugere uma relação não passiva, mas de ação e transformação mútua entre eles. Esta abordagem, defendida de diferentes maneiras por antropólogos como Bruno Latour, Jean-Pierre Warnier e Daniel Miller, tem se desenvolvido no meio acadêmico brasileiro, sobretudo, por pesquisadores ligados a instituições museológicas como o Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro e o Museu Paulista da USP. É nesta linha que se insere nossa pesquisa, que foi elaborada a partir de seis etapas principais: 1) o levantamento das fontes a partir de referências bibliográficas, inventários, cadernos e livros de receitas, anúncios publicitários etc.; 2) a formulação de uma ficha inicial de pesquisa; 3) a elaboração de uma ampla amostragem de objetos, a partir das fontes, com potencialidade de serem reunidos em um repertório ilustrado; 4) a análise das fontes e o subsequente preenchimento da ficha e de um banco de dados; e 5) a seleção de objetos que farão parte do repertório e sua redação final. Por fim, apresentaremos um estudo de caso focado na análise do fogão como equipamento doméstico, buscando demonstrar a importância da perspectiva da cultura material para os estudos de história da alimentação. Ao identificarmos o artefato em suas diversas configurações – como trempe, fogão de poial (a lenha), fogão a gás ou elétrico, mencionado em fontes documentais que vão de relatos de viajantes do século XVIII, inventários e testamentos a anúncios de lojas de departamento do início do século XX –, foi possível compreender que sua presença no cotidiano das residências paulistas associa-se ao carácter recíproco do processo de constituição de sujeitos e objetos. É neste sentido que o fogão se apresenta não só como parte atuante na definição de práticas e configurações sociais no espaço doméstico, mas também como produto e produtor da sociedade

    Modernity and tradition: the introduction of electric appliances in São Paulo domestic kitchens (1920-1960)

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    Esta pesquisa trata do uso de equipamentos elétricos no preparo de alimentos no espaço doméstico paulistano entre os anos 1920 e 1960 com o objetivo de demonstrar seu papel ativo na conformação do conceito de \"cozinha moderna\". As práticas higienistas e de racionalização atuantes no processo de expansão urbana e industrialização de São Paulo neste período remodelaram a casa guiadas pela ideia de progresso. Como parte de um projeto de modernização capitalista, este processo foi estimulado e difundido pela expansão do consumo e intensificação do mercado publicitário voltado para o público feminino, este responsável pela circulação, em São Paulo, de modelos de casa, família e trabalho doméstico comuns nos Estados Unidos. Neste quadro histórico, o estudo da utilização dos equipamentos elétricos no processamento dos alimentos, feito mediante o confronto de fontes documentais diversas como anúncios, catálogos, manuais de instrução, manuais de economia doméstica e revistas ilustradas, permitiu tensionar os discursos que normatizaram a rotina doméstica. A convivência das novas tecnologias com antigos hábitos, práticas e padrões corporais no espaço da cozinha revela uma dissonância entre a realidade paulista e aquela difundida pelo ideal estadunidense de modernidade e evidencia que, no Brasil, a introdução dos eletrodomésticos aprofundou desigualdades de gênero, raça e classe social.This research deals with the use of electrical appliances in food preparation in domestic spaces in São Paulo between the 1920s and 1960s, with the objective of demonstrating their active role in shaping the concept of the \"modern kitchen\". The hygienic and rationalization practices that were present in the process of urban expansion and industrialization of São Paulo in that period remodeled the home, guided by the idea of progress. As part of a capitalist modernization project, this process was stimulated and disseminated by the expansion of consumption and intensification of advertising aimed at the female audience, which was in large part responsible for the circulation, in São Paulo, of models of home, family and domestic work common in the United States. In this historical context, the study of the use of electrical appliances in food processing, carried out by comparing different sources such as advertisements, catalogs, instruction manuals, home economics manuals and magazines, allowed us to question the discourses that standardized domestic routines The coexistence of new technologies with old habits, practices, and bodily standards in the kitchen reveals a dissonance between the reality of São Paulo and that disseminated by US ideals of modernity and shows that, in Brazil, the introduction of home appliances deepened gender, race and social class inequalities
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