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BELMIRO BORBA, FALIDO EXISTENCIALMENTE: O CARÁTER AMBIVALENTE DO ROMANCE “O AMANUENSE BELMIRO” (1937), DE CYRO DOS ANJOS
Partindo das reflexões analíticas formuladas por Ferenc Fehér (1933-1994) e Georg Lukács (1985-1971), procurou-se construir uma análise do romance O amanuense Belmiro, de Cyro dos Anjos (1906-1994), com o propósito de esclarecer a relação conflituosa do personagem-narrador Belmiro Borba com a realidade social que o cerca. Na medida em que Belmiro Borba é um indivíduo incapaz de instaurar valores e de encontrar um sentido da vida, a hipótese de leitura é que ele seja um exemplo de idealismo abstrato, conforme a tipologia lukacsiana, sofrendo e se desiludindo a partir da modernização capitalista ocorrida pela nova conjuntura sociopolítica da transição das décadas de 1920 e 1930. Ao focalizarmos como ocorre a inserção desse protagonista no mundo moderno da sociedade capitalista brasileira e como reage a esse novo modo de vida, percebemos que há na composição do romance O amanuense Belmiro os elementos apontados por Fehér (1997) como típicos do gênero romanesco, permitindo considerá-lo com o caráter ambivalente na exposição das contradições deflagradas pela modernização econômicas e na infra-estrutura urbana (e a consequente decadência das oligarquias rurais).
DIALÉTICA ENTRE FINITUDE E AUTENTICIDADE NA TRAJETÓRIA BIOGRÁFICA DE IVAN ILITCH: UMA PROPOSTA DE LEITURA DA NOVELA 'A MORTE DE IVAN ILITCH', DE LIEV TOLSTÓI, A PARTIR DA ANALÍTICA ONTOLÓGICA HEIDEGGERIANA
O artigo propõe uma hipótese de leitura da narrativa “A morte de Ivan Ilitch” (1886), do escritor russo Liev Tolstói (1828-1910), a partir da analítica ontológica heideggeriana. Com base, especialmente, na categoria ser-para-a-morte, exposta na obra Ser e Tempo (1927), focaliza-se a trajetória problemática da biografia de Ivan Ilitch, com o objetivo de demonstrar que o discurso narrativo desta novela encontra-se sobredeterminado pelas instâncias discursivas da finitude e autenticidade, que se articulam de maneira orgânica e formam um esquema estético reflexivo sobre a consciência da finitude representar ao sujeito o enriquecimento axiológico de seu processo existencial. Diante dessa análise hermenêutico-fenomenológica, a abordagem da biografia do personagem Ivan Ilitch, como sujeito que morreu sem lograr uma singularidade autêntica, permitiu-nos discorrer acerca da vulnerabilidade do sentido da existência e a negação da finitude na cultura contemporânea.DOI: https://doi.org/10.47295/mgren.v8i2.204
A FALTA DE LIMITES ENTRE O PÚBLICO E O PRIVADO: AS CARACTERÍSTICAS DO PATRIMONIALISMO NO II REINADO NOS CONTOS “TEORIA DO MEDALHÃO” (1882) E “FULANO” (1884), DE MACHADO DE ASSIS
Trata-se aqui de demonstrar resultados de uma pesquisa que procura examinar como a produção literária do escritor Machado de Assis (1839-1908) expõe e problematiza a cultura política patrimonialista do II Reinado (1840-1889), tendo como corpus para análise os contos Teoria do medalhão (1882) e Fulano (1884). Ambos são narrativas muito significativas sob o ângulo da pretensão individual de galgar na sociedade o prestígio sociopolítico, por isso partimos do pressuposto de que o universo imaginário dos contos em questão possui uma organicidade, com visões de mundo que apontam para horizontes análogos. A nossa hipótese de leitura é de que a coerência interna das narrativas dos dois contos é constituída a partir da redução estrutural do Estado patrimonialista e do estamento-burocrático, fenômenos descritos e analisados pelo jurista Raymundo Faoro (1925-2003) no livro Os donos do poder. Ao longo da construção da análise, percebe-se como ambos os contos problematizam um estilo político em que o poder é arbitrário, originado por uma tradição que trata a coisa pública como privada, dificultando boas relações a nível entre Estado e Sociedade. Nessa perspectiva do nosso propósito, nos deparamos com a dimensão da cultura política das elites do II Reinado brasileiro, que se caracteriza pela predominância das relações familiares e as práticas de patronagem que se formam ao seu redor, perpetuando-se sob a base estrutural do Estado patrimonial.PALAVRAS-CHAVE: Literatura Brasileira. Machado de Assis. Patrimonialismo no II Reinado. Estamento. Público e privado.DOI: https://doi.org/10.47295/mgren.v7i2.168
ALBERT CAMUS, ESTADO DE EXCEÇÃO E O ESPETÁCULO BÁRBARO DA ANOMIA JURÍDICA: FORMALIZAÇÃO ESTÉTICA DIANTE DO PROCESSO HISTÓRICO-SOCIAL NAZIFASCISTA
Procurou-se neste artigo refletir e explicitar as relações existentes entre literatura e política no que concerne a peça Estado de sítio, de Albert Camus (1913-1960). Lançada em 1948, no fim do contexto histórico-social denominado por Hobsbaw (1995) como a “era da catástrofe”, a peça tematiza uma pandemia que assola a cidade litorânea de Cádiz, a fim de realizar uma alegoria acerca das atrocidades ideológicas da ambição totalitária nazifascista de regimes de direita e extrema-direita que progressivamente se consolidaram na Europa a partir da década de 1920. A abordagem propõe, assim, a hipótese de que há na peça Estado de sítio uma formalização estética de mecanismos de ordenamento jurídico-políticos próprios ao Estado de exceção (AGAMBEN, 2004), que leva os personagens a um estado de anomia a partir da violência sistêmico-simbólica (ŽIŽEK, 2014). DOI: https://doi.org/10.47295/mren.v9i4.248