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Discriminatio subtilis : estudo de três classes multiculturais
Tese de doutoramento em Ciências da Educação (Desenvolvimento Curricular e Avaliação em Educação), apresentada à Universidade de Lisboa através da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, 2003A presente investigação surge na continuidade do trabalho iniciado, nos anos
1989-1991, para a elaboração da dissertação final de mestrado (Silva, 1991)', em
Ciências da Educação, que teve como centro o 1® ciclo do ensino básico e, concretamente,
o contexto escolar multicultural do bairro da Bela Vista, em Setúbal. O trabalho de campo
então realizado, o contacto no terreno com docentes, discentes, auxiliares de acção
educativa e mães dos alunos, as conversas mantidas, as observações efectuadas, as
confidências recebidas, os incidentes registados, constituíram o impulso necessário para
continuar a investigar nesta temática, com o objectivo de conhecer, sobretudo, aquilo que
não era dito/verbalizado, mas se tomava visível em expressões de rosto, gestos corporais,
exclamações, desabafos quase surdos e impossíveis de controlar, num quase «submundo»
de vivências e opiniões consolidadas, mas «sabiamente» controladas.
Perante estas motivações, o 1® ciclo do ensino básico continuava a afigurar-se o
palco privilegiado da investigação, uma vez que, e como na anterior dissertação se
defendera, para a maior parte dos alunos (que não frequentam jardim de iníancia) a escola
do 1° ciclo constitui o momento de encontro, ou desencontro, com a cultura da maioria.
Por consequência, é, neste nível de ensino, que, quase se pode afirmar, se delineia o
ftituro destes alunos pertencentes a minorias étnicas porque é, aqui, que de uma forma
institucional e societária, eles experimentam a aceitação ou a rejeição, a motivação ou a
desmotivação, a crença ou a descrença da igualdade de oportunidades, da vivência
democrática, dos sonhos possíveis ou impossíveis de concretizar. Esta experiência de
quatro anos, pelo menos, de vida escolar é, em nossa opinião, determinante para o
sucesso ou insucesso destes alunos nos níveis de escolaridade seguintes.
Foi esta a grande motivação, resultante da curiosidade em desvendar «o não dito»,
que levou a um centrar a presente investigação no interior da sala de aula, no
compartimento bem delimitado de um qualquer edifício escolar, onde uma classe vive,
durante nove meses de trabalho, a gestação do seu futuro de vida. (...
Contributos para uma análise de necessidades educativas de crianças pertencentes a minorias étnicas e desfavorecidas
Tese de mestrado em Ciências da Educação, apresentada à Universidade de Lisboa através da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, 1991Falar de minorias nos anos 90 é, quiçá, retomar um
problema de 30 anos mas cuja actualidade, no final deste
milénio, é bem o reflexo das profundas e trepidantes alterações
que o mundo conhece.
Os Estados Unidos, construídos sobre um mosaico de
povos, viveram, nos anos 60, o confronto aberto entre a
minoria negra e a maioria branca. Lutando pelo reconhecimento
dos seus direitos, a população negra assumia o direito à
educação e ao ensino de qualidade em plano de igualdade com
os brancos e, pela primeira vez, punha em questão o que lhe
era transmitido - a cultura da maioria.
Se alguns desses problemas, conseguiram ser ultrapassados,
o afluxo de novos contingentes de emigrantes e de
refugiados de guerra (Cambodja, Vietname,...) vieram, mais
uma vez, alterar a paisagem étnica norte americana e introduzir
novas questões. Em Março de 1977, uma sondagem
feita à população de origem hispânica, existente nos E.U.A,,
indicava um total de 11.3 milhões de pessoas (6.5 milhões
de origem mexicana; 1.7 de Porto Rico; 700.000 cubanos;
900.000 da América do Sul e Central e 1.4 milhão de outras origens hispânicas). Actualmente, mais de metade da população
de Nova Iorque é constituída por chicanos, asiáticos e negros.
A própria Europa náo ficou incólume ao problema das
minorias. (...) Com efeito, desde a Segunda Guerra Mundial que muitos
grupos de emigrantes se estabeleceram na Europa Ocidental,
em nações como a França, Inglaterra, Alemanha Federal e
Suiça, vindos, muitos deles, de antigas colónias europeias
(Argélia, Tunísia, Índia) e outros do interior da própria
Europa (Portugal, Espanha, Grécia, Jugoslávia, Polónia), em
busca de emprego e melhores condições de vida.(...) Muito diferentes entre si são, contudo, os emigrantes
vindos de nações árabes os que mais contrastam com a população
hospedeira devido às características da sua cultura e
religião. Se, a princípio, tinham em perspectiva o retorno
ao país de origem, muitos acabaram por se fixar na Europa. De todos, os mais difíceis de assimilar foram os árabes,
devido aos seus princípios religiosos e culturais, o que os
tornou uma ameaça para os valores ocidentais. Também as
próprias características físicas de árabes e de negros
funcionaram como uma barreira à sua integração, pelo que as
segundas e terceiras gerações, embora nascidas em território
francês, continuam a ser chamadas de emigrantes. A todos os grupos, porém, sempre se colocou, de um modo
muito premente, o problema da língua.(...) Em todo este movimento se integra também Portugal que,
a partir de 1974 com a descolonização das suas províncias ultramarinas, vê aumentada a sua população continental
matizada por grupos de proveniência étnico-geográfica
diferente. É neste contexto muiti-étnico que se colocam, hoje, os
problemas relativos à convivência de culturas diferentes e
que voltam a ganhar grande actualidade os estudos sobre a
educação multicultural, numa tentativa de encontrar as
respostas mais adequadas para os problemas de integração
social que se apresentam no interior destas sociedades.
É, pois, dentro desta problemática que se integra a
presente investigação, propondo-se realizar um estudo de
necessidades educativas das crianças residentes no Bairro da
Bela Vista, em Setúbal, e a frequentarem o 1º Ciclo do
Ensino Básico. (...