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Evaluation of the performance of Brazilian states in the delivery of transplant services using DEA and MPI
O transplante de órgãos é uma das melhores opções para muitas condições
médicas e, em muitos casos, pode ser a única opção de tratamento. O programa de
transplante de órgãos e tecidos no Brasil é um dos maiores do mundo, sendo o único
sistema público que atende uma população com mais de 200 milhões de pessoas e é
financiado em sua maioria pelo sistema público de saúde. O primeiro transplante de
órgãos no Brasil foi realizado há mais de 50 anos, e ao longo das últimas décadas,
assistiu-se a uma evolução significativa quer ao nível dos procedimentos médicos
relacionados com os transplantes quer ao nível da própria legislação, permitindo que o
país se tornasse o segundo em números absolutos de transplantes realizados no
mundo. No entanto, apesar do crescente número de transplantes e das melhorias nos
processos, o número de transplantes realizados no Brasil ainda não é suficiente para
suprir a procura e acabar com as longas filas de espera; ou seja, medidas estratégias
devem ser introduzidas com a finalidade de diminuir o tempo de espera para
transplante de órgãos.
A doação de órgãos para a realização de transplantes pode ocorrer através de
doadores vivos ou doadores falecidos, sendo esta última opção o modo mais comum de
doação para transplante de órgãos sólidos, requerendo a confirmação do diagnóstico
de morte encefálica e consentimento da família. No entanto, estruturas hospitalares
precárias, falta de Unidades de Tratamento Intensivo, emergências lotadas e
disparidade de neurologistas entre cidades e regiões brasileiras, comprometem o
atendimento de pacientes vivos e, muitas vezes, impossibilitam a adoção dos
protocolos necessários para o processo de doação de órgãos e tecidos. Além disso, o
Brasil apresenta um baixo número de consentimentos familiares para doação de órgãos
e tecidos, o que gera um longo tempo de espera nas filas de transplantes, podendo
resultar na morte de pacientes enquanto aguardam pelo transplante de órgãos.
Devido ao impacto que a saúde tem na sociedade, à natureza transformadora e
muitas vezes salva-vidas dos transplantes de órgãos, assim como ao alto impacto
financeiro que tais procedimentos têm no sistema público de saúde brasileiro,
torna-se cada vez mais importante fomentar melhorias nos serviços de coleta e
transplante de órgãos em todas as regiões brasileiras, visando tornar os serviços de saúde mais eficientes. Para isto, torna-se necessário avaliar o desempenho dos
processos relacionados com a doação e o transplante de órgãos nos estados brasileiros
a fim de proporcionar informações relevantes aos profissionais de saúde e aos
formuladores de políticas na tomada de decisões sobre iniciativas futuras, a fim de
fornecer um serviço melhor e atingir os objetivos de saúde.
Nos últimos anos, um crescente número de estudos tem utilizado a técnica Data
Envelopment Analysis (DEA) para comparar o desempenho dos sistemas de saúde a
nível mundial e também no Brasil, no entanto, ainda são poucos os estudos efetuados
para avaliar o desempenho dos sistemas de saúde nos serviços relacionados com a
doação e o transplante de órgãos. Neste sentido, o objetivo principal desta dissertação
é explorar o potencial da metodologia DEA para avaliar o desempenho dos serviços
brasileiros de doação e transplante de órgãos, bem como o Índice de Produtividade de
Malmquist para avaliar as mudanças de produtividade ao longo do tempo e o efeito da
COVID-19 nesses serviços. Para este efeito, utilizamos dados de 17 estados brasileiros e
do Distrito Federal sobre o processo de doação e transplante de órgãos. A avaliação é
feita por recurso a três modelos diferentes os quais nos permitem analisar aspectos
que vão desde a equidade na alocação de recursos até ao procedimento do transplante
propriamente dito.
A técnica DEA é aplicada aos dados de forma a construir uma curva das
melhores práticas observadas, ou seja, de máximo desempenho, utilizando os estados
selecionados e calculando um índice de desempenho para cada um dos estados
brasileiros analisados. O índice de desempenho assume um valor entre 0 e 1, sendo que
os estados com melhor desempenho são aqueles que apresentam um índice igual a 1,
equivalente a 100%. Estes estados podem servir como referência para estados com
piores desempenhos. Esta análise permite não só a comparação entre os estados
brasileiros e a identificação de benchmarks, mas propicia também comparações entre
diferentes períodos. Além disso, auxilia na definição de metas, na identificação das
variáveis que contribuem para melhores desempenhos e na identificação dos pontos
fortes e pontos fracos relativos a cada um dos estados.
Os resultados obtidos neste estudo apontam para uma grande variação no
desempenho entre os estados brasileiros e entre os três modelos utilizados, sugerindo a necessidade de uma melhor integração entre as etapas necessárias para a realização
de transplantes de órgãos - desde a identificação de possíveis doadores até a
realização do transplante de órgãos. Um melhor uso dos recursos pode levar a mais e
melhores serviços de transplante e, em última instância, aumentar a qualidade e o
acesso a esses serviços para os pacientes que precisam. No que diz respeito à
produtividade do setor, os resultados dos modelos 1 e 2 sugerem uma degradação do
nível de produtividade geral de 2018 para 2020.
Os resultados obtidos através deste estudo demonstram que a técnica DEA
pode fornecer informações muito valiosas para ajudar os formuladores de políticas e
gestores de saúde a melhorar o desempenho dos estados brasileiros em relação à
doação e transplante de órgãos. Além disso, este estudo complementa os resultados de
estudos anteriores e serve como base para estudos futuros que pretendam aprofundar
a análise deste tópico.
Palavras-chave: Sistema Único de Saúde, Processo doação-transplante de órgãos, Data
envelopment analysis, Avaliação de desempenho, Índice de produtividade de
Malmquist, COVID-19.Organ transplant is one of the best options for many medical conditions, and in
many cases, it may be the only treatment option. However, the process related to
organ transplantation is complex and involves not only the recipient but also the
donor. The main purpose of this dissertation is to explore the potential of the Data
Envelopment Analysis methodology to assess the performance of Brazilian organ
donation and transplantation services, as well as the potential of the Malmquist
Productivity Index to assess productivity changes over time and the effect of
COVID-19 in these services. To do this we use data from 17 Brazilian states and the
Federal District regarding the solid organ donation and transplantation process. Our
results show that there is a wide variation in performance among Brazilian states and
among the models used, suggesting that better use of resources can lead to more and
better transplant services and, ultimately, increase the quality and access to these
services for patients who need this procedure. In addition, this study complements
findings from previous studies and serves as a basis for future studies to delve into this
topic.
Keywords: Unified Health System, Organ donation-transplantation process, Data
envelopment analysis, Performance assessment, Malmquist Productivity Index,
COVID-19