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    Sonhos em um estado suicidário: efeitos da impossibilidade do luto nas subjetividades contemporâneas

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    O presente trabalho teve como objetivo investigar os efeitos da pandemia da Covid-19 nasmanifestações oníricas das subjetividades brasileiras, procurando compreender o impactodas práticas de gestão de crise adotadas pelo Estado brasileiro na elaboração do luto e naprodução de mal-estar no Brasil contemporâneo. Para isso, partimos da compreensãopsicanalítica de que os sonhos se apresentam como uma via privilegiada de acesso aoinconsciente, sendo, consequentemente, um índice experiencial profícuo para a investigaçãode determinado tempo histórico e de seus efeitos nos sujeitos por ele atravessados. Ametodologia aplicada foi de natureza qualitativa e exploratória, apoiando-se nos princípiosmetodológicos da Análise do discurso (ORLANDI, 2015), em articulação com a teoriapsicanalítica dos sonhos (FREUD, 1900/2019). Tomamos como objeto de análise,inicialmente, o discurso do Estado, categorizando e discutindo as estratégias necropolíticasadotadas durante a gestão da crise pandêmica. A partir dessa discussão, evidenciaram-sealgumas das modalidades de assujeitamento, invisibilização e violência com as quais oEstado operou para gerir a vida e morte, bem como alguns dos efeitos dessa gestão noengendramento do trauma e do empobrecimento simbólico em nível coletivo. Em umsegundo momento, debruçamo-nos sobre os sonhos relatados por brasileiros ao longo dapandemia, tentando tecer articulações entre as manifestações oníricas, o trauma e o lutointerditado socialmente ao longo dos últimos dois anos. Em meio a um contextosimbolicamente empobrecido, atravessado por um momento de profunda transformaçãosocial, e frente à desvalorização da atividade de sonhar na contemporaneidade, os sonhos semostraram uma via de resistência ao assujeitamento. Nesse contexto, a tarefa de recuperar acapacidade de sonhar e de fazer do sonho um exercício de cidadania se impõe ao sujeitocontemporâneo como um desafio ético e uma forma de resistência ao cenário crítico que opaís atualmente atravessa. Valorizar os sonhos em sua potencialidade de elaboração dostraumas e de construção de uma memória histórica coletiva, significa, antes de mais nada,dar lugar e voz àquilo que o sujeito tem de mais singular: seu desej
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