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A dimensão intangÃvel do patrimônio urbano
O que perfaz um bem cultural na sua totalidade? Quais são os elementos presentes na culinária amazônica
que compõem o Patrimônio Cultural praticado na cidade brasileira de Belém do Pará e quais são aqueles
que constituem o Flamenco na cidade andaluza de Sevilha? Como se classifica o chamado duende, sentimento
que move o artista flamenco para uma manifestação inexplicável em palavras? Foram questionamentos relativos
às diferentes dimensões que compõem a totalidade de um bem cultural que guiaram essa investigação, que
considera o fato de que, atualmente, entende-se que as práticas sociais são as geradoras do Patrimônio Cultural.
Diante do reconhecimento das diferentes dimensões que fazem parte da totalidade de um bem cultural, essa
investigação considera fundamentalmente que os vetores materiais de um bem cultural são indissociáveis da
sua dimensão intangÃvel. No contexto atual, a valorização dos bens culturais intangÃveis torna-se complexa, pois
há diversidade na natureza desses bens e nos critérios para sua inclusão em processos de patrimonialização. A
autenticidade, beleza e antiguidade, por exemplo, são valores que se relacionam com um momento anterior
desse campo do conhecimento, o que pode prejudicar as premissas atuais do Patrimônio Cultural, pois dependem
da atribuição do saber técnico e de olhares particulares. O momento atual é aqui caracterizado a partir de
conceitos como a (Multi)territorialidade e processos como a Mundialização e a transnacionalização da Memória,
que devem ser considerados nesse debate especialmente com relação às estratégias de empresariamento
urbano ligadas ao turismo em territórios culturais. O estudo considera que o processo de empresariamento
urbano resulta em transformações devido ao consumo e mercantilização da cultura, o que pode levar à homogeneização
da cidade e comprometer a preservação das caracterÃsticas locais. A tese considera duas estratégias
especÃficas de empresariamento urbano, sendo uma delas a Urbanalização e a outra a Containerização aplicada
na análise do espaço urbano tematizado. Ambas provocam a banalização e estandardização da experiência
urbana, exclusão das populações locais e atividades tradicionais, e transformação dos espaços urbanos em
objetos independentes, voltados para a economia de serviços, consumo e entretenimento. Os estudos de caso
analisados durante a investigação, que foi feita a partir de uma abordagem qualitativa de caráter exploratório,
foram o Complexo do Ver-o-Peso na cidade brasileira do Belém do Pará e seu respectivo bem cultural intangÃvel
patrimonializado, a culinária amazônica, e o bairro de Triana na cidade espanhola de Sevilha, considerada berço
do Flamenco, sendo este também um bem cultural intangÃvel patrimonializado. A investigação mostrou que a
dimensão intangÃvel do patrimônio urbano é inseparável e complementar à sua parte edificada. No entanto,
bens culturais intangÃveis tem sido utilizados em estratégias de empresariamento de territórios culturais, especialmente
em processos de turistificação, com o uso principalmente do valor de autenticidade como atrativo. O
resultado é um roteiro de atividades especÃficas, sem relação com o entorno, direcionadas a um público caracterÃstico,
que tem como uma das consequências a vulnerabilização dos bens intangÃveis que se intenta preservar.
Por fim, concluiu-se que a categorização promovida pelo campo do Patrimônio Cultural, ao dividir os bens de
acordo com sua materialidade, fragiliza o bem cultural ao não considerar sua totalidade, dotada de ambas as
dimensões, material e intangÃvel.¿Qué constituye un bien cultural en su totalidad? ¿Cuáles son los elementos presentes en la cocina
amazónica que componen el Patrimonio Cultural practicado en la ciudad brasileña de Belém do Pará y cuáles
son aquellos que constituyen el Flamenco en la ciudad andaluza de Sevilla? ¿Cómo se clasifica el llamado duende,
el sentimiento que mueve al artista flamenco a una manifestación inexplicable en palabras? Estas son preguntas
relacionadas con las diferentes dimensiones que componen la totalidad de un bien cultural que guiaron
esta investigación, que considera que actualmente se entiende que las prácticas sociales son las generadoras
del Patrimonio Cultural. Ante el reconocimiento de las diferentes dimensiones que forman parte de la totalidad
de un bien cultural, esta investigación considera fundamentalmente que los vectores materiales de un bien cultural
son indisociables de su dimensión intangible. En el contexto actual, la valoración de los bienes culturales
intangibles se vuelve compleja, ya que hay diversidad en la naturaleza de estos bienes y en los criterios para su
inclusión en procesos de patrimonialización. La autenticidad, belleza y antigüedad, por ejemplo, son valores que
se relacionan con un momento anterior de este campo del conocimiento, lo que puede perjudicar las premisas
actuales del Patrimonio Cultural, ya que dependen de la atribución del saber técnico y de miradas particulares.
El momento actual se caracteriza aquà a partir de conceptos como la (multi)territorialidad y procesos como la
mundialización y la transnacionalización de la memoria, que deben ser considerados en este debate especialmente
en relación con las estrategias de empresariamiento urbano ligadas al turismo en territorios culturales. El
estudio considera que el proceso de empresariamiento urbano resulta en transformaciones debido al consumo y
mercantilización de la cultura, lo que puede llevar a la homogeneización de la ciudad y comprometer la preservación
de las caracterÃsticas locales. La tesis considera dos estrategias especÃficas de empresariamiento urbano,
siendo una de ellas la urbanalización y la otra la containerización aplicada en el análisis del espacio urbano tematizado.
Ambas provocan la banalización y estandarización de la experiencia urbana, exclusión de las poblaciones
locales y actividades tradicionales, y transformación de los espacios urbanos en objetos independientes,
orientados hacia la economÃa de servicios, consumo y entretenimiento. Los estudios de caso analizados durante
la investigación, que se realizó a partir de un enfoque cualitativo de carácter exploratorio, fueron el Complejo del
Ver-o-Peso en la ciudad brasileña de Belém do Pará y su respectivo bien cultural intangible patrimonializado, la
cocina amazónica, y el barrio de Triana en la ciudad española de Sevilla, considerada cuna del Flamenco, siendo
este también un bien cultural intangible patrimonializado. La investigación mostró que la dimensión intangible
del patrimonio urbano es inseparable y complementaria a su parte edificada. Sin embargo, los bienes culturales
intangibles han sido utilizados en estrategias de empresariamiento de territorios culturales, especialmente en
procesos de turistificación, con el uso principalmente del valor de autenticidad como atractivo. El resultado es
un itinerario de actividades especÃficas, sin relación con el entorno, dirigido a un público caracterÃstico, que tiene
como una de las consecuencias la vulnerabilidad de los bienes intangibles que se intenta preservar. En última
instancia, se concluye que la categorización promovida por el campo del Patrimonio Cultural, al dividir los bienes
de acuerdo con su materialidad, debilita el bien cultural al no considerar su totalidad, dotada de ambas dimensiones,
material e intangible.What constitutes a cultural asset in its entirety? What are the elements present in Amazonian cuisine
that make up the Cultural Heritage practiced in the Brazilian city of Belém do Pará and which ones constitute Flamenco
in the Andalusian city of Seville? How is the so-called duende, the feeling that moves the flamenco artist
to an inexplicable expression in words, classified? These were questions related to the different dimensions that
make up the totality of a cultural asset that guided this investigation, which considers the fact that, currently, social
practices are the generators of Cultural Heritage. In the face of the recognition of the different dimensions that
are part of the totality of a cultural asset, this investigation fundamentally considers that the material vectors of a
cultural asset are inseparable from its intangible dimension. In the current context, the valorization of intangible
cultural assets becomes complex, as there is diversity in these assets and in the criteria for their inclusion in patrimonialization
processes. Authenticity, beauty, and antiquity, for example, are values that relate to an earlier moment
in this field of knowledge, which can compromise the current premises of Cultural Heritage, as they depend
on the attribution of technical knowledge and particular perspectives. The current moment is characterized here
from concepts such as (Multi)territoriality and processes such as Globalization and the transnationalization of
Memory, which must be considered in this debate, especially regarding urban entrepreneurship strategies linked
to tourism in cultural territories. The study considers that the urban entrepreneurship process results in transformations
due to the consumption and commodification of culture, which can lead to the homogenization of the
city and compromise the preservation of local characteristics. The thesis considers two specific urban entrepreneurship
strategies, one of which is Urbanization and the other is Containerization applied in the analysis of the
themed urban space. Both provoke the banalization and standardization of the urban experience, exclusion of
local populations and traditional activities, and transformation of urban spaces into independent objects, geared
towards the service economy, consumption, and entertainment. The case studies analyzed during the investigation,
which was based on an exploratory qualitative approach, were the Ver-o-Peso Complex in the Brazilian city
of Belém do Pará and its respective intangible cultural asset, Amazonian cuisine, and the Triana neighborhood in
the Spanish city of Seville, considered the birthplace of Flamenco, which is also an intangible cultural asset. The
investigation showed that the intangible dimension of urban heritage is inseparable and complementary to its
built part. However, intangible cultural assets have been used in cultural territory entrepreneurship strategies, especially
in touristification processes, mainly using the value of authenticity as an attraction. The result is a specific
itinerary of activities, unrelated to the environment, aimed at a characteristic public, which has as one of its consequences
the vulnerability of the intangible assets that are intended to be preserved. Finally, it was concluded that
the categorization promoted by the field of Cultural Heritage, by dividing assets according to their materiality,
weakens the cultural asset by not considering its totality, endowed with both material and intangible dimensions.Qu’est-ce qui constitue un bien culturel dans son ensemble ? Quels sont les éléments présents dans la
cuisine amazonienne qui composent le patrimoine culturel pratiqué dans la ville brésilienne de Belém do Pará et
ceux qui constituent le Flamenco dans la ville andalouse de Séville ? Comment classe-t-on le duende, ce sentiment
qui pousse l’artiste flamenco à une manifestation inexplicable en mots ? Ce sont des questions relatives aux
différentes dimensions qui composent la totalité d’un bien culturel qui ont guidé cette enquête, qui considère le
fait qu’actuellement, on comprend que les pratiques sociales sont les créatrices du patrimoine culturel. Face à la
reconnaissance des différentes dimensions qui font partie de la totalité d’un bien culturel, cette enquête considère
fondamentalement que les vecteurs matériels d’un bien culturel sont indissociables de sa dimension immatérielle.
Dans le contexte actuel, la valorisation des biens culturels immatériels devient complexe, car il y a une
diversité dans la nature de ces biens et dans les critères de leur inclusion dans les processus de patrimonialisation.
L’authenticité, la beauté et l’antiquité, par exemple, sont des valeurs qui se rapportent à un moment antérieur de
ce champ de connaissance, ce qui peut nuire aux prémices actuelles du patrimoine culturel, car elles dépendent
de l’attribution de la connaissance technique et des regards particuliers. Le moment actuel est caractérisé ici Ã
partir de concepts tels que la (Multi)territorialité et des processus tels que la Mondialisation et la transnationalisation
de la Mémoire, qui doivent être pris en compte dans ce débat, en particulier en ce qui concerne les stratégies
d’entrepreneuriat urbain liées au tourisme dans les territoires culturels. L’étude considère que le processus
d’entrepreneuriat urbain entraîne des transformations en raison de la consommation et de la marchandisation
de la culture, ce qui peut conduire à l’homogénéisation de la ville et compromettre la préservation des caractéristiques
locales. La thèse considère deux stratégies spécifiques d’entrepreneuriat urbain, l’Urbanalisation et la
Containerisation, appliquées à l’analyse de l’espace urbain thématique. Les deux provoquent la banalisation et
la standardisation de l’expérience urbaine, l’exclusion des populations locales et des activités traditionnelles, et la
transformation des espaces urbains en objets indépendants, axés sur l’économie de services, la consommation
et le divertissement. Les études de cas analysées au cours de l’enquête, qui a été menée à partir d’une approche
qualitative exploratoire, étaient le Complexe Ver-o-Peso dans la ville brésilienne de Belém do Pará et son bien
culturel immatériel patrimonialisé, la cuisine amazonienne, et le quartier de Triana dans la ville espagnole de
Séville, considéré comme le berceau du Flamenco, qui est également un bien culturel immatériel patrimonialisé.
L’enquête a montré que la dimension immatérielle du patrimoine urbain est inséparable et complémentaire Ã
sa partie construite. Cependant, les biens culturels immatérielles ont été utilisés dans des stratégies de développement
des territoires culturels, notamment dans les processus de touristification, en utilisant principalement
la valeur d’authenticité comme attrait. Le résultat est un itinéraire d’activités spécifiques, sans relation avec l’environnement,
destiné à un public caractéristique, qui a pour conséquence la vulnérabilité des biens immatérielles
que l’on cherche à préserver. Enfin, on en est arrivé à la conclusion que la catégorisation promue par le champ
du Patrimoine Culturel, en divisant les biens selon leur matérialité, fragilise le bien culturel en ne considérant pas
sa totalité, dotée des deux dimensions, matérielle et immatérielle
A desatomização do desenhar: a memória, um caminhar para o mundo real
El acto de dibujar puede ser una herramienta de
interpretación y lectura que permite la integración y organización de información y experiencias, lo que configura un acto polÃtico. Si el dibujo
se basa en la observación y abarca cuestiones de
memoria, conocimiento, sentidos y percepciones, intención y acción, ¿cómo se vaciarÃa el dibujo de su esfera polÃtica y de su dimensión cÃvica
y cuáles serÃan las consecuencias de este vaciamiento? Buscando responder a estas preguntas,
la construcción de este texto permitió un camino
investigativo, como metodologÃa proyectual adecuada a las nuevas exigencias que trae la contemporaneidad, capturada por la mercantilización
de espacios, planes y sueños y por la fragmentación de la memoria. La cuestión esencial del dibujo se reconoce aquà como ontológica, y el acto
de dibujar corresponde a la representación de las
diferentes formas de ser y habitar la Tierra. Por tanto, el carácter inmaterial de las
memorias y las identidades se considera aquÃ
como fundamental para la comprensión y el
reconocimiento de la multiplicidad de mundos
y significados. Esto se relaciona con el proceso de desatomización del dibujo, en el que la
preservación de la memoria es un instrumento
de resistencia y oposición a las relaciones de
poder y dominación, lo que posibilita visibilizar sujetos y colectivos desde una perspectiva contrahegemónica.
En este sentido, (re)pensar el diseño de la ciudad requiere considerar las particularidades de
quienes la forman y quienes la construyen. Hacer visible lo que hasta entonces era invisible es
uno de los caminos hacia el mundo pluriverso,
que es uno de los principales aportes que puede
ofrecer el diseño ontológico.The act of drawing can be an interpretation
and reading tool that allows the integration
and organization of information and experiences, which configures a political act. If drawing
is based on observation and covers issues of
memory, knowledge, senses and perceptions,
intention and action, how would drawing be
emptied of its political sphere and its civic dimension and what would be the consequences
of this emptying? Seeking to answer these
questions, the construction of this text allowed
an investigative path, as a design methodology
suited to the new demands brought by contemporaneity, captured by the commodification of
spaces, plans and dreams and by the fragmentation of memory. The essential issue of drawing
is here recognized as ontological, and the act
of drawing corresponds to the representation
of the different ways of being and inhabiting
the Earth.
Therefore, the immaterial character
of memories and identities is considered here
as fundamental for the understanding and
recognition of the multiplicity of worlds and
meanings. This is related to the process of
de-atomization of the drawing, in which the
preservation of memory is an instrument of
resistance and opposition to power and dominance relations, which makes it possible to visualize subjects and collectives according to a
counter-hegemonic perspective.
In this sense, (re)thinking the design of
the city requires considering the particularities
of those who are part of it and who build it. Making visible what was invisible until then is one
of the paths to the pluriverse world, which is
one of the main contributions that ontological
design can offer.O ato de desenhar pode ser uma ferramenta de
interpretação e leitura que permite integrar e
organizar informações e experiências, o que
configura um ato polÃtico. Se o desenho se fundamenta na observação e abrange questões da
memória, conhecimento, sentidos e percepções,
intenção e ação, de que forma o desenho seria
esvaziado de sua esfera polÃtica e de sua dimensão cÃvica e quais seriam as consequências desse esvaziamento? Buscando responder a estas
perguntas, a construção deste texto se permitiu
um caminhar investigativo, como uma metodologia de desenho adequada às novas demandas
trazidas pela contemporaneidade, capturada
pela mercantilização dos espaços, dos planos e
dos sonhos e pela fragmentação da memória. A
questão essencial do desenho é aqui reconhecida como ontológica, e o ato de desenhar corresponde à representação das diferentes formas de
ser e habitar a Terra.
Sendo assim, considera-se o caráter imaterial das memórias e das identidades enquanto
fundamentais para o entendimento e reconhecimento da multiplicidade de mundos e significados.
Isso se relaciona com o processo de desatomização
do desenho, em que a preservação da memória é
um instrumento de resistência e contraposição
a relações de poder e dominância, o que permite
visibilizar sujeitos e coletivos segundo uma perspectiva contra hegemônica.
Nesse sentido, (re)pensar o desenho da
cidade exige considerar as particularidades daqueles que dela fazem parte e que a constroem.
Visibilizar o que até então estava invisÃvel é um dos caminhos para o mundo pluriverso, sendo
essa uma das principais contribuições que o desenho ontológico pode oferecer