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A formação experiencial de mulheres negras - Classe, gênero e cor como agentes [trans]formadores
Dissertação de mestrado, Educação e Formação (Área de Especialidade em Desenvolvimento Social e Cultural), Universidade de Lisboa, Instituto de Educação, 2022Através da formação experiencial os indivíduos aprendem, assimilam e [re]produzem
práticas de acordo com as suas vivências, experiências e saberes. O processo de formação
experiencial é natural, contínuo e intergeracional e, ao mesmo tempo, fortemente demarcado
cultural e politicamente. Partindo desse pressuposto, a investigação visa compreender os
processos de formação experiencial de mulheres negras, numa sociedade caracterizada por
desigualdades de gênero, de cor de pele e de classe social. As esferas do gênero, cor e classe
estabelecem relações entre si e mostram-nos profundos emaranhados de formação e de
reprodução, individuais e coletivos. Nesse sentido, a questão orientadora da pesquisa é a
seguinte: Como se aprende a ser mulher negra, numa sociedade caraterizada por
desigualdades de gênero, de cor de pele e de classe social? Realizou-se uma investigação
biográfica para aceder a narrativas de mulheres negras, a fim de refletirmos sobre formação,
violência, exclusão, luta, resistência e emancipação, a partir das suas experiências e relatos.
As narrativas revelam que estas percebem de fato uma divergência em suas vivências se
comparadas a mulheres brancas e também a homens brancos e negros. De diferentes formas,
estas partilham episódios e exemplos variados nos quais a cor e/ou gênero e/ou classe tiveram
um peso incisivo na maneira como essas experiências afetaram a sua vida. Ainda que sendo
de gerações diferentes, é nítido que a maneira como as entrevistadas entendem e analisam
seus trajetos pessoais de formação e socialização é carregada de peculiaridades relativas à
intersecção classe, gênero e cor. Isso confere às mesmas um processo formativo específico e
distinto de outros grupos sociais. A partir do que se constrói no processo investigativo – e até
mesmo o que o motiva – várias questões surgem quando se pensa no que essas mulheres
contam sobre suas histórias de vida e suas experiências enquanto corpos negros. O que é ser
uma mulher negra? Como isso influencia na existência e experiência social, política e cultural
– individual e coletiva - diariamente? Através da escuta ativa e de uma análise cuidadosa que
perpassa pelos princípios e objetivos da entrevista biográfica embasada numa perspectiva
humanista e de trabalho conjunto, se dá a construção desse presente escrito que busca trazer
uma análise do mundo sob olhares negros femininos.Through experiential training, individuals learn, assimilate and [re]produce practices
according to their experiences, experiences and knowledge. The process of experiential
formation is natural, continuous and intergenerational and, at the same time, strongly
demarcated culturally and politically. Based on this assumption, the investigation aims to
understand the processes of experiential formation of black women, in a society characterized
by inequalities of gender, skin color and social class. The spheres of gender, color and class
establish relationships with each other and show us deep tangles of formation and
reproduction, individual and collective. In this sense, the guiding question of the research is
the following: How do you learn to be a black woman, in a society characterized by
inequalities of gender, skin color and social class? A biographical investigation was carried
out to access the narratives of black women, in order to reflect on formation, violence,
exclusion, struggle, resistance and emancipation, based on their experiences and reports. The
narratives reveal that they actually perceive a divergence in their experiences compared to
white women and also to white and black men. In different ways, they share varied episodes
and examples in which color and/or gender and/or class had an incisive role in the way these
experiences affected their lives. Despite being from different generations, it is clear that the
way the interviewees understand and analyze their personal paths of formation and
socialization is loaded with peculiarities related to the intersection of class, gender and color.
This gives them a specific formative process that is distinct from other social groups. From
what is built in the investigative process – and even what motivates it – several questions
arise when thinking about what these women tell about their life stories and their experiences
as black bodies. What is it to be a black woman? How does this influence social, political and
cultural existence and experience – individual and collective – on a daily basis? Through
active listening and a careful analysis that permeates the principles and objectives of the
biographical interview based on a humanistic perspective and joint work, the construction of
this present writing takes place, which seeks to bring an analysis of the world under black
female eyes