11 research outputs found

    Cultura vs. estado: relações de poder na educação escolar indígena

    Get PDF
    Com base numa pesquisa etnográfica, busca-se neste trabalho analisar estratégias de construção de sentido que comunidades indígenas (particularmente a comunidade Laklãnõ-Xokleng da TI Ibirama Laklãnõ) e o Estado brasileiro (particularmente o Estado de Santa Catarina) empregam no intuito de perpetuar ou transformar as relações de poder estabelecidas entre eles, particularmente no contexto da educação escolar. Por meio da análise de uma interação ocorrida, no âmbito de um programa de formação continuada, entre professores, lideranças e anciões indígenas e uma gestora da instituição diretamente responsável pelas escolas Laklãnõ-Xokleng na rede estadual de educação em que se inserem, são elencadas e ilustradas estratégias que dizem respeito aos seguintes fenômenos: 1) o sobrecarregamento de palavras e formas que diferentes instituições e os seus centros de transmissão de poder fazem estrategicamente com as suas próprias intenções no intuito de espoliar as “possibilidades intencionais da língua” (BAKHTIN, 2002, p. 97); 2) a remissão por esses centros de transmissão de poder a gêneros do discurso específicos para determinarem ou satisfazerem regras e exigências “complexas e pesadas” (FOUCAULT, 2004b, p. 13) para a enunciação de certos discursos de forma eficaz e coercitiva; e 3) a consciência da própria capacidade de transformação de seres humanos que, exercendo seu poder, fazem culturas (FREIRE, 1967) ou, pelo contrário, a abdicação dessa consciência por parte de seres humanos que incorporam estados em processos de acomodação/ajustamento por meio dos quais acabam se sentindo (ou se fingindo) impotentes e paralisados e negando a natureza performática das instituições (BUTLER, 2010). As estratégias de construção de sentido identificadas, em virtude da sua natureza linguística, ideológica e política, assim como em virtude da intencionalidade e sistematicidade que as permeiam, constituem em si mesmas políticas linguísticas, em estreita ligação com políticas de identidade

    Às vezes tem pessoas que não querem nem ouvir, que não dão direito de falar pro indígena: a reconstrução intercultural dos direitos humanos linguísticos na escola Itaty da aldeia guarani do Morro dos Cavalos

    Get PDF
    Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Comunicação e Expressão. Programa de Pós-Graduação em LinguísticaNesta pesquisa busca-se a aproximação da reconstrução intercultural (SOUSA SANTOS, 2010) dos direitos humanos linguísticos escolares dos Guarani da Escola Indígena de Ensino Fundamental Itaty, escola do tekoa de mesmo nome, ou aldeia do Morro dos Cavalos (Palhoça/SC), partindo de um conceito de língua enquanto prática social local e do conceito de diversidade linguística enquanto diversidade de práticas e diversidade de significados (PENNYCOOK, 2010). Procura-se apontar para um descentramento em relação à tradição ocidental, para o qual são visibilizadas as versões registradas da tradição guarani (CADOGAN, 1997; CLASTRES, 1990; SCHADEN, 1974; LITAIFF, 1996; TESTA, 2008) sobre a língua na sua relação com o conhecimento, a educação e a religião, e parte-se de conceitos como o pertencimento sociohistórico do significado (GEE, 1994; SOUZA, 2010, 2011) e a identidade como fenômeno relacional e discursivo (MAHER, 1998; OLIVEIRA, 1976), para depois entender a identidade pós-moderna dos Guarani do Morro dos Cavalos em virtude da irrevogável tradução (HALL, 2011) através da qual enfrentam a necessidade de sobreviver e adaptar-se aos objetivos do neoliberalismo e da pós-modernidade. Recorre-se ainda ao translinguismo, e o continuum translíngue presente nas comunidades que translinguageiam bilinguemente entre línguas não separadas linguisticamente entre si e sim por questões identitárias e políticas (GARCIA, 2009), como conceito fulcral deste trabalho. A partir dos pressupostos teóricos da Linguística Aplicada (MOITA LOPES, 2006; CAVALCANTI, 2006) e da metodologia de pesquisa interpretativista de cunho etnográfico (ERICKSON, 1990), são visibilizadas as reivindicações acerca dos direitos às práticas de linguagem que devem ser aprofundadas na EIEF Itaty durante a escolaridade dos alunos, e como essas práticas se relacionam com o contexto educacional, político e econômico em que os Guarani se inserem. Assim, são reivindicados, dentre outros, direitos interculturais como o direito à língua guarani como projeção da identidade guarani, o direito à língua materna como língua escolar, o direito a práticas de conhecimento escolares orais e em espaços educativos não escolares, o direito à documentação e escolarização das práticas tradicionais, o direito à troca intercultural de saberes, à proficiência letrada acadêmica e administrativa em português, à educação escolar diferenciada, à religião guarani, à voz e à legitimidade.This research seeks an approach to the intercultural reconstruction (SOUSA SANTOS, 2010) of the school linguistic human rights of the Guarani Indians at Itaty Indigenous School, in tekoa Itaty, the Guarani village of Morro dos Cavalos (Palhoça - Santa Catarina - Brazil). In order to take distance from the western tradition, the visibility of the registered Guarani versions (CADOGAN, 1997; CLASTRES, 1990; SCHADEN, 1974; LITAIFF, 1996; TESTA, 2008) about language, and its relation with knowledge, education and religion, is enhanced, and some other concepts are gathered, such as the socio-historical location of meaning (GEE, 1994; SOUZA, 2010, 2011) and the concept of identity as dialogic and discursive (MAHER, 1998; OLIVEIRA, 1976), to comprehend the postmodern identity of the Guarani Indians of Morro dos Cavalos upon the irreversible translation (HALL, 2011) through which they face their need to survive and get adapted to the objectives of neoliberalism and postmodernity. Also the concept of translanguaging and the continua accessed by communities that language bilingually between their languages, with no linguistic - rather political - clear-cut boundaries (GARCIA, 2009), is used as a fundamental concept upon which this research is based. From the theoretical assumptions of Applied Linguistics (MOITA LOPES, 2006; CAVALCANTI, 2006) and the interpretative methods of ethnographic research (ERICKSON, 1990), it is given visibility to the demands on the rights to the language practices that should be dealt with in depth at Itaty School, as well as to how these practices relate to the broader educational, political and historical context in which they are embedded. Thus, recognition is called for intercultural rights such as the right to Guarani language as projection of Guarani identity and the right to the mother tongue as a school language, the right to oral school knowledge practices and at educational places outside school, the right to the documentation and schooling of traditional practices, the right to the intercultural exchange of knowledge, the right to academic and administrative literate proficiency in Portuguese, the right to differentiated schooling, and the right to Guarani religion, voice and legitimacy

    "Se nós não fosse guerreio nós não existia mais aqui": ensino-aprendizagem de línguas para fortalecimento da luta Guarani, Kaingang e Laklãnõ-Xokleng

    Get PDF
    Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Comunicação e Expressão, Programa de Pós-Graduação em Linguística, Florianópolis, 2017.A presente pesquisa foi desenvolvida dentro da área de estudos da Linguística Aplicada indisciplinar, a partir da metodologia de pesquisa etnográfica, no âmbito do programa de formação continuada de professores indígenas Ação Saberes Indígenas na Escola (ASIE), criado a nível nacional pelo Ministério de Educação em 2013 e implementado em Santa Catarina pela UFSC entre 2015 e 2017. O trabalho tem como objetivo geral construir alternativas teóricas para o ensino-aprendizagem escolar das línguas guarani, kaingang e laklãnõ-xokleng, reinventadas enquanto processos sociais, visando o fortalecimento da luta dessas populações. Essas alternativas teóricas são construídas com base em discursos (dos quais se oferece registro audiovisual) enunciados por professores, lideranças e sábios durante os Grandes Encontros da ASIE em terras indígenas, assim como com base nas reflexões em torno das práticas materiais desses Grandes Encontros nas quais se constatou a enunciação natural, fácil, espontânea e abundante em línguas indígenas. Em prol da análise interpretativa desses discursos e práticas materiais, é tecida uma fundamentação teórica (que tem como insumo principal postulados de Mikhail Bakhtin e Michel Foucault) em torno do discurso, das línguas e do controle que se exerce sobre os mesmos por meio de procedimentos que buscam estabelecer regras, de acordo com geografias e economias políticas de verdade, para legitimar e privilegiar certos discursos e enunciadores, destacando o papel da instituição escolar nesse processo. Seguidamente, são problematizados os discursos que a tradição linguística e filológica ocidental tem privilegiado em relação às línguas, principalmente aqueles que as representam como sistemas autônomos de normas indestrutíveis. Caracterizando tais discursos sobre as línguas como invenções a serviço da dominação política e econômica colonial e neocolonial, com efeitos colaterais particularmente nocivos para os povos indígenas, aponta-se, posteriormente, para o modo em que esses discursos e consequências nocivas continuam vivas ainda hoje em práticas escolares, o que não é diferente em contextos indígenas. Em prol de contribuir para a reconfiguração dessa situação, criticada pelos participantes da pesquisa, propõe-se uma reinvenção das línguas com base nas teorizações do geógrafo David Harvey, que caracteriza os processos sociais como consistentes na articulação de seis momentos interdependentes, quais sejam, discurso, poder, instituições, práticas materiais, relações sociais e imaginário. A partir da interação entre a fundamentação teórica e os dados etnográficos, gerados ao longo de 34 meses de envolvimento em campo do pesquisador também enquanto supervisor da ASIE na UFSC, a análise se desenvolve em torno desses momentos e das categorias força, luta, sistema, papel, tempo e espaço. A partir da reflexão, com base nessas categorias, em torno das práticas materiais retratadas em relatos literário-fotográficos, propõe-se uma alternativa teórica para o ensino-aprendizagem escolar de línguas indígenas consistente em professores e estudantes participarem, em virtude da força e da luta indígena, em práticas de liberdade de educação escolar diferenciada, isto é, em práticas pautadas nas orientações dos mais velhos e desenvolvidas em espaços-tempos que favoreçam o estreitamento e fortalecimento da convivência, da prática, da oralidade e do movimento conjunto entre anciões, professores e estudantes, assim como as crenças, valores e desejos associados a esses tempos-espaços e relações sociais, dentro de uma temporalidade híbrida entre a temporalidade da educação indígena e a temporalidade da educação escolar.Abstract : This research was conducted in the field of indisciplinarian Applied Linguistics, following an ethnographic methodological approach, within the in-service indigenous teachers training program Ação Saberes Indígenas na Escola (ASIE), created at a national level by the Brazilian Department of Education in 2013 and implemented in the state of Santa Catarina by UFSC between 2015 e 2017. Its main goal is to build theoretical alternatives for teaching-learning Guarani, Kaingang and Laklãnõ-Xokleng languages, reinvented as social processes, at school, aiming at strengthening the struggle of those populations. These theoretical alternatives are built upon discourses (of which audiovisual register is offered) uttered by teachers, chiefs and sages during the Great Meetings of ASIE in indigenous lands, as well as upon reflections on the material practices of those Meetings in which natural, easy, spontaneous and abundant utterance in indigenous languages was witnessed. To serve the interpretive analysis of those discourses and practices, the theoretical background (that relies primarily on Mikhail Bakhtin e Michel Foucault) focuses on discourse, languages and how control is exerted over them through procedures that aim at establishing rules, grounded on geographies and political economies of truth, in order to legitimate and favor certain discourses and utterers, highlighting the role of schools within this process. Afterwards, the discourses on languages favored by Western linguistic and philological tradition are questioned, chiefly those that represent them as autonomous systems of indestructible rules. Characterizing those discourses on languages as inventions that serve the purposes of colonial and neo-colonial political and economic domination, with particularly harmful effects on indigenous populations, it is discussed next how those discourses and harmful effects are kept alive still today in school practices, also in those of indigenous contexts. In order to contribute to change that situation, criticized by the participants of the research, a reinvention of languages is proposed grounded on David Harvey?s theory that describes social processes as consisting in the articulation of six interdependent moments, i.e., discourse, power, institutions, material practices, social relations and imaginary. Through the interaction between the theoretical background and the ethnographic data, generated throughout 34 months during which the researcher was in the field also as supervisor of ASIE at UFSC, the analysis is carried out around those moments and the categories strength, struggle, system, paper, time and space. Upon the reflection, grounded on those categories, on the material practices portrayed in literary-photographic tales, a theoretical alternative is put forward to teach-learn indigenous languages as social processes at school that consists in teachers and students getting involved, by virtue of the indigenous strength and struggle, in differentiated school practices of freedom, that is, practices whose guidelines are provided by the elderly and are developed in times-spaces that favor the strengthening of the coexistence, the practice, the orality and the shared movement of the elderly, teachers and students, as well as the believes, values and desires associated to those times-spaces and social relationships, within a hybrid temporality between the temporality of indigenous education and the temporality of school education

    A reconstrução intercultural dos direitos humanos linguísticos escolares guarani: Horizontes sociais e letramento

    Get PDF
    O presente artigo busca contribuir para a reconstrução intercultural do direito humano linguístico escolar ao letramento, pondo em questão o caráter monovalente e universalizante com que esse direito é inserido no horizonte social dos grupos dominantes do capitalismo global. À luz de uma fundamentação teórica que articula discursos do Círculo de Bakhtin, dos Novos Estudos de Letramento, da Linguística Aplicada e dos Estudos Culturais, são interpretados, na análise de dados, discursos dos professores da Escola Indígena de Ensino Fundamental Itaty, da aldeia guarani do Morro dos Cavalos (SC). Esses discursos reconstroem interculturalmente o direito ao letramento, em primeiro lugar, como direito ao registro escolar da tradição cultural (reivindicado em decorrência das transformações de base econômica das práticas legitimadas de geração e transmissão de conhecimento da comunidade), e, em segundo lugar, como “arma de defesa e sobrevivência”, através da qual lutar por uma maior soberania sobre as próprias formas de enunciação, indissociável de uma maior soberania econômic

    Os alunos teriam que estudar para poder comprar comida”: a escola guarani como necessidade, obrigação e direito

    No full text
    Este trabajo busca problematizar la visión occidental de educación como derecho humano universal, contrastándola con las reivindicaciones guaraní a la escolarización como derecho intercultural. El trabajo parte de una fun - damentación teórica que discute la deslegitimación y el silenciamiento de las poblaciones indígenas en función de sus diferencias en relación al modelo de experiencia y conocimiento occidental, así como la relación de esta des - legitimación y silenciamiento con la imposición de la necesidad y obligación universales a la escolarización. Con base en una metodología de investigación cualitativa de cuño etnográfico, se interpretan discursos que sirven como base para caracterizar el derecho intercultural guaraní a la escolarización, así como las funciones, responsabilidades y prácticas de conocimiento que competen a la educación escolar diferenciada guaraní desde el punto de vista de los profesores indígenas de la escuela de la comunidad del Tekoa Itaty , o aldea Morro dos Cavalos (Palhoça, Santa Catarina, Brasil)

    Proporcionar aos índios a valorização das suas línguas?! Problemas discursivos na diferenciação da escola indígena

    No full text
    Partindo da crítica às políticas linguísticas baseadas nos regimes metadiscursivos de línguas inventadas para a sua transmissão escolar e dos fundamentos teórico-metodológicos da análise crítica do discurso, este artigo busca apontar obstáculos discursivos à diferenciação da educação escolar indígena e à valorização escolar das línguas indígenas. Através da análise de um corpus composto por excertos da Constituição Federal de 1988 e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, e pela reportagem "Por uma escola diferenciada", do programa Globo Educação, a análise aponta dois obstáculos discursivos: a monologização de signos e objetos culturais polivalentes, como a educação, aescola ou a língua, e a alocação assimétrica de agência em relação aos atores representados nos discursos oficial e midiático sobre a educação escolar indígena

    Premios literarios de narraciones cortas Luis Landero

    No full text
    Publicación en la que se recogen los relatos premiados en las ediciones XI, XII y XIII del certamen de narraciones cortas 'Luis Landero'. El certamen se celebra anualmente y cuenta con la participación de alumnos de Secundaria de todas las comunidades autónomas del territorio español. Los relatos recogidos son: 'Tibias luces' de José Luis Cobreros Santiago, 'Aleste' de María Ruisánchez Ortega, 'Bajo el azul de Madrid' de Javier Viguera Sancho, 'Cuento de Nochevieja' de Haydée Suzanne García Gouttebrozo, 'Sección de esquelas' de Fernando Fernández Cortés, 'Okupado' de Carlos Maroto Guerola, 'La manta de los sueños' de Azahara Palomeque Recio y 'La caja de Pandora' de Raquel Caballero Bravo.ExtremaduraES
    corecore