22 research outputs found
SOBRE A NORMATIZAÇÃO DO CORPO MODERNO UMA BREVE ANÁLISE DA PATOLOGIZAÇÃO DA TRANSEXUALIDADE E DE INSCRIÇÕES CORPORAIS
Almejamos, no presente artigo, compreender como ocorre a inferiorização de certas inscrições corporais, em detrimento da naturalização de outras, e em relação a marcadores de gênero, raça e normatividade. Partimos da hipótese de que o saber moderno institucionalizado produz patologização e criminalização de certas inscrições corporais, e tomamos como ferramenta de análise as modificações corporais realizadas por pessoas trans. Argumentamos que, ao afrontarmos a corponormatividade, ao demonstrarmos autonomia corporal em relação a nossos desejos e identidades, a retroativa institucional é violenta. Para tanto, nosso referencial teórico é anarquista e decolonial
A cisgeneridade como diferença:
Este artigo possui como objeto de análise a negação da cisgeneridade em relação a si própria em espaços institucionalizados de produção de conhecimento. A cisgeneridade, institucionalizada tal como a heterossexualidade e a branquitude, é fator central, porém não nomeado, nos estudos sobre gênero e sexualidade. No entanto, ao nomearmos a cisgeneridade, nos deparamos comumente com sua rejeição enquanto conceito. Argumentamos, a partir de nossa experiência como corpos trans na academia, que esta rejeição toma forma de um fenômeno, o qual nomeamos de “ofensa da nomeação”
A PRODUÇÃO PATOLÓGICA DO ANTAGONISMO: UMA BREVE DISCUSSÃO SOBRE A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA CONTRA PESSOAS TRANS
A principal motivação deste artigo é analisar como a invenção da transexualidade enquanto uma categoria diagnóstica, a partir de uma perspectiva cis e hétero normativa, repercutiu em sistemas de controle, tutela e opressão contra pessoas trans. Para dissertar sobre as violências e o controle institucionais direcionados a pessoas trans, utilizamos uma lente de análise anarquista – na medida em que o anarquismo produz críticas contundentes à própria existência do Estado e de suas instituições, e não somente a suas possibilidades de modelagem – e decolonial – na medida em que as violências contra pessoas trans são herança de um sistema de poder colonial. Além disso, recorremos à lógica de Rolnik e Guattari sobre dinâmicas de opressão de infantilização, culpabilização e segregação enquanto violências institucionais recorrentes que atravessam corpos trans
UM ESTUDO COMPARADO DA INSTITUCIONALIZAÇÃO E PATOLOGIZAÇÃO DAS INSCRIÇÕES CORPORAIS
Neste artigo, objetivamos argumentar, por meio de uma análise sobre como a medicina e a psiquiatria conceberam historicamente a prática de inscrições corporais, que não há possibilidade de uma ciência ser neutra e imparcial. A transformação de inscrições corporais em automutilações e sua consequente patologização, no contexto europeu dos séculos XVIII ao XX, significaram, além da afirmação de inferioridade de certos povos, o domínio de instituições médicas/psiquiátricas não somente sobre o corpo humano, como também sobre as significações que tais inscrições carregavam em contextos culturais distintos. Portanto, este estudo, longe de avaliar as inscrições corporais, procura apontar para o caráter parcial da ciência, utilizando como objeto de análise o processo de patologização de modificações corporais e automutilação, bem como o concomitante desenvolvimento da medicina e psiquiatria, em associação com o poder da Igreja e do Estado
SERIA O DIABO ANARQUISTA?: SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS ENTRE O SATANISMO MODERNO E A FILOSOFIA POLÍTICA ANARQUISTA
O presente artigo possui como motivação principal pensar em na maneira como as noções de individualismo e de liberdade, nas filosofias satanista e anarquista, se assemelham ou destoam. Escolhemos a filosofia satanista como objeto de análise por também fazer críticas às igrejas e por fazer, de formas variadas, defesas à liberdade total e ao respeito mútuo. Nossa metodologia contempla a revisão bibliográfica de obras anarquistas, como as Bakunin, de Malatesta e de Kropotkin, e de obras satanistas, como as de LaVey e de Vivdivs. Como resultados, apresentamos uma análise comparativa entre ambas as filosofias, destacando aspectos dissonantes ou similares entre elas e discorrendo sobre elementos pelos quais as filosofias se mostram presentes, como perspectivas relativas a instituições sociais e a percepções de mundo. Concluímos que as filosofias anarquista e satanista possuem profundas discrepâncias, como o apreço satanista por instituições sociais e a oposição anarquista às mesmas, embora defendam conceitos semelhantes, como autodeterminação, autonomia e liberdade
CISGENDERITY IN DENIAL: PRESENTING THE CONCEPT OF OFFENSE OF DESIGNATION
In this article, we aim to analyze what we call the “offense of designation”, referring to the set of mechanisms used by cisgender people to deny their cisgender social location. Unlike the terminologies focused on transgenderism, which emerged at the end of the 19th century and gained strength in the 1960s, the concept of cisgenderity emerged only in the last decades of the last century, and has gained strength recently. If transgender was named by cisgender people in a pathologization perspective and with academic institutional contributions, cisgender was named by trans people through a critical lens and in opposition to the gender norms of modernity/coloniality; it is a concept created within social movements, outside the academy. There is a concrete difference between the discourses of trans people and those of cis people about their social belonging, referring us to the refusal, on the part of cis people, to recognize their cisgenderness. In this way, we seek to investigate the obstacles that permeate the application and recognition of the concept of cisgenderism by cisgender people, especially in the academic environment, which is the territory of our research.Neste artigo, temos como objetivo analisar o que denominamos de “ofensa da nomeação”, remetendo ao conjunto de mecanismos utilizados pela cisgeneridade para negar sua localização social cisgênera. Ao contrário das terminologias voltadas à transgeneridade, que surgiram ao final do século XIX e ganharam força na década de 1960, o conceito de cisgeneridade surgiu somente nas últimas décadas do século passado, e tem ganhado força recentemente. Se a transgeneridade foi nomeada por pessoas cisgêneras em uma ótica de patologização e com aportes institucionais acadêmicos, a cisgeneridade foi nomeada por pessoas trans por uma lente crítica e de oposição às normas de gênero da modernidade/colonialidade; é um conceito criado no seio de movimentos sociais, fora da academia. Percebe-se uma diferença concreta entre os discursos de pessoas trans e os de pessoas cis sobre seus pertencimentos sociais, remetendo-nos à recusa, por parte de pessoas cis, em reconhecerem sua cisgeneridade. Desse modo, procuramos investigar os obstáculos que perpassam a aplicação e o reconhecimento do conceito de cisgeneridade por pessoas cisgêneras, especialmente no meio acadêmico, que é o território de nossa pesquisa.En este artículo pretendemos analizar lo que denominamos “ofensa de designación”, en referencia al conjunto de mecanismos que utilizan las personas cisgénero para negar su ubicación social cisgénero. A diferencia de las terminologías centradas en la transgeneridad, que surgieron a fines del siglo XIX y tomaron fuerza en la década de 1960, el concepto de cisgeneridad surgió recién en las últimas décadas del siglo pasado, y ha tomado fuerza recientemente. Si transgénero fue nombrado en una perspectiva de patologización y con aportes académicos institucionales, cisgénero fue nombrado por a través de una lente crítica y en oposición a las normas de género de la modernidad/colonialidad; es un concepto creado dentro de los movimientos sociales, fuera de la academia. Hay una diferencia concreta entre los discursos de las personas trans y los de las personas cis sobre su pertenencia social, remitiéndonos a la negativa, por parte de las personas cis, a reconocer su cisgénero. De esta forma, buscamos indagar los obstáculos que permean la aplicación y el reconocimiento del concepto de cisgenerismo por parte de las personas cisgénero, especialmente en el ámbito académico, que es el territorio de nuestra investigación
UMA PERSPECTIVA ANARQUISTA SOBRE O SUICÍDIO, A PRODUÇÃO DA MORTE E A PRESERVAÇÃO DA VIDA
Apresentando uma revisão da forma como a Igreja, o Estado e as instituições médicas concebiam o fenômeno do suicídio na Europa dos séculos XV ao XX, o presente artigo ambiciona demonstrar as contradições existentes entre a exploração da vida pelo Estado e a preservação da vida por meio da penalização do suicídio, que, por sua vez, mascara seu caráter de manutenção da produtividade. Se o soberano, por um lado, detém o poder de matar seus súditos e a si, os súditos, por outro, não detém poder sobre seus corpos, devendo não só produzir riqueza para o soberano, como também permanecer vivos, porém na iminência da morte. Pretendemos comprovar que esses processos, embora tenham mudado de forma e justificação, seguiram princípios semelhantes, guiados por motivações econômicas e políticas
Em defesa de parentalidades transmasculinas: Uma crítica transviada ao [cis]feminismo
Almejamos, neste ensaio, desenvolver uma crítica a movimentos feministas e a estudos de gênero que, em suas elaborações sobre direitos sexuais e reprodutivos, não abarcam as demandas das transmasculinidades e/ou não reconhecem a existência de pessoas transmasculinas em sua ampla diversidade. Ao termos nossas demandas e sugestões ignoradas no seio tanto de instituições de ensino – responsáveis por produzir um saber considerado científico – como de movimentos sociais feministas, observamos algo comum às vivências transmasculinas: o apagamento de nossas narrativas e o irreconhecimento de nossas existências. É objetivo deste ensaio, então, apontar para esses processos no que tange à gravidez, direitos reprodutivos e parentalidades nas transmasculinidades