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    La réception du théâtre d’Eugène Scribe sur la scène lisboète (1822-1860)

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    Vu le caractère interdisciplinaire de ce projet de recherche qui nous a amené à la présentation d’une thèse de Doctorat sur la Réception du théâtre d’Eugène Scribe sur la scène lisboète (1822-1860), nous avons été fortement impliqués par le croisement de savoirs et de compétences dans différents domaines qui vont de la Littérature Comparée et des Études Théâtrales à l’Histoire de l’Art et des Idées. En effet, mener à bien un tel projet signifie d’emblée se centrer sur les questions de production et de création dramaturgique, sur l’art de la mise en scène et la scénographie, sur l’art de la traduction et de l’adaptation pour le théâtre, sur la constitution du répertoire des salles de spectacle, sur le goût du public et sur la circulation des modèles dramatiques et artistiques dans le panorama culturel franco-péninsulaire. Dans ce sens, nous nous sommes interrogés sur l’influence de la dramaturgie de l’auteur français sur la dramaturgie et l’art de la représentation portugaises afin de mesurer un tel impact sur le champ culturel portugais du XIXe siècle. Une réflexion de cette nature nous a obligés, par la même occasion, à réévaluer les relations existantes entre la dramaturgie étrangère et un théâtre qui se veut profondément national. L’introduction du goût envers un genre nouveau à Lisbonne, le vaudeville, se fait par le biais de la découverte de la production dramatique scribienne qui, sur le sol portugais, déclenche la vogue du théâtre musical et développe l’industrie de la création des pièces de musique et de danse. Grâce à cette importation, on doit au théâtre d’Eugène Scribe l’âge d’or de l’opéra-comique au Portugal à cette époque. L’effervescence de l'importation et de l'intégration de cette réalité littéraire et culturelle dans notre culture est due, en grande partie, à la vogue d’un certain théâtre de boulevard dont Eugène Scribe occupait une place de choix. Les répertoires des salles de spectacles à Lisbonne, au cours de la première moitié du XIXe siècle, constituent un exemple emblématique de la fortune d’Eugène Scribe au PortugalGiven the interdisciplinary nature of this research which has led to the presentation of a doctoral thesis about the reception of the drama of Eugene Scribe in the theatre scene in Lisbon (1822-1860), it has been heavily involved by exchanging of knowledge and skills in various areas ranging from Comparative Literature to Theatre Studies in the History of Art and Ideas. Indeed, to complete this project means, right from the beginning, focusing on the issues of dramatic production and creation, the art of staging and set design, the art of translation and adaptation for the theatre, the constitution of the repertory of theatres, the public’s preference, and especially, the movement of dramatic and artistic models within the Franco-Iberian space. Thus, the question is placed whether the influence of the French drama author, the dramaturgy and the art of Portuguese representation, in order to quantify the impact in the cultural field of the Portuguese nineteenth century. A reflection of this nature forces one, all at once to reassess the relationship between the foreign dramaturgy and a theatre that wants to be a profoundly national. The introduction of a preference for a new genre, in Lisbon, the vaudeville, is made through the discovery of Eugène Scribe’s dramatic production which, in Portugal, triggers the popularity of musical theatre and develops the creative industry of musical and dance plays. It is due to Eugène Scribe’s theatre that Portugal had a golden age of comical opera in that period. The effervescence of this import and integration into the literary and cultural reality of our society is due, largely, to the popularity of Eugène Scribe’s theatre, also known as Boulevard, which conquered a prominent position. The repertoires of theatre rooms in Lisbon, during the first half of the nineteenth century, are an emblematic example of Eugène Scribe’s fortune in Portugal.Dada a natureza interdisciplinar desta pesquisa, que nos levou à apresentação de uma tese de doutoramento intitulada Réception du théâtre d’Eugène Scribe sur la scène lisboète (1822-1860), fomos amplamente envolvidos pelo cruzamento de saberes nas mais diversificadas áreas que abarcam a Literatura Comparada, os Estudos Teatrais, a História da Arte e das Ideias e questões periodológicas, designadamente, em torno do Romantismo em Portugal, que indubitavelmente se operou por influência francesa. Analisamos também a importância da indústria do teatro e da reforma teatral realizada pela geração romântica, o grande número de peças de Eugène Scribe levado a cena, a progressiva democratização do teatro, a aquisição de um status social e económico do autor, o sucesso da receção dos géneros mais populares com base em adaptações, traduções e até mesmo empréstimos de obras francesas, a necessidade de adaptação de peças parisienses e a renovação do repertório de diferentes espaços teatrais. Isso permitiu-nos ver como o teatro francês foi um importante contributo para a regeneração do teatro português durante o século XIX. Além disso, levar a cabo um tal projeto implicou uma reflexão profunda sobre questões como a produção e a criação dramáticas, a arte da tradução e da adaptação para o teatro, para além da análise da constituição do repertório das salas de teatro, de uma abordagem à receção em conformidade com o gosto dos públicos e, principalmente, uma reflexão em torno da circulação de modelos dramáticos e artísticos no espaço Franco-peninsular. É durante o período romântico que o teatro de Eugène Scribe penetra decisivamente em Portugal, apesar de alguns constrangimentos entre os defensores da tradição nacional e entre os defensores da importação de modelos estrangeiros. Ao longo deste estudo, o ano de 1835 foi um verdadeiro pivot para a introdução do dramaturgo francês em Portugal, com a chegada da companhia francesa liderada e dirigida por Émile Doux ao teatro da Rua dos Condes com a representação das peças Une Faute e Les premières amours, ou les Souvenirs d’enfance. A partir deste evento, as peças de Eugène Scribe tiveram várias apresentações em várias línguas (Francês, Português e Espanhol) no palco de Lisboa, facto que contribuiu decisivamente para a renovação dos repertórios das companhias nacionais. Estudamos, na verdade, o impacto da produção dramática scribiana - nomeadamente no que concerne o vaudeville - em criadores portugueses, num momento em que se procurava reformar o teatro nacional. Neste sentido, interrogamo-nos sobre a real influência do dramaturgo francês Eugène Scribe no drama e na arte da representação em Portugal, a fim de qualificar e de quantificar o grau de receção das suas peças no panorama cultural português do século XIX. Uma reflexão desta natureza obrigou-nos, ao mesmo tempo, a reavaliar as relações de implicação existentes entre a dramaturgia estrangeira e um teatro que se proclamava profundamente nacional. Nos teatros da capital, o gosto por um novo género – o vaudeville - progride e amplia-se através da redescoberta da produção dramática de Eugène Scribe que, em solo português, fez disparar a popularidade do teatro musical e desenvolveu a indústria da criação de peças de música e dança. Graças à diversidade e à difusão de obras de Eugène Scribe, este dramaturgo é omnipresente na vida cultural portuguesa da primeira metade do século XIX. A sua comédia, Une Faute é o primeiro evento de uma história longa, que inclui uma grande e variadíssima amostragem de peças, que será cumprida com fervor e entusiasmo por várias décadas. Os escritores e os dramaturgos responsáveis pela superação daquilo que eles e o público viram como um verdadeiro atraso na dramaturgia portuguesa foram igualmente os responsáveis pela receção e pela difusão de Eugène Scribe em Portugal. É verdade que os defensores da reforma do teatro português, designadamente Almeida Garrett, procuraram e encontraram nas peças de Eugène Scribe uma veia ou uma fonte de inspiração e, simultaneamente, uma forma de renovação dos repertórios da cena lisboeta da primeira metade do século XIX. A influência, assimilação ou importação deste modelo scribiano não acontece, contudo, sem alguns obstáculos. Numerosas são as controvérsias entre os partidários da produção dramática nacional e os que, ao contrário, defendem a introdução da dramaturgia estrangeira em voga na Europa. Grande é a heterogeneidade de textos críticos e a diversidade de opiniões que circulavam na época sobre a obra do dramaturgo francês que se pautaram entre a oposição e a defesa do seu modelo, nas suas diversas modalidades, desde a imitação declarada à tradução e à adaptação. No início desta pesquisa, pensamos que o estudo da receção de Eugène Scribe em Portugal incidiria sobre os traços da influência do dramaturgo francês nas obras e no pensamento estéticos de artistas e críticos portugueses do período romântico. Mas foi mais do que isso. Com o avançar da nossa investigação, surgiu a necessidade de estudar a receção imediata de Eugène Scribe e, posteriormente ainda, a receção crítica. A receção imediata ou "a interação do autor e do público", segundo Hans-Robert Jauss, é indissociável da análise do conceito de difusão da sua obra no momento das representações. Este termo difusão é, em nossa opinião, mais capaz de descrever pela sua diversidade e pela sua heterogeneidade, os vários contactos estabelecidos, neste período da primeira metade do século XIX, entre o público português e a obra de Eugène Scribe. O estudo da difusão de Eugène Scribe em Portugal, desde o dealbar do século XIX, nomeadamente, a partir da introdução na cena portuguesa das obras do dramaturgo representadas em francês por duas companhias francesas (1822 e 1835), implicou que tivéssemos em conta as variadíssimas formas ou modalidades expressivas através das quais as peças scribianas foram representadas diante do público lisboeta. Tal facto, além disso, levou-nos a questionar não só a especificidade de cada forma, em termos da relação com o original de Eugène Scribe, mas também os modos de receção por parte do público português. A difusão de Eugène Scribe em Portugal torna-se, na verdade, massiva e multifacetada. Manifesta-se primeiramente através do original em francês, direcionando-se como tal para um público erudito e progressivamente amplifica-se pela tradução. Com efeito, a receção do teatro de Eugène Scribe em Portugal, desde 1822 a 1860, opera-se de modo paulatino, diverso, mas progressivo, desenvolvendo-se de diversas formas, (elitistas e populares, importantes e secundárias) introduzindo-se a novidade francesa na arte da representação portuguesa. Essa arte tem em comum a particularidade de abordar novos sentidos, de propor, a partir do texto de Eugène Scribe, um novo texto convertido pela tradução numa nova realidade de signos visuais e auditivos, por meio das propostas interpretativas de atores e cantores, ou através da imaginação do público. Assim sendo, o texto estrangeiro perde em parte as feições francesas e a distância cultural que o caracterizava, angariando perceções familiares ao espectador do teatro nacional. A receção da dramaturgia francesa sempre atraiu grande interesse por parte dos investigadores portugueses que, nas últimas décadas do século XX, principalmente na década de 1980, realizaram vários estudos sobre grandes autores do texto teatral francês e sobre outros géneros literários em geral. No entanto, a divulgação de Eugène Scribe nunca foi estudada - em extensão e profundidade -, pelo que, através da pesquisa que aqui se propõe, bem como das discussões derivadas da mesma, acreditamos estar a produzir um estudo que pode ser útil aos momentos de aprendizagem e reflexão científicas em torno da área da dramaturgia e da receção da cultura francesa em Portugal. Se a receção de Eugène Scribe em Portugal durante o período romântico tem críticos e historiadores pontualmente interessados, nenhuma síntese dos vários modos de distribuição tem sido realizada. Foi assim indispensável aprofundarmos estes estudos para se compreender a extraordinária influência de Eugène Scribe em Portugal durante o século XIX, e para reconstruir não apenas os grandes eventos, mas também a realidade quotidiana do recetor português. O estudo por nós levado a cabo teve assim a intenção de promover o fortalecimento e a institucionalização dos conceitos formulados sobre o teatro de Eugène Scribe, não só a nível da dramaturgia francesa como também a nível da dramaturgia portuguesa; além de dar relevo à projeção nacional e europeia do dramaturgo. Chegamos ainda a resultados muito importantes sobre a encenação, a cenografia, a arte de representar, a arte de traduzir e adaptar para teatro, a constituição dos repertórios das salas de espetáculos, o gosto do público da época, assim como a considerações sobre a circulação de modelos literários e artísticos no sul da Europa. Este estudo sobre os eventos importantes da difusão de Eugène Scribe e da sua receção imediata permitiu medir o fervor do teatro de Eugène Scribe desde a sua aparição em solo português. No fundo, desejamos evidenciar o impacto que as representações teatrais das suas peças tiveram no nosso país, ou seja, como e de que forma é que o nosso público acolheu este autor, já que mais tarde toda a sua produção literária caiu no esquecimento. Para isso, abordamos a sociologia da literatura que visa estudar o contexto de criação e difusão dos textos. Apesar das preocupações sociais em relação à literatura não serem recentes, só na segunda metade do século XX é que apareceram as primeiras tentativas de estudos sociológicos da literatura. Essa ciência encara a literatura sob diversas formas: através dos textos, do público, da inserção da obra na sociedade e do contexto histórico e geográfico. A literatura é influenciada pela sociedade que a rodeia mas também se torna instrumento social que, por sua vez, influencia essa mesma sociedade. Nesse sentido, no seio das múltiplas teorias que se desenvolveram nessa área no século passado, a teoria do chamado “campo literário” preconizada por Pierre Bourdieu assim como as noções de “polisistema” e “sistema literário” apresentadas por Itamar Even-Zohar foram as mais pertinentes para o nosso estudo. Basicamente com tais pressupostos quisemos mostrar o impacto que a circulação das peças de Eugène Scribe tiveram no panorama cultural português. A natureza desta investigação permitiu-nos, por isso, revisitar a história do teatro português, pois a receção de um autor estrangeiro implica um olhar atento sobre os repertórios dos teatros e sobre a ação de vários agentes culturais da época, desde o produtor, ao mercado, às instituições, ao consumidor, de que nos falam Pierre Bourdieu e Itamar Even Zohar. Se considerarmos a forma como foi recebida a obra de Eugène Scribe, tanto no país de origem - ou seja, em França - como num país estrangeiro - neste caso, Portugal - inevitavelmente entramos no âmbito da literatura comparada como campo de investigação que nos conduziu a uma análise comparativa que permitiu confrontar textos inerentes à adaptação e tradução das peças do dramaturgo francês, muito ao gosto do público de Lisboa. Vimos, ainda, como a dramaturgia de Eugène Scribe se insere no horizonte de expectativa do público da época e, de que forma, ele se tornou um dos dramaturgos mais representados, no século XIX, nos teatros de Lisboa. Esta análise levou-nos a refletir sobre as relações mais ou menos controversas que se desenvolveram entre a dramaturgia estrangeira e um teatro que se dizia profundamente nacional. Assim, levou-nos a procurar, a partir de fontes de natureza diversa desde a imprensa, as memórias e fotobiografias de atores e de dramaturgos, aos textos críticos e teóricos da época, os fundamentos e as respostas ao fenómeno da receção de Eugène Scribe em Portugal. Além disso, uma análise comparativa que permite reaproximar os textos relativos à adaptação e à tradução das peças do dramaturgo francês, bem ao gosto do público de Lisboa, consistiu no apanágio da nossa pesquisa, uma vez que o estudo da receção de um autor estrangeiro numa cultura nacional implica, também, a determinação de elementos que possam identificar o processo de nacionalização, mais ou menos em vigor. O teatro de Eugène Scribe é, de longe, o mais representado neste âmbito. Ele é cabeça de cartaz ao longo de décadas, não apenas em pequenas companhias teatrais como a do teatro do Salitre, mas especialmente junto da troupe do teatro nacional D. Maria II até à década de 1860. Como pode ser visto nos dois volumes do Repertório Teatral na Lisboa Oitocentista de Ana Clara Santos e de Ana Isabel Vasconcelos, mais de oitenta por cento das representações sobre o palco da capital portuguesa devem a sua origem ao repertório parisiense. Convidam-se as companhias francesas, traduz-se e adapta-se à pressa os grandes sucessos do Théâtre des Variétés, do Théâtre du Gymnase-Dramatique, ou do Théâtre de la Porte Saint-Martin. A voga da "pièce bien faite", capaz de projetar a imagem da sociedade sobre o palco interpelando o público sobre as virtudes e os vícios, justifica a reputação de Eugène Scribe sobre a cena portuguesa A afirmação deste novo gosto dramático veiculado pela importação da tradução de obras de Eugène Scribe obrigou-nos também a olhar para o fenômeno cultural em voga na época. Ao termo de tradução, devemos agora substituir sistematicamente os de imitação e de adaptação, uma vez que os textos do dramaturgo francês traduzidos não foram exceção à regra e sofreram modificações em conformidade com a prática da tradução daquele tempo bem “ao gosto português”. Em alguns casos, o tradutor escondia-se por trás da máscara do anonimato; em outros casos, a prática era mais insidiosa porque ela consistia em não declarar o empréstimo ao autor, Eugène Scribe. Expurgado e adaptado, Eugène Scribe, impõe-se então no panorama dramático português como uma figura da novidade parisiense para um público que adotou o estilo e o gosto francês. Os temas estudados aqui não pretendem, porém, ser exaustivos. Além disso, a bibliografia de traduções de peças de Eugène Scribe mostra como o reconhecimento do grande dramaturgo francês foi importante em Portugal no século XIX. Além das fronteiras do nosso país, um certo número de autores traduziram Eugène Scribe, como constatamos na quarta parte do nosso estudo, onde analisámos a projeção dramática do sistema scribiano no estrangeiro. No fundo, evidenciámos, com o nosso trabalho, o impacto que as representações teatrais das suas peças e o desenvolvimento de um novo sistema dramático tiveram em vários países da Europa. Na verdade, é certo que, devido a esta influência manifesta devemos ao teatro scribiano a idade de ouro da ópera cómica em Portugal daquele tempo. Com efeito, a efervescência em torno da importação e da integração da realidade literária e cultural francesa na nossa cultura é devida, em grande parte, à popularidade do teatro de Boulevard, modalidade em que Eugène Scribe ocupou um lugar de destaque. Os próprios repertórios dos teatros lisboetas, durante a primeira metade do século XIX, são um excelente exemplo da fortuna literária e teatral de Eugène Scribe que foi amplamente representado, traduzido, adaptado e glosado em Portugal. Os dados condensados na base de dados que elaborámos ao longo da nossa investigação e que apresentámos num dos anexos do volume 2 desta dissertação de Doutoramento traduzem, por si só, essa dimensão cultural. Em suma: através da pesquisa que aqui levámos a cabo, bem como das discussões derivadas da mesma, acreditamos ter elaborado um estudo profícuo para a aprendizagem e reflexão científicas em torno da área da dramaturgia e da receção de um dos autores franceses do século XIX com maior projeção na Europa. Esperamos, por isso, ter contribuído um pouco para um conhecimento mais acentuado da nossa cultura teatral oitocentista e da cultura literária e teatral francesas em Portugal nesse período
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