Adolescentes vítimas de violência sexual: olhares para a família

Abstract

O presente trabalho aborda as significações sobre família a partir do olhar de adolescentes vítimas de violência sexual. A pesquisa teve como sujeitos dez adolescentes, sendo cinco vítimas de violência sexual intrafamiliar e cinco extrafamiliar, que foram atendidas em um serviço de saúde especializado em Manaus, Amazonas. Objetivou investigar os significados dados à família, bem como o papel, as relações e conflitos e a hierarquia familiar, além da relação da família com a violência sexual, a partir da visão dos sujeitos investigados. Tratou-se de uma pesquisa qualitativa com embasamentos da psicologia sócio-histórica, cuja análise se deu a partir de núcleos de significação dos sentidos. Teve como instrumentos para coleta de dados, o prontuário multiprofissional das adolescentes no serviço de saúde e entrevista semi-estruturada. Observou-se que as adolescentes significaram a família a partir de valores construídos socialmente, que referimos enquanto uma visão idealizada de família, visto que na maioria das vezes não correspondia com a realidade relatada pelas adolescentes. As pessoas significadas pelas adolescentes como família foram as que tinham maior proximidade afetiva em relação a estas, incluindo seus parceiros afetivos, sendo a família configurada de forma fluida, além dos domínios do lar. Os papéis familiares foram aludidos em consonância aos valores indicados à família, com função de cuidados e afetos, tendo sido considerados também de forma idealizada em alguns casos. As significações dadas aos papéis se encontravam dentro do pensamento da cultura patriarcal, com divisão assimétrica de poderes, que coloca a mulher em um lugar inferior. O papel da mãe teve maior referência, onde esta concentrou todos os papéis estabelecidos à família em geral, além da visão estereotipada construída historicamente que coloca a mulher/mãe como a responsável pelo domínio do lar, do mundo privado. Nas inter-relações, cinco das adolescentes referiram suas famílias como mais conflitivas que harmoniosas, e outras cinco significaram os inter-relacionamentos também com conflitos, porém com presença de diálogo, cumplicidade e afeto, que amenizavam as tensões. Os conflitos se davam por motivos diversos, tendo chamado atenção o grande número de relatos de brigas familiares por questões financeiras. A mãe e a avó foram referidas como os vínculos mais significativos para as adolescentes. No estudo das hierarquias familiares, as adolescentes elegeram mulheres como pessoas de referência familiar. Na relação da família com as vitimizações ocorridas, observamos a partir da fala das adolescentes que de alguma forma esta família estava envolvida, e a relação entre a vítima e o autor da violência foi marcada pelo medo e segredo. Ficou claro ainda que, as adolescentes que tiveram a família ao seu lado no momento e após a revelação da vitimização sexual, auxiliaram para que estas se recuperassem mais rápido, e houvesse ainda uma melhora nos relacionamentos familiares. Acreditamos ser inegável a importância e influência da família para as adolescentes vítimas de violência sexual, sendo assim necessário mais pesquisas sobre a temática dentro de um viés psicossocial sobre a família, especialmente a partir dos sujeitos que sofreram a violência, para maior viabilização de ações práticas de suporte familiar e prevenção da violênci

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Last time updated on 10/08/2016

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