Este trabalho consiste num esforço teórico de compreensão do pensamento do psicólogo russo L. S. Vigotski (1896-1934); nosso objeto de estudo é o conceito de consciência em sua obra. A dissertação é iniciada com uma introdução geral ao tema e uma justificativa para seu estudo; seguimos com um capítulo metodológico em que relatamos as etapas por que passou a investigação e a natureza mesma da pesquisa. O terceiro capítulo é dedicado à história de
Vigotski, e de como estão entrelaçadas suas vidas pessoal, profissional e intelectual e de como elas estão ligadas, ainda, à história da Rússia. Uma importante reflexão metodológica e epistemológica sobre a psicologia feita por Vigotski reside no diagnóstico de uma crise na ciência psicológica do início do século XX, e é a ela que dedicamos o quarto capítulo. O
psicólogo argumentou que as psicologias existentes em sua época se dicotomizavam
basicamente em dois eixos: um idealista, com pouca adequação à ciência da época, e um
científico-natural materialista, que terminava por reduzir o fenômeno psíquico a processos físicos ou fisiológicos. Baseando-se nessa crítica epistemológica e inspirado, principalmente, pelo materialismo dialético e histórico marxista, Vigotski sugeriu como via alternativa a
reintegração da psicologia sob uma metodologia de orientação dialética; uma psicologia que, sem prescindir do fenômeno psíquico, tivesse critérios metodológicos adequados à feitura de um conhecimento verdadeiramente científico. O objeto de estudo desta psicologia era a consciência, à qual nos dedicamos no quinto capítulo, especificamente. Após uma breve análise do significado da noção de consciência para os sistemas teóricos do behaviorismo,
psicanálise e Gestalt, investigamos a natureza deste conceito, suas transformações na obra de Vigotski e seu modo de apreensão e estudo. O conceito de consciência e a forma como devemos estudá-la são, para nós, uma forma de materializar algumas preocupações de Vigotski, principalmente quando nos debruçamos sobre três fatores em particular: primeiro, a natureza material e objetiva do fenômeno psíquico; depois, o método de acessar essa consciência, através do estudo do desenvolvimento das funções psicológicas ao longo da história e, finalmente, na proposição de uma unidade de análise – o significado da palavra –
para empreender o estudo da consciência, embora este seja um tópico polêmico entre os
estudiosos de sua obra. Na conclusão, resgatamos algumas possíveis implicações do estudo da consciência no pensamento de Vigotski para o campo da educação: o combate contra o uso “normativo” de Vigotski e a idéia de uma consciência formada pela cultura e pela história, sendo a escola um ambiente privilegiado de desenvolvimento desta consciência. Mapeamos alguns usos deste conceito na psicologia e áreas afins como a neurociência e a filosofia da
mente; e a relação, em especial na psicologia brasileira, entre o conceito de consciência e o de subjetividade. Discutimos, ainda, algumas apropriações do pensamento vigotskiano por autores contemporâneos de diferentes tradições epistemológicas e, por fim, chamamos
atenção para o caráter em certa medida atual da “crise” na psicologia diagnosticada pelo
psicólogo russo. Aliado a isso, enfatizamos a importância que ainda possui a reflexão
metodológica no campo psicológico
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