Este trabalho, reconhecendo a importância da obra de dois dos mais relevantes pensadores do século XX, relacionará as contundentes escritas do ficcionista brasileiro Graciliano Ramos e do filósofo alemão Theodor Adorno. Ambos iniciaram suas trajetórias antes da Segunda Grande Guerra Mundial e, apesar de contextos bastante diferentes um, no arcaico e místico sertão alagoano; outro, na sofisticada e idealista Frankfurt , sofreram graves consequências de suas posturas. O autor de Vidas secas teve na infância uma criação extremamente punitiva a cargo das condições socioeconômicas e religiosas dos pais e, adulto, conviveu com muitas perseguições de cunho fascista, que desembocaram em sua prisão na ditadura de Getúlio Vargas, em período que antecedeu o Estado Novo. O judeu-alemão protagonizou uma labuta permanente contra o nacional-socialismo de Hitler, desde sua jovem formação acadêmica e, depois, com a fundação do Instituto de Pesquisas Sociais em Frankfurt, decisão que lhe forçou ao exílio. De volta, por fim da guerra, continua suas reflexões em oposição ao sistema capitalista e aos regimes de exceção. Quanto a Graciliano, sua passagem pela prisão o estimulou a elaborar narrativas a partir dos seus próprios percalços e dos problemas da sociedade brasileira. O fato é que ambos, cada qual a seu modo, fizeram de suas obras veículos de crítica e contestação a poderes e valores instituídos. Esta tese se propõe a articular uma história cruzada, trazendo o debate de alguns conceitos como sofrimento e melancolia, catástrofe e trauma, ateísmo, não-idêntico, arte e trabalho, literatura e nacionalismo, linguagem e sociedade que se fazem constantes em seus livros, que, em suma, interpretam o mundo como uma catástrofe permanente
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