O presente artigo aposta na força de contar histórias. Narrar é um ato ético, estético e político, desenvolvido na psicologia social para recuperar memórias, trajetórias, condições, vidas e experiências que são sistematicamente postos à margem, quando não intencionalmente destruídos, apagados. O texto opera como uma brincadeira de rememoração e invenção. No decorrer das lembranças, crianças desestabilizam a relação contínua entre passado, presente e futuro. Longe da ideia de um passado estanque, imagens da infância protagonizam histórias trocadas entre duas amigas. Assim, aqui vigoram histórias como a de uma criança que brinca com os restos da urbe, outra que se fantasia e inventa para si outras vidas, outra ainda, que no percurso pela cidade resiste ao empuxo à conformação binária dos lugares. Todas elas sustentando singularmente a invenção de outros gestos. Aqui o ato de rememoração e narração soa como imperativo ético para enfrentar e os discursos que atravessa os corpos e modulam as experiências. A inflexão central deste artigo não está na busca por verdades sedimentadas no tempo passado das histórias narradas, tampouco na ânsia por respostas esclarecedoras. Através da rememoração, invenção e montagem de imagens distintas podemos estabelecer quadros de significação que suportem, mesmo que temporariamente, a complexidade das experiências atuais. Apostamos que o exercício narrativo opera como vetor desestabilizador dos modos de hegemônicos de experimentar e representar gênero e sexualidade nos cenários da urbe