Tese de Doutoramento em Ciências Jurídicas (Especialidade em Ciências Jurídicas Públicas)Os grandes riscos causados pelos avanços tecnológicos da pós-modernidade, que se
aperfeiçoaram com o processo de globalização iniciado no século passado, trouxeram a
aviltante degradação ambiental que grassa no planeta no presente momento histórico. Passa o
Direito a desempenhar importante papel na regulação dos comportamentos que podem causar
riscos e danos ao ambiente, momento em que surge, na esfera penal, a necessidade de tutela
deste bem jurídico, que se prolifera através de uma dogmática repleta de crimes de perigo
abstrato, normas penais em branco e de condutas cumulativas nas diversas legislações da
atualidade. A responsabilidade da pessoa jurídica também é contemplada em diversos Estados.
Todavia, parcela da doutrina sustenta que a utilização destas técnicas de tipificação pelos
ordenamentos jurídicos não se encontra em sintonia com os princípios clássicos do Direito Penal,
o que a leva a posicionar-se pela exclusiva salvaguarda dos bens jurídicos individuais. Volve-se,
então, ao seguinte questionamento: deverá relegar-se a proteção do meio ambiente, bem jurídico
de natureza supra-individual, a outros ramos do Direito ou até à gerência governamental, ou
caberá espaço para a sua proteção no âmbito do Direito Penal? Admitida a inclusão deste bem
na esfera penal, como deverá realizar-se a sua legítima tutela? Tomou-se como parâmetro, na
investigação, o exame das legislações portuguesa e brasileira, quando se concluiu que o
Direito Penal há de oferecer, ao lado das esferas civil e administrativa, a sua contribuição para
que os danos e perigos de ordem ambiental se mantenham em parâmetros comunitariamente
suportáveis. Isto se justifica com base em uma mudança de paradigma punitivo que passou a
ser exigida pela sociedade contemporânea, especialmente na área ambiental. Do exame dos
tipos previstos no Brasil e em Portugal, verificou-se que a criminalização dos
comportamentos que degradam o meio ambiente será considerada legítima, ainda que se
perfaça através de delitos de perigo abstrato, cumulativos e de normas penais em branco,
desde protejam verdadeiros bens jurídicos e se realizem nos ditames constitucionais. A
responsabilidade da pessoa jurídica é também um fator ingente de política criminal em ambos
os países, que buscam eliminar as injustiças provenientes da prática de ilícitos por parte de
funcionários de baixo escalão que, quase sempre, seguem as diretrizes de um programa
empresarial. A orientação teleológica e racional funcionalista roxiniana foi eleita na
investigação como norte na devida avaliação da perigosidade que possa ser causada ao bem
jurídico ambiental, pois se liga primordialmente aos valores consagrados nas Constituições de
muitos Estados Democráticos de Direito entre os quais está a proteção do meio ambiente e a
dignidade da pessoa humana.The great risks caused by the technological advances of postmodernity, which have
been improved by the process of globalization begun in the last century, have brought the
derogatory environmental degradation that is spreading on the planet in the present historical
moment. The Law then plays an important role in regulating behaviors that cause risks and
damages to the environment, at a time when, in the criminal area, the need for protection of
this legal good arises, which is proliferated through a dogmatics full of abstract crimes of
danger, unregulated criminal norms and cumulative offenses in the various current
legislations. The responsibility of the legal entity is also contemplated in several States.
However, part of the doctrine supports that the use of these definitions techniques in legal
systems is not in line with the classic principles of Criminal Law, which leads it to position
itself by the exclusive safeguard of individual legal goods. The following question then arises:
should we relegate protection of the environment, legal right of a supra-individual nature, to
other branches of law or even to governmental management, or there is space for its
protection also under Criminal Law? Accepted to the inclusion of this good in the criminal
sphere, how should be its legitimate protection? It was taken as a parameter, in this
investigation, the examination of Portuguese and Brazilian legislation, when it was concluded
that the Criminal Law must offer, alongside civil and administrative spheres, its contribution
so that damages and environmental dangers can remain in communally bearable standards.
This is justified on the basis of a punitive paradigm shift that has been demanded by
contemporary society, especially in the environmental area. In examining the criminal
offences fixed in Brazil and Portugal, it has been found that criminalization of behaviors that
degrades the environment will be considered legitimate, even if it is done through abstract
crimes of danger, cumulative offenses and unregulated criminal norms, provided that they
protect true juridical goods and take place in the constitutional dictates. The responsibility of
the legal entity is also an enormous factor of criminal policy in both countries, which seek to
eliminate the injustices coming from illicit practices by low-level employees, who almost
always follow the business program guidelines. The teleological and rational functionalist
roxinian orientation was chosen in the investigation as theoretical basis in the due evaluation
of the danger that can be caused to the environmental juridical good, because it is primarily
linked to the values enshrined in the Constitutions of many Democratic States of Law among
which is the protection of the environment and the dignity of the human person.Les grands risques provoqués par les avancées technologiques de la post-modernité, qui
ont été perfectionnées par le processus de mondialisation débutant au siècle dernier, ont
conduit à la dégradation environnementale dégradante qui afflige notre planète dans le
moment historique actuel. Le Droit commence à jouer un rôle important dans la régulation des
comportements susceptibles de causer des risques et des dommages à l'environnement, à un
moment où surgit, dans le domaine pénal, la nécessité de protection de ce bien juridique, qui
prolifère par une dogmatique pleine de crimes de dangers abstraits, de normes pénales a priori
et des conduites cumulatives dans les diverses lois actuelles. La responsabilité de la personne
morale est également envisagée dans divers États. Cependant, une partie de la doctrine
soutient que l’utilisation de ces techniques de typification dans les systèmes juridiques n’est
pas conforme aux principes classiques du droit pénal, ce qui l’amène à se positionner pour la
sauvegarde exclusive des biens juridiques individuels. Nous passons donc à la question
suivante : devrait-on reléguer la protection de l’environnement, bien juridique de nature
supra-individuelle, à d’autres branches de la loi ou même à la gestion gouvernementale, ou un
espace lui reviendra-t-il pour qu’il soit protégé dans le cadre du droit pénal ? Une fois admise
l’inclusion de ce bien dans la sphère pénale, comment devrait être conduite sa tutelle
légitime ? Nous avons pris comme paramètre dans notre étude l’examen des législations
portugaise et brésilienne, d’où nous avons conclu que le droit pénal doit offrir, aux côtés des
sphères civile et administrative, sa contribution afin que les dommages et les dangers
environnementaux demeurent conformes aux normes communautaires. Ceci est justifié par un
changement de paradigme punitif qui a été réclamé par la société contemporaine, en
particulier dans le domaine de l'environnement. Suit à l’examen des types envisagés au Brésil
et au Portugal, nous avons constaté que la criminalisation d’un comportement qui dégrade
l’environnement sera considérée comme légitime, même si elle est accomplie par des dangers
d’infractions, cumulatifs et normes pénales a priori, tant qu’elles protègent de vrais biens
juridiques et soient conformes aux préceptes constitutionnels. La responsabilité des personnes
morales est également un facteur majeur de la politique criminelle dans les deux pays, qui
cherchent à éliminer les actes répréhensibles des pratiques illicites de la part de simples
employés qui suivent souvent les directives d’un programme d’affaires. L’orientation
téléologique et fonctionnaliste roxinienne a été choisie dans l’étude comme orientation dans
l’évaluation effective de la dangerosité qui peut menacer le bien juridique environnemental,
puisqu’elle est liée principalement aux valeurs consacrées dans les Constitutions de plusieurs
États de droit démocratiques parmi lesquels se trouvent la protection de l’environnement et la
dignité de la personne humaine