'Centro de Estudos Geograficos (IGOT) Universidade de Lisboa'
Doi
Abstract
Neste artigo procuro analisar porque é que o filme I cruzeiro de férias às
colónias ocidentais, encomendado ao prestigiado fotógrafo de arte San Payo para registar
o “primeiro cruzeiro de soberania” organizado pela Agência Geral das Colónias, foi projectado
uma única vez durante o Estado Novo. Filme de viagens, um subgénero do cinema
colonial de propaganda, é uma das primeiras obras de propaganda oficial com a qual se
pretende projectar a ideia de que “Portugal não é um país pequeno”: (re)construir o país
através de um novo mapa do império, portanto. Filme-sintoma de uma “cultura de mobilidade”,
identificada por Jean Brunhes, quer atestar o domínio do espaço imperial através
das novas tecnologias da comunicação. Inconsciente desse fenómeno, da aceleração, terá
sido vítima da desintegração do olhar sobre o quotidiano das colónias? Ter-lhe-á faltado,
para cumprir o desígnio de projectar a grandeza da nação, um movimento, mais íntimo,
da contemplação para a compaixão (Orlando Ribeiro)?This paper analyses why the film 1º cruzeiro de férias às
colónias ocidentais (First Holiday Cruise to the Western Colonies), commissioned to the
noted art photographer San Payo, was projected only once during the Estado Novo. This
voyage movie, subgenre of colonial cinematic propaganda, is one of the first works of
official propaganda intended to show that “Portugal is not a small country”: therefore, to
(re)build the country through a new imperial map. This film is symptomatic of “mobility
culture”, identified by Jean Brunhes; its purpose is to testify to the rule of imperial space
through new communication technologies. Unaware of this phenomenon of acceleration,
this movie may have been a victim of the shattered vision of day-to-day life in the colonies. To fulfil its design to project the nations’ greatness, it might have lacked an even
more intimate movement that would behold compassion (Orlando Ribeiro)