research

Um (novo) cuidar: os acompanhantes no Serviço de Urgência

Abstract

Introdução: A confrontação com o Serviço de Urgência (SU) pode afetar a pessoa (doente) e seus acompanhantes. O SU, pelas caraterísticas de imprevisibilidade, variedade de casos clínicos e necessidade de agir de forma rápida e segura, pode ser visto de forma impessoal e, em acréscimo, potenciar sentimentos negativos, como dor, sofrimento, ansiedade, desconforto e medo da perda, associados às situações clínicas de instalação súbita, com risco ou comprometimento de uma ou mais funções vitais. O enfermeiro, no acompanhamento contínuo ao doente, deve ser capaz de avaliar e intervir nas suas necessidades e nas dos seus acompanhantes, objetivando minorar os efeitos negativos desta transição saúde-doença. Objetivos: O presente estudo pretende: i) identificar as vivências dos enfermeiros do Serviço de Urgência face ao cuidar da pessoa na presença de acompanhantes; ii) identificar as vivências dos acompanhantes da pessoa que recorre ao Serviço de Urgência face à sua inclusão no cuidar; tendo como finalidade poder contribuir para a melhoria das práticas de enfermagem no Serviço de Urgência. Métodos: Revisão da literatura orientada pelas questões de investigação “Quais as vivências dos enfermeiros do Serviço de Urgência face ao cuidar da pessoa na presença de acompanhantes?” e “Quais as vivências dos acompanhantes da pessoa que recorre ao Serviço de Urgência face à sua inclusão no cuidar?”. Para a seleção de estudos recorreu-se à pesquisa em bases de dados eletrónicas, via SciELO e B-on, e no Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal, no idioma português, em torno dos conceitos-chave “família” e “cuidados de enfermagem”; “acompanhantes” e “serviço de urgência”. Foram selecionados 6 artigos, com restrição de data entre 2010 e 2016. Resultados: Os enfermeiros reconhecem que os doentes ficam mais calmos na presença de acompanhantes ou quando sabem que estes estão informados; a sua presença funciona como um apoio e facilita a transmissão de informação. Nesta parceria de cuidados, os enfermeiros sentem-se confiantes, seguros e satisfeitos com as suas práticas. A sobrecarga de trabalho, a falta de recursos e de espaço físico, e a impaciência e exaltação de alguns acompanhantes dificultam esta presença, interferindo na prestação de cuidados. Os acompanhantes crêem que a sua presença é um direito, diminui o sofrimento e providencia conforto. Reconhecem escassez de recursos, falta de organização dos equipamentos e de formação profissional, postura agressiva e distante dos enfermeiros. Contestam o elevado tempo de espera até serem informados ou visitarem o doente, uma das suas principais necessidades. Discussão: Os estudos salientam a importância da inclusão dos acompanhantes no SU, impulsionadora da sua satisfação e da dos profissionais. Apesar dos benefícios desta inclusão serem reconhecidos pelos enfermeiros, na prática esta nem sempre é realizada, o que pode estar relacionado com a sua formação académica e experiência profissional, com a vigência do modelo biomédico e uma conceção de família como contexto e não como alvo de cuidados, ou, ainda, com caraterísticas pessoais de personalidade e de sensibilidade para agir como motor de mudança. A elevada afluência de doentes e acompanhantes desafia os enfermeiros a uma adequação do ambiente para lhes conceder privacidade, intimidade, conforto e garantir o sigilo profissional. Os acompanhantes, centrados apenas no doente, são também desafiados a adotar uma postura calma e colaborante, que facilite e valorize a sua presença no SU. Conclusões: A inclusão dos acompanhantes no SU apela à adoção de estratégias que garantam uma prática especializada, eficaz e baseada na evidência, sem descurar a essência da profissão - o cuidar. A escuta ativa, disponibilidade, simpatia, acolhimento e acompanhamento, prontidão de informação e comunicação assertiva são gestos que, parecendo insignificantes, podem fazer a diferença. A nível organizacional, a formação, reflexão e partilha em equipa podem sensibilizar e envolver os profissionais na mudança que se impõe. Em Portugal, é parca a literatura sobre esta temática. Este estudo constitui um ponto de partida para repensar as políticas e práticas de acompanhamento no SU e fomentar novas investigações

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