Instituto Politécnico de Setúbal. Escola Superior de Educação
Abstract
Este artigo surge na sequência de uma comunicação apresentada no seminário internacional – Entre a teoria, os dados e o conhecimento: Investigar práticas em contexto –, que decorreu na Escola Superior de Educação (ESE) do Instituto Politécnico de Setúbal, em outubro de 2014. O convite que me foi feito visava uma comunicação focada nas teorias e práticas da animação sociocultural, ao qual tive o prazer de responder afirmativamente. Importa contextualizar porque uma das formações que a ESE oferece é a da Licenciatura em Animação e Intervenção Sociocultural. À partilha da minha experiência académica1 e prática da animação sociocultural decidi juntar a análise da mediação cultural por estarem intimamente conectadas nos terrenos de ação e porque o tema central do meu doutoramento é o estudo comparativo das mediações culturais no ensino da música em contextos socioculturalmente desfavorecidos em Portugal, no Brasil e na Venezuela. A comunicação original foi pensada para um público de estudantes do curso de Animação e Intervenção Sociocultural mas neste artigo abro a reflexão a novos públicos partindo do princípio que todos podemos ser animadores e mediadores socioculturais: por estarmos em sociedade influímos nas mediações que surgem ao animar-se a vida em coletivo.Proponho começar por analisar as origens da animação sociocultural, contextualizando as suas práticas no tempo, no espaço e em função dos públicos-alvo. Passarei depois às definições possíveis da mediação cultural, conceito polissémico tanto na teoria como na prática. Numa segunda fase tentarei exemplificar a complexidade dos trabalhos de animação e mediação socioculturais a duas escalas: macro – correspondente aos aspetos institucionais; e micro – relativo aos aspetos mais interpessoais entre o animador/mediador e os seus públicos. Para terminar, no momento em que escrevo esta proposta de artigo faz duas semanas que aconteceram os atentados de Janeiro 2015 em França. Proponho concluir o artigo inserindo este acontecimento trágico e revelador de problemas socioculturais profundos, sobre os quais os animadores e mediadores podem influir de forma preventiva. Tentaremos entender qual o papel e a responsabilidade dos animadores socioculturais no sentido de prevenir a ocorrência de profundas “frustrações” nos jovens que crescem em meios familiares e sociais extremamente debilitados. Por fim importa falar do pós-tragédia, do futuro, da relevância fulcral que têm os professores, animadores e mediadores na criação de condições básicas para ser-se um cidadão emancipado no seu meio local e global.
Permitam-me que faça três salvaguardas: escrevo este artigo baseado na minha experiência profissional de animador sociocultural e de mediador cultural mas também baseado nas minhas investigações de doutoramento; tomarei assumidamente uma postura de defesa dos trabalhos de animação e mediação, partindo das ações mais explícitas mas insistindo no implícito pela subtileza dos aspetos simbólicos; por fim, sendo de origem francesa vou servir-me da realidade no país que melhor conheço, a França, que serve aqui de ponto de partida para uma reflexão possível de adaptar a outros território