research

Três figurações do humano nas utopias tecnológicas: o monstro de Frankstein, o robô e o homem «biónico»

Abstract

A tensão entre a fragilidade da condição humana e o poder dos desígnios da natureza produziu, desde os tempos mais ancestrais, duas importantes dimensões explicativas para a experiência da aventura humana: a ciência e o sonho. A nossa contemporaneidade marca, como se sabe, a crise do sonho (Castoriadis; Bastide) e a celebração da ciência (Fukuyama). Partindo da tese de que a ciência e o sonho são interdependentes, que a dimensão inteligível e a dimensão «maravilhosa» dos fenómenos se confundem num mesmo objecto de investigação e que a relação entre o sujeito e o objecto de estudo pode ser bidireccional, procura-se questionar a supremacia do Homem sobre as realizações da tecnologia. Propõe-se, para o efeito, a análise de três grandes paradigmas da criação de vida artificial que animam o nosso imaginário em torno desta questão: o monstro de Frankenstein, o robô e o homem «biónico». Tomando por objectos o romance de Mary Shelley, os estudos realizados na área da Inteligência Artificial e um conjunto de filmes sobre seres criados pelo Homem que o cinema nos legou, esta análise tem ainda em consideração a dicotomia determinismo / modelação que marca a discussão em torno do modo como se tem vindo a desenvolver a tecnociência. Conclui-se que a génese de qualquer um destes paradigmas se suporta, indiscutivelmente, no mito da deificação do Homem. O desejo de domínio do enigma da vida e a busca da supressão da morte encontram-se na base de um sonho que a ciência parece tornar cada vez mais possível: a criação de um ser à nossa imagem e semelhança. Mas aspirar à eternidade num tempo em que se celebra o efémero e em que se abandonaram as grandes finalidades, denuncia o empobrecimento do sentido escatológico da existência humana. Para quê uma tão grande realização quando a participação e a cidadania parecem estar tão ameaçadas pelo vazio do individualismo e do conformismo do Homem do nosso tempo? Aqui se encontra o maior dos paradoxos do nosso tempo. A recuperação da ideia da reconciliação do Homem com a Natureza, proposta pela Teoria Crítica Clássica, pode assim configurar a nossa nova utopia, na qual o Homem controla a sua relação com a tecnologia através da assumpção de uma condição que lhe é intrínseca: o de ser natural

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