Dissertação de mestrado integrado em Engenharia Biomédica (área de especialização em Engenharia Clínica)A vaginose bacteriana (VB) é um distúrbio da flora vaginal normal e um importante
problema de saúde pública em mulheres de idade reprodutiva. A VB é caracterizada pela
substituição de lactobacilos vaginais por microrganismos, predominantemente,
anaeróbios. Desconhecendo-se a etiologia da VB, duas hipóteses tentam explicar esta
condição: a hipótese polimicrobiana, que infere que a VB é causada por uma mistura de
bactérias patogénicas, principalmente anaeróbias; e outra hipótese que aponta para a
Gardnerella vaginalis como o verdadeiro agente causador da VB. No entanto o
isolamento frequente desta espécie em mulheres aparentemente saudáveis lançou dúvidas
sobre essa afirmação. Assim, num esforço para se compreender a etiologia desta doença,
foram realizados ensaios de adesão in vitro para comparar a capacidade de adesão de
vários isolados vaginais provenientes de exsudados vaginais de mulheres que foram
diagnosticadas como tendo VB e de mulheres saudáveis. No total, foram caracterizados
15 isolados vaginais quanto à sua capacidade de adesão inicial numa monocamada de
células HeLa. Estes ensaios revelaram que os isolados de G. vaginalis apresentaram uma
capacidade de adesão inicial mais forte do que os outros isolados analisados. Além disso,
estirpes de G. vaginalis isoladas de pacientes com VB apresentaram uma maior
capacidade de adesão inicial do que as estirpes de G. vaginalis que foram isoladas de
mulheres saudáveis. Assim, a fim de compreender as diferenças verificadas, foi estudada
a competição entre lactobacilos (Lactobacillus iners, Lactobacillus crispatus e
Lactobacillus casei) e estirpes de G. vaginalis (não-patogénicas e patogénicas). Todos os
ensaios de competição foram quantificados por microscopia de fluorescência, usando
DAPI para contar as células totais e uma sonda de PNA-FISH para quantificar G.
vaginalis. Os resultados mostraram que a adesão de L. iners não diminuiu na presença de
estirpes patogénicas de G. vaginalis. Pelo contrário, o L. crispatus mostrou uma
diminuição na capacidade de adesão às células epiteliais na presença de estirpes
patogénicas de G. vaginalis. O L. crispatus mostrou, também, que tem uma grande
capacidade de inibir a adesão de isolados patogénicos de G. vaginalis. Por sua vez, o L.
casei foi o lactobacilos menos aderente de todos os utilizados no presente estudo. Como
resultado, estes estudos de adesão ajudam a fornecer informações sobre a situação clínica
na qual os lactobacilos vaginais indígenas podem interferir com a presença de G.
vaginalis na microflora vaginal.Bacterial vaginosis (BV) is an unhealthy disturbance of the normal vaginal flora and an
important public health problem in women in reproductive age. BV is characterized by
the replacement of vaginal lactobacilli by predominantly anaerobic microorganisms. The
lack of basic information about the etiology of BV has lead to the postulation of two
hypotheses. The first is the polymicrobial hypothesis, which infers that BV is caused by a
mixture of pathogenic bacteria, mainly anaerobes. The second is that a single pathogenic
species, in many cases Gardnerella vaginalis is the causative agent of BV, but frequent
isolation of this species from seemingly healthy women has cast doubt on this claim. So,
in an effort to tease apart the aetiology of this disorder, in vitro adherence assays were
performed to compare the initial adhesion, the first step of biofilm formation, of G.
vaginalis relative to other microorganisms isolated from vaginal swabs from patients with
BV and healthy women. In total, 15 unique vaginal isolates were characterized for their
initial adhesion ability to a monolayer of the HeLa cells. These assays revealed that G.
vaginalis isolates had a stronger initial adhesion capability than the other isolates
recovered. Furthermore, G. vaginalis strains isolated from BV patients had stronger initial
adhesion ability than G. vaginalis isolated from healthy women. In order to understand
these differences, the competition between lactobacilli (Lactobacillus iners, Lactobacillus
crispatus and Lactobacillus casei) and G. vaginalis strains (non-pathogenic and
pathogenic) was studied. All competition assays were quantified by fluorescence
microscopy, using DAPI for total cell count and PNA-FISH probe for G. vaginalis
quantification. The results showed that L. iners did not decrease in presence of pathogenic
G. vaginalis strains. In contrast, L. crispatus showed a decreased adherence capacity to
epithelial cells in the presence of pathogenic G. vaginalis strains. Furthermore, the results
showed that L. crispatus could be important for antagonizing the pathogenic strains of G.
vaginalis. In turn, L. casei was the least adherent of the all lactobacilli used in this study.
As a result, adherence studies help to provide insight into the clinical situation in which
indigenous vaginal lactobacilli can interfere with G. vaginalis presence in vaginal
microflora.Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) - Projeto FCOMP-01-0124-FEDER-008991 (PTDC/BIA-MIC/098228/2008).This work was supported by European Union funds (FEDER/COMPETE