thesis

Continuidade e descontinuidade no contexto da globalização: um estudo de feiras em Portugal e no Brasil (1986-2007)

Abstract

Tese de douramento em História (ramo de conhecimento em Idade Contemporânea (UMINHO) e História Social (UFBA)Na Europa e na América as feiras sempre tiveram uma importância muito grande, ultrapassando o seu papel comercial nas cidades e transformando-se, em muitas sociedades, em entrepostos de trocas culturais e de aprendizado, nos quais os transeuntes de várias localidades se congregam e estabelecem laços de sociabilidade. No período atual de propagação e consolidação do ideário e práticas da globalização contemporânea, apesar de o capitalismo periférico se instalar a uma velocidade acentuada, com a emergência de novos lugares de consumo — a exemplo dos supermercados e hipermercados, centros comerciais e portais de consumo —, as feiras continuam a existir com características múltiplas, de polissémicas sociabilidades, um espaço de mobilidades comerciais e sociais que se concretizam através das diversificadas transformações ocorridas, não só na localização geográfica e produtos comercializados, mas também nas formas de fazer a feira: atos, gestos, performances corporais, movimentos e dizeres, fomentados pelos atores sociais que frequentam e transitam pelos seus labirintos. Neste sentido surgiu o interesse deste estudo, qual seja, o de perceber como estes comércios tradicionais conseguem conviver e resistir aos impactos causados pela globalização na atualidade. Para responder a este questionamento, tivemos que trilhar dois caminhos: primeiro identificar os impactos e posteriormente as estratégias de continuidade e de descontinuidade que os personagens das feiras tiveram que assumir para que estas se mantivessem na atualidade como lugares de consumo. Percebemos inicialmente que, diante da efervescência da globalização, mesmo que as feiras busquem a manutenção, a conservação de algumas tradições, é notoriamente impossível que estes mercados tradicionais se mantenham no decurso do tempo, sem alterações. Para entendermos melhor tais táticas e estratégias, elegemos como loci de investigação as feiras das urbes minhotas portuguesas — nomeadamente Ponte de Lima, Barcelos e Vila do Conde — e as nordestinas brasileiras — de Campina Grande-PB, de Caruaru-PE e a feira de São Joaquim, localizada em Salvador-BA. Com as particularidades que as aproximam e distanciam foi possível percebermos, de modo comparativo, os impactos da globalização nas feiras destes dois universos. Tivemos em conta os valores históricos, sociais, culturais e económicos da cidade que as acolhe. Para responder às indagações, delimitamos a pesquisa entre os anos de 1986 e 2007, por entendermos ser este o período em que ocorreram transformações importantes na Europa, bem como em Portugal que aderiu à CEE. Na América Latina, o Brasil vivia o fim do período ditatorial e a redemocratização política. Ambos os processos contribuíram para a abertura económica de mercado, a liberalização do comércio e a implantação da política neoliberal influenciada pela ideologia globalizada do capitalismo de mercados, diante da crise dos Estados, cujas funções estavam em processo de redefinição. Quanto aos impactos da globalização, percebemos o desemprego, informalidade, migração e imigração, diversidade cultural, hibridação identitária, implantação de novos lugares de consumo, adaptação à nova lógica de mercado frente aos blocos económicos, abertura de mercado aos produtos importados, com destaque para os produtos chineses. Em relação às estratégias e adaptações utilizadas pelos feirantes detetamos as substituições das mercadorias e das formas de pagamento. Em relação ao poder público percebemos que este, sobretudo no Brasil, tem iniciado a busca pelo reconhecimento destes lugares como património imaterial, destacando as políticas de salvaguarda e os projetos de requalificações destes lugares. Entretanto, apesar das ressignificações e readequações às dinâmicas de mercado, as feiras contemporâneas passam por uma elevada crise de sobrevivência, de descontinuidade. Se de fato os interesses para a sua continuidade forem legítimos, é necessário adotar uma política de incentivo e valorização destes espaços emergentes. A metodologia utilizada privilegiou os relatos da História Oral, mas também foi pesquisado um conjunto diversificado de fontes de outros tipos, incluindo registros de diferentes instituições públicas e notícias de jornal. No trabalho de campo, além das entrevistas com feirantes e fregueses, utilizamos levantamentos fotográficos e cartográficos. Foram entrevistadas cerca de 240 pessoas (120 no Brasil e 120 em Portugal). Optamos por preservar as identificações dos depoentes atribuindo-lhes pseudônimos.En Europe et en Amérique les foires ont toujours eu une grande importance, allant ainsi audelà de leur simple rôle commercial dans les villes et se transformant dans de nombreuses sociétés en lieux d’échange culturel et d’apprentissage, dans lesquels les passants de différentes localités s’agrègent et construisent des liens de sociabilité. Dans la période actuelle de consolidation et de diffusion des idéaux et des pratiques de la mondialisation contemporaine, et en dépit du fait que le capitalisme périphérique s’installe à grande allure, avec l’émergence de nouveaux lieux de consommation – à l’instar des supermarchés et des hypermarchés, des magasins et des centre commerciaux –, les foires continuent d’exister,recouvrant descaractéristiques multiples, desformes de sociabilitéspolysémiques, des espaces demobilitécommerciale et sociale qui se concrétisent avec les divers changements survenus, non seulement dans la localisation géographique et dans les produits commercialisés, mais aussi dans les façons d’aménagerlafoire : les actes, les gestes, les performancescorporelles, les mouvements et les motsproduits par les acteurs sociaux qui la fréquentent et circulent à travers ses labyrinthes. C’est ainsi qu’a surgi l’intérêt pour cette étude, à savoir de comprendre comment ces lieux de commerce traditionnelsarrivent à vivre avec et à résister aux impacts causés de nos jours par la mondialisation. Pour répondre à ces questionnements, nous avons dû emprunter deux voies : premièrement identifier les impacts, puis deuxièmement identifier les stratégies de continuité et de discontinuité que les personnages des foires ont eu à assumerpour que celles-ci puissent subsister jusqu’à nos jours en tant que lieux de consommation. Nous avions d’emblée comprisque si les foires cherchaient à subsister, à préserver certaines de leurs traditions, face à l’effervescence de la mondialisation, il était notoirement impossible que ces marchés traditionnels puissent survivre dans le temps, sans changements. Pour mieux comprendre ces tactiques et ces stratégies, nous avons choisi comme locid’investigation les foiresdes villes portugaisesdu Minho – et plus précisément de Ponte de Lima, Barcelos et Vila do Conde–ainsi que les foires du nord-estbrésilien–et plus particulièrement Campina Grande-PB, Caruaru-PE et celle deSão Joaquim, située à Salvador de Bahia. Avec les particularités qui les rapprochent et les distancient il a été possible de comprendre, de façon comparative, l’impact de la mondialisation sur ces foires dans cesdeux univers. Nous avons pris en compte lesvaleurs historiques, sociales, culturelles et économiques des villes qui accueillent ces foires. Pour répondre à ces questionnements, nous avons réalisé notre recherche durant la période 1986/2007, qui dans notre optique est marquée par de profonds changements en Europe, et plus spécifiquement au Portugal,avec l’intégration à la CEE. En Amérique Latine, le Brésil a connu la fin de la période dictatoriale et une nouvelle démocratisation politique. Ces deux processus ont contribué à l’ouverture économique du marché, à la libéralisation des échanges et à la mise en oeuvre de politiques néolibérales influencées par l’idéologie du capitalisme mondialisé des marchés, face à la crise des États et à la redéfinition de leurs fonctions. En ce qui concerne les impacts de la mondialisation, nous avons mis en avant le chômage, l’informalité, la migration et l’immigration, la diversité culturelle, l’hybridation identitaire, la mise en oeuvre de nouveaux lieux de consommation, l’adaptation à la nouvelle logique du marché face aux blocs économiques, l’ouverture du marché aux produits importés, en particulier aux produits chinois. En ce qui concerne les stratégies et les adaptations utilisées par les marchands des foires, nous avons détecté des changements au niveau des produits et des formes de paiement. Par rapport aux pouvoirs publics, enparticulier au Brésil, nous nous sommes rendus compte que ceux-ci ont initié une lutte pour la reconnaissance des foires comme patrimoine immatériel, en mettant l’accent sur les politiques de sauvegarde et les projets de requalification de ces lieux. Cependant, en dépit des recadrages et des réadaptationsau dynamisme des marchés, les foiressubissent une grave crise de survie et de discontinuité.Alors, si les intérêts pour leurpersistance sont légitimes, il est nécessaire d’adopter une politique d’encouragement et de promotion de ces espaces émergents. La méthodologie utilisée privilégie les récits de l’histoire orale, mais nous avons égalementeu recours à un ensemble élargi de sources très diversifiées, incluant les registresde différentes institutions publiques ainsi les informations des journaux. Durant les travaux de terrain, en plus des entrevues avec les commerçants et les clients, nous avons fait appel à des registres photographiques et cartographiques. Nous avons interviewé 240 personnes (120 au Brésil et 120 au Portugal). Nous avons choisi de préserver l'identification des personnes interrogées en leur donnant des pseudonyme

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