Tese de doutoramento em Ciências da Comunicação (área de especialização em Cibercultura e Redes de Comunicação)O tema do nosso estudo enquadra-se numa perspectiva social e tecnológica dos aspectos da
Memória, procurando reflectir sobre o seu alcance e limitações contextualizado numa
perspectiva interdisciplinar: os conceitos tradicionais da Memória são analisados à luz da
aceleração provocada pelo advento do digital no modo de vida contemporâneo, e em particular,
afectando o campo dos media.
A memória é um pilar essencial da sociedade: a memória colectiva ou social confere estabilidade
e sentimentos de partilha e de solidariedade aos membros do grupo. Ao fornecer o
conhecimento sobre o passado comum, a memória também contribui para o sentimento
identitário colectivo.
Ao abordarmos a memória, fazemo-lo essencialmente no sentido dos mecanismos de
recordação, reconhecendo-lhe o seu estado em progressão sob o efeito transformador dos meios
digitais.
O papel dos media é crucial para o armazenamento e circulação das memórias na sociedade.
Deste modo, procuramos urdir o tema da tese em volta dos argumentos associados à memória,
aos media e à sociedade, procurando debater os potenciais efeitos dos meios digitais para a
configuração da memória individual e colectiva.
A rápida e maciça computorização da sociedade, ritmada pelos impulsos inovadores da
nanotecnologia, alastrou a essência da digitalização a todas as esferas da criação humana. Com
a digitalização do arquivo em todas as suas vertentes emergiu um novo regime de tecnologias
que permitem moldar e guardar as experiências. O acesso à informação não é coisa recente da
geração actual, mas o que muda é o modo como se organiza essa informação em dimensões
jamais vistas e o conjunto de operações que se realizam sobre essas novas dimensões. Mas, embora tecnologicamente avançada, a sociedade informática, paradoxalmente, regista e
armazena em suporte frágil, não concebido para a permanência, mas sobretudo para a
distribuição massificada e para a rápida disseminação. Desde logo porque marcada pela
proliferação das redes de comunicação, e depois, porque a produção dessa informação se
efectua através de processos computorizados.
Deste modo, caberia analisar o modo como o paradigma tecnológico afectou os processos de
memória, de recordação, de transmissão e de manuseamento da informação, quanto ao arquivo
e à gestão dos objectos digitais produzidos. Esta questão reflecte uma preocupação que é
pública, nomeadamente pela UNESCO, tomando o pulso às potenciais ameaças de uma
amnésia colectiva que derivam da transição para o armazenamento digital. Esta questão será
abordada nos capítulos terceiro e quarto.
Atendendo às alterações que o campo dos media têm vindo a sentir em função de projectos de
convergência de índole diversa, a nossa análise empírica procurou incluir nos casos de estudo a
realidade da convergência, procurando apreender modificações em função dessa dinâmica.
Contudo, reforçamos a nossa preocupação pela fragilidade que afectam os registos digitais,
procurando referir as complexas condicionantes tecnológicas e os factores de decisão que
determinam a natureza dos objectos arquivados.
Na abordagem da problemática do tratamento da Memória nos media, seguimos a via de análise
que remete não para o suporte exterior da produção informativa, os formatos papel e digital,
mas antes para o seu back-office, para o lado de dentro dessa dinâmica construtiva, para o
trabalho de bastidores que fixam o registo dessa produção e que não se relaciona directamente
com o utilizador final. No nosso estudo, procuramos indagar as formas como tem sido preparado
este percurso em alguns dos principais media nacionais, olhando para a saúde dos seus
respectivos arquivos e espólios documentais, e analisando o percurso tecnológico com vista aos
processos informatizados de tratamento, gestão e armazenamento dos objectos digitais, ou seja,
da informação produzida.
A condução do nosso estudo empírico procurou indagar, no campo dos media, a forma como
passado e presente se encontram unidos, ligando as pontas do fio condutor que conecta os
extremos do próprio devir evolutivo dos media. O interesse pelo passado reveste-se sob a forma formação profissional.The theme of our study is framed by a social and technological perspective of the aspects of
memory, trying to reflect on the role of contextual memory in an interdisciplinary environment, by
articulating the traditional concepts in the light of the changes caused by the sense of digital
contemporaries lifestyles, in particular in the field of action of media.
The fast and massive computerization of society, cadenced by innovative glitches of
nanotechnology, has spread the essence of digitalization to all spheres of human creation.
Alongside the digitalization of the archives in all its aspects, there has emerged a new kind of
technologies that allow to mold and store experiences. Information access is not a recent thing of
the present generation, but what changes is how that information is organized in unseen
dimensions and the unprecedented set of operations that take place on these new dimensions.
While technologically advanced, the computers society, paradoxically, records and stores in
fragile devices, not designed for permanence, but especially intended for mass distribution and
fast diffusion. Firstly because it is marked by the communication networks proliferation, and
secondly, because the production of such information is made through computerized processes.
Thus, it would require to examine how the technological paradigm has affected the processes of
memory, remembrance, transmission and handling of information, as referred to archiving and
produced digital objects’ management.
Given the changes that have been affecting the field of media in terms of convergence projects of various kinds, our empirical analysis sought to include in the case studies the reality of
convergence, trying to grasp this changes in the light of that dynamic. However, we reinforce our
concern about the fragility affecting digital records, trying to refer to the complex technical
constraints and the deciding factors that determine the nature of archived objects. To approach the treatment of memory management in the media, we have followed a track that
refers not to the information production’s outer support, paper and digital formats, but to its
back-office, to the inside of this constructive dynamic, to the work behind the scenes that set the
record of that production. In our study, we investigate the ways in which this course has been
prepared in some major national media, looking at the health of their documentary archives and
contents, and analyzing the technological paths in order to meet the computerized processes for
handling, management and storage of digital objects, ie, the information produced.
The conduction of our exploratory study sought to investigate in the field of media, how past and
present are united by connecting the ends of the wire that links the ends of media’s own future
becoming. The interest in the past, takes the form of an archive or collection of documents,
seeking to inquire how the media accord importance to its own memory, within a logic of
preservation and long-term digital access. But we were also interested in the present, with
respect to the allowed configurations by the advent of digital, which transformative power has
affected the potential of the archives, renewing the classic aspects of storage and repository but
adding unprecedented availability, fluidity and usefulness. The arquives have become information
supply digital databases that support the memory mediated technologies.
As such, they allow themselves new forms of storage, content management and electronic lookup,
using data bases and linking to online platforms. We therefore tried to analyze how the media
stand when facing the challenges and opportunities that digital evokes, often in tension under
both processes of technological convergence, services, economic concentration or vocational
training