Este trabalho teve por objectivo o estudo da degradação do ácido oleico (um dos mais tóxicos e mais
abundante entre os Ácidos Gordos de Cadeia Longa - AGCL presentes em efluentes) em filtro anaeróbio,
avaliando o efeito da aclimatização da biomassa utilizada como inóculo e também da recirculação da
biomassa. Operaram-se três filtros anaeróbios (R1, R2 e R3) em paralelo. Em R1 inoculou-se biomassa
não aclimatizada e não se recirculou a biomassa que saía do reactor. Em R2 inoculou-se biomassa não
aclimatizada e recirculou-se a biomassa e em R3, também com recirculação, inoculou-se biomassa
aclimatizada com lípidos e oleato. O desempenho dos digestores foi avaliado durante 233 dias em termos
de CQO (Carência Química de Oxigénio) solúvel removida, AGV (Ácidos Gordos Voláteis) e SSV
(Sólidos Suspensos Voláteis) à saída, e produção de metano. Obtiveram-se eficiências de remoção entre
70 a 77%, para uma carga aplicada de oleato de 12.5 kgCQO/m³.dia, mesmo com concentrações molares
oleato/(Ca2++Mg2+) de 6.79. Os rendimentos em metano diminuíram com o aumento da carga aplicada em
oleato, embora as remoções de CQO solúvel se tenham mantido superiores a 70%. Este facto sugere que
parte do oleato possa ter sido retida por adsorção na biomassa. Verificou-se que a recirculação da
biomassa foi vantajosa no desempenho deste sistema, promovendo a minimização do efeito de lavagem
(“washout”) e a diluição da carga tóxica aplicada, conduzindo a uma menor inibição da população
acetogénica e metanogénica. Além disso, o efeito inibitório do oleato de sódio sobre as populações
acetogénicas e metanogénicas foi menos sentido num filtro anaeróbio inoculado com biomassa
previamente aclimatizada. Conclui-se que, do ponto de vista do tratamento de efluentes com elevada
carga em oleato, o efeito combinado da recirculação de biomassa e utilização de um inóculo aclimatizado
é benéfico, melhorando a eficiência do desempenho do filtro anaeróbio