A influência do humor deprimido nas memórias verdadeiras e falsas

Abstract

Introdução: As falsas memórias são um fenômeno no qual uma pessoa se lembra de um evento que nunca ocorreu ou ocorreu de maneira diferente. Este fenômeno pode ser tão vívido e realista quanto as memórias verdadeiras. Estudos mostram que o humor deprimido pode predispor a um número maior de falsas memórias. No entanto, ainda não há consenso sobre o surgimento de falsas memórias nessa população. Objetivo: Este estudo tem como objetivo avaliar memórias verdadeiras e falsas memórias espontâneas em indivíduos com e sem depressão e com baixa escolaridade, através do paradigma Deese-Roediger-McDermott (DRM). Metodologia: Trata-se de um estudo transversal, no qual 68 indivíduos (34 pacientes deprimidos e 34 controles saudáveis) foram recrutados em dois hospitais de referência em Porto Alegre. Os participantes foram avaliados por psiquiatras e responderam a um conjunto de questionários que incluíam características sociodemográficas, memórias verdadeiras e memórias falsas avaliadas através do paradigma DRM, aspectos neuropsicológicos avaliados pela Montreal Cognitive Assessment (MoCA), sintomas depressivos avaliados por meio da Escala Beck de Depressão e Escala de Depressão de Montgomery-Asberg e funcionamento psicossocial pela Escala Breve de Funcionamento (FAST). O estudo foi realizado de acordo com as diretrizes éticas internacionais (número de aprovação no comitê de ética: 2018-0437 GPPG/HCPA). Resultados: Os resultados do paradigma DRM mostraram que indivíduos deprimidos apresentaram menor desempenho na recordação de memórias verdadeiras (Wald χ²= 30,88; 18,40±0,88; p<0,001) e citam um número menor de palavras-tema (Wald χ²= 5,004; 0,54±0,11; p= 0,025) em comparação com controles saudáveis (23,49±0,79; 0,93±0,12), respectivamente. Por outro lado, os grupos apresentaram frequência semelhante para as falsas memórias espontâneas (Wald χ²= 1,828; p= 0,176). Os resultados da interação grupo por valência para memórias verdadeiras (Wald χ²= 4,980; p= 0,083), memórias falsas espontâneas (Wald χ²= 0,345; p= 0,842) e palavras-tema (Wald χ²= 2,227; p= 0,541) foram semelhantes, controlando as variáveis sexo, anos de educação e idade. No entanto, a análise de efeitos intraindividual (grupo e valências) demonstrou diferenças significativas para valências nas variáveis de paradigma DRM. Conclusões: Os participantes com depressão apresentaram desempenho inferior ao recordar memórias verdadeiras quando comparados a controles saudáveis, o que pode ser atribuído ao baixo desempenho nos domínios cognitivos. Referente às valências das memórias verdadeiras, não houve diferença entre os grupos, sugerindo que o conteúdo da memória episódica em indivíduos com depressão não é afetado pelo humor negativo (congruência do humor). Por último, os grupos tiveram desempenho semelhante do que tange às falsas memórias espontâneas.Introduction: False memories are a phenomenon in which a person remembers an event that never occurred or occurred differently. This phenomenon can be as vivid and realistic as true memories. Studies show that depressed mood can predispose to a greater number of false memories. However, there is still no consensus on the appearance of false memories in this population. Objective: This study aims to evaluate spontaneous false and true memories in low educational levels individuals with and without depression through Deese-Roediger-McDermott (DRM) paradigm. Methodology: This is a cross-sectional study, in which 68 individuals (34 depressed patients and 34 healthy controls) were recruited from two referral hospitals in Porto Alegre. Participants were evaluated by psychiatrists and they responded to a set of questionnaires comprising sociodemographic characteristics, false memories assessed using DRM paradigm, neuropsychological aspects assessed by the Montreal Cognitive Assessment (MoCA), depressive symptoms assessed using the Beck Depression Inventory (BDI) and Montgomery-Asberg Depression Rating Scale (MADRS) and psychosocial functioning by the Short Functioning Test (FAST). The study was carried out in accordance with international ethical guidelines (approval number on the ethics committee: 2018-0437 GPPG/HCPA). Results: The results of the DRM paradigm showed that depressed individuals presented lower performance for true memory recall (Wald χ²= 30.88; 18.40±0.88; p <0.001) and cited a smaller number of theme words (Wald χ²= 5.004; 0.54±0.11; p= 0.025) compared to healthy controls (23.49±0.79; 0.93±0.12), respectively. On the other hand, the groups showed a similar frequency for spontaneous false memories (Wald χ²= 1.828; p= 0.176). The results of the valence group interaction for true memories (Wald χ²= 4.980; p= 0.083), spontaneous false memories (Wald χ²= 0.345; p= 0.842) and critical lures (Wald χ²= 2.227; p= 0.541) were similar, controlling for sex, years of education and age. However, the analysis of effects within the subject (group and valences) demonstrated significant differences for valences in the DRM paradigm variables. Conclusions: The participants with depression performed poorly for true memories recall when compared to healthy controls. This can be attributed to low performance in the cognitive domains. Regarding the valences of true memories, there was no difference between the groups, suggesting that the content of episodic memory in individuals with depression is not affected by negative mood (mood congruence). Finally, the groups had similar performance for the spontaneous false memories

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