Cardoso, Cleiton dos Santos

Portuguese

Lume 5.8

Evento Salão UFRGS 2019: XV SALÃO DE ENSINO DA UFRGSAno 2019Local Campus do Vale - UFRGSTítulo O exame descrevendo o sujeitoAutor CLEITON DOS SANTOS CARDOSOOrientador RÚBIA LIZ VOGT DE OLIVEIRARESUMO: O exame pode ser considerado o fio condutor de muitos dos processos disciplinares do mundo moderno. Desde a escola, somos ensinados a cumprir cronogramas sendo sempre avaliados por provas e testes. No ensino superior as coisas não são muito diferentes, podendo ainda ser incluso em muitas instituições o processo de ordenamento, que classifica os alunos com base em seu desempenho acadêmico. Não muito diferente, na vida cotidiana, no ambiente de trabalho, pode-se ver a presença das classificações e dos exames, mesmo que implicitamente. No trabalho, como já descrito por Michel Foucault, somos inseridos em um universo de novas regras, processos disciplinares e avaliações com o intuito de criar corpos dóceis, capazes de serem domados, principalmente devido à consequente redução da vida política, ou seja, da vida em sociedade, criando assim um sujeito cuja natureza é o trabalho e a produção em massa, levando a perda da identidade em benefício de algo construído em coletivo, o resultado. E o resultado é o que esperam os superiores dos subordinados no trabalho, assim como na escola onde o professor pede atenção de seus alunos e os avalia com base em suas percepções acerca do conhecimento passado, no trabalho os indivíduos também são avaliados, muitas das vezes chegam ao posto de trabalho pela primeira vez sem ter recebido instrução mínima sobre o cargo que vão ocupar e são assim completamente moldados de acordo com os interesses do empregador, sendo sempre avaliados tendo em conta o resultado obtido e não a sua individualidade, o que os leva a perder sua personalidade em prol da produção. Mas isso não é o que se deve esperar do ambiente escolar. Diferente do trabalho, onde há exploração da força coletiva tendo em vista um resultado monetário, na escola o resultado é o esperado como forma de avaliar melhor os conhecimentos absorvidos pelo indivíduo, e não apenas na produção de um bem material. Na escola, os alunos devem ser avaliados com o intuito de conhecer o indivíduo e orientá-lo em sua jornada ao mundo do trabalho. Para isso são feitas as classificações, onde alunos recebem notas baseadas em seu desempenho nos exames e áreas. Todavia, no processo de avaliação escolar pode-se esperar positivamente que as diferenças de identidade sejam expressas. Assim os exames e avaliações servem também para que o professor possa conhecer os interesses do aluno e a partir disso orientá-lo a cerca de seu futuro eminente. Na EJA (Educação de Jovens e Adultos) do CAp (Colégio de Aplicação da UFRGS) somos confrontados com distintas realidades de diferentes pessoas que buscam terminar sua educação básica, que assim como o ensino regular vai do ensino fundamental ao ensino médio. Essas pessoas têm diferentes idades e trazem em suas escritas marcas de suas trajetórias escolares acidentadas. Muitos abandonaram a escola muito cedo não tendo completado sua alfabetização, mas isso não significa que não saibam se expressar, e devido as diferentes idades podemos ver muitas personalidades. Alguns alunos são mais jovens e outros já haviam evadido a escola há muito tempo, em épocas onde a educação tinha o currículo muito diferente em relação ao atual, o que foi de certa forma um desafio ao tema “trabalho” abordado na disciplina de filosofia do terceiro ano do ensino médio (EM3) no primeiro semestre de 2019, devido à heterogeneidade de saberes prévios destes sujeitos de aprendizagem. Contudo, percebemos que diferente dos alunos do ensino regular, a maioria possui experiências de trabalho e, portanto o tema não seria estranho aos alunos e poderíamos esperar riqueza das avaliações planejadas até então. Com base nas avaliações aplicadas durante o semestre não passou despercebido como o exame, mesmo tendo como objetivo classificar os indivíduos e avaliá-los, também pode ser um instrumento para conhecer as impressões e percepções deles acerca da vida, pois ao realizarem as tarefas, os alunos associaram e exemplificaram os conceitos trabalhados com suas experiências de vida. O tema “trabalho” escolhido como base dos conteúdos aplicados na turma EM3 proporcionou tal envolvimento dos alunos que dificilmente poderia se conseguir com uma turma de terceiro ano do ensino regular, mesmo que o assunto já esteja presente nas cabeças de muitos adolescentes, uma vez que a maioria ainda não vivenciou o mundo do trabalho. Por já terem experiências de trabalho muitas das vezes ainda na infância, o que em alguns dos relatos pode ser observado como motivo da evasão escolar, os alunos da EJA estão intrinsecamente ligados ao mundo do trabalho. O trabalho é um assunto relevante nas vidas desses alunos e dele se podem obter diversos tipos de discussão que vão desde conceitos etimológicos, de violência, consumo, de exploração e disciplina a trabalho como humanização. Meu objetivo com a análise dessas avaliações é justamente relatar este lado humano das experiências desses alunos em seus ambientes de trabalho e disso, diferente do resultado esperando pela grande maioria das disciplinas, conhecer mais sobre a identidade de cada um mostrando como as aulas de Filosofia contribuíram para a autorreflexão desses sujeitos.  Palavras-chave: Avaliação; Sujeitos da EJA; Mundo do Trabalho. 

O exame descrevendo o sujeito

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