Os longas-metragens de ficção de Flora Gomes: Mortu nega (1988), Udju azul di Yonta (1992), Po di sangui (1996), Nha fala (2002) e Republica di mininus (2012) contam histórias locais com desdobramentos globais; falam de trânsitos, de música, de mulher, de crianças, de guerra, de (neo)colonialismo, de cosmogonia, de vida, de morte, de amor, de nascimento, de migração, de tradição, de modernidade, de coletividade; retratam problemas socioeconômicos, relacionados com o ecossistema (desmatamento e escassez de água - seca). Gomes utiliza como cenário o espaço natural, ao ar livre: no meio do mato, na guerra, na cidade, no bairro, no deserto, na tabanca, na rua, na praia, seja na África ou na Europa; com discursos irônico, crítico e metafórico. A presente tese está centrada nas marcas autorais de Flora Gomes, as quais são perceptíveis não apenas no discurso, nos temas, na trilha sonora, na temporalidade contemporânea e/ou nas referências ao seu país e ao seu continente de nascimento e residência, mas também mediante sua estética fílmica e mise en scène, reveladas nos movimentos de câmera, preparação de atores, trabalho de iluminação do corpo negro e uso de cores, na cenografia, nas metáforas visuais, na montagem. A investigação partiu da discussão de algumas questões, demandas e exigências surgidas nas leituras que abarcam esta cinematografia africana, destacando as múltiplas possibilidades dos cinemas africanos contemporâneos, para tanto, contextualizaram-se os cinemas africanos, o cinema, a história e a cultura da Guiné-Bissau, a autoria e o cineasta Flora Gomes, por meio de breves historiografia, discussões teóricas e trajetória; bem como as possibilidades de classificação e inserção dos filmes no âmbito do cinema mundial, pelos vieses de produção, circulação e recepção crítica