Theories of embodied cognition argue that language processing arises not
from amodal symbols that redescribe sensorimotor and affective experiences, but
from partial simulations (reenactments) of modality-specific states. Recent findings
on processing of words and sentences support such a stance emphasizing that the role
of the body in the domain of language comprehension should not be overlooked or
dismissed. The present research was conducted to extend prior work in two important
ways. First, the role of simulation was tested with connected discourse rather than
words or sentences presented in isolation. Second, both “online” and “offline”
measures of discourse comprehension were taken. In Experiments 1 and 2
participants’ facial postures were manipulated to show that preparing the body for
processing of emotion-congruent information improves discourse comprehension. In
Experiment 3 the direction of body posture was manipulated to show that implicit
properties of simulations, such as spatial dimension or location, are at least
somewhat involved in processing of large language segments such as discourse.
Finally, in Experiments 4 and 5 participants’ body movement and body posture were
manipulated to show that even understanding of language describing metaphorical
actions physically impossible to perform involves constructing a sensorimotor
simulation of the described event. The major result was that compatibility between
embodiment and language strongly modulated performance effectiveness in
experiments on simulation of emotion and metaphorical action. The effect of
simulation on comprehension of discourse implying spatial dimension was fragile.
These findings support an embodied simulation account of cognition suggesting that
sensorimotor and affective states are at least partially implicated in “online” and
“offline” discourse comprehension.Uma ideia-chave das teorias simbólicas é que a compreensão da linguagem
advém da manipulação de símbolos amodais que descrevem condições perceptivas,
motoras e emocionais, o que parece estar em contradição com a nossa capacidade de
interação com o ambiente. Por exemplo, é difícil acreditar que os sistemas sensoriais
corporais não estejam envolvidos no processamento da linguagem quando alguém
descreve a sua última ida a um café como o Starbucks ou Tim Hortons através das
seguintes palavras: aromático, deleitável, suculento, delicioso, fragrante, caloroso,
acolhedor, confortável, arrebatador, pungente ou sensual. Em contraste com as
teorias simbólicas, a aplicação da cognição incorporada na compreensão da
linguagem defende que os símbolos amodais tornam-se significativos apenas através
da nossa percepção e interação com os objetos e situações que esses objetos
representam (Glenberg, 2010). Deste modo, o processamento da linguagem envolve
sistemas corporais e neurais utilizados em experiências perceptivas, de ação e
emocionais do mundo real. Aplicando esta conceptualização, a compreensão de uma
frase como “ A empregada parece divertida quando entrega uma chávena de café
recentemente moído e um scone a um senhor de meia-idade” requere o
restabelecimento de informação perceptual para simular os objectos e os agentes
descritos na frase (e.g., café, homem de meia-idade), informação perceptual olfactiva
para simular o cheiro de um scone quente e de café recentemente moído, informação
motora para simular como a empregada entrega o café ao senhor e, informação
emocional para simular a sensação de divertimento da empregada.
A discussão acerca da importância da activação sensório-motora que ocorre
durante a compreensão da linguagem inicia-se nesta tese com uma revisão
bibliográfica sobre estudos empíricos focando o processamento da linguagem através
da descrição de conceitos concretos e abstratos. Verificou-se que os dados de todos
esses estudos convergem na conclusão que as representações incorporadas são
necessárias para a compreensão. Simultaneamente concluiu-se que, na área do
processamento da linguagem, ainda necessitam de ser abordados vários assuntos
importantes, tendo-se destacado duas questões essenciais. A primeira é se a
incorporação afecta a compreensão de eventos linguísticos abrangentes tais como o
discurso. O interesse por esta questão foi inspirado por discussões prévias acerca da
escassez de estudos sobre o papel de simulações de modalidade-específica durante a compreensão de discursos (Fischer & Zwaan, 2008), bem como pela importância de
testar a compreensão da linguagem a um nível mais global de discurso (Graesser et
al., 1997; Sparks &vi Rapp, 2010). A segunda questão é se as representações
incorporadas servem para afectar o processamento do discurso “offline”.
Após a revisão de evidências empíricas e teóricas que suportam a cognição
incorporada, bem como a discussão acerca da utilidade de simulações de
modalidade-específica para a compreensão da linguagem, as duas questões
supramencionadas foram investigadas empiricamente através de cinco experiências.
As Experiências 1 e 2 examinaram a influência da condição emocional (positiva,
controlo ou neutra, negativa) nas medidas “online” (tempo de leitura, clareza das
imagens, facilidade de apreensão e sentimento de presença) e “offline (questões
textuais e inferenciais) de compreensão de discurso. Os participantes cujas atitudes
faciais foram manipuladas no sentido de ficarem congruentes com a valência positiva
do texto (condição compatível “caneta nos dentes”) geralmente revelaram tempos de
leituras mais rápidos e maior apreensão do que leram relativamente aos participantes
cujas posturas faciais foram incongruentes (condição incompatível “caneta nos
lábios”) ou neutras (sem manipulação). As restantes medidas não revelaram um
efeito da condição emocional. Os resultados obtidos são consistentes com estudos
anteriores que utilizaram as frases (e.g., Havas et al., 2007) e suportam as teorias de
cognição incorporada nas quais os símbolos abstratos são apoiados em sistemas
sensório-motores (Barsalou, 1999a; Glenberg, 1997; Zwaan, 2004). Provavelmente
mais importante, os resultados obtidos indicam que uma condição emocional
compatível parece afetar a compreensão “online” não só ao nível da palavra e da
frase, mas também ao nível do discurso.
Enquanto que as Experiências 2 e 3 avaliaram se as simulações de
modalidade-específica permitem apreender informação explícita conotada à
linguagem, a Experiência 3 avaliou se as simulações de modalidade-específica
permitem apreender informação implícita suplementar às palavras mencionadas no
texto. Os participantes leram narrativas com descrições de cenas que implicitamente
sugeriam uma determinada posição espacial de uma pessoa ou de uma entidade,
enquanto o seu corpo estava virado 90 graus para a direita (condição compatível), 90
graus para a esquerda (condição incompatível) ou numa condição normal sem
manipulação corporal (condição neutra). A compreensão dos participantes foi
avaliada através de medidas “online” (tempos de leitura, clareza mental das imagens, clareza mental de imagens específicas e presença espacial) e “offline”
(sequenciamento de tarefas). Os resultados obtidos revelam que os participantes que
leram o texto na condição compatível reportaram um maior nível de clareza mental
de imagens, mas apenas no que diz respeito às passagens que descreviam
movimentos envolvendo duas pessoas situadas à esquerda. As restantes medidas não
revelaram um efeito de congruência entre a direção corporal e o processamento do
discurso. Assim, pode ser concluído que mesmo as caraterísticas implícitas das
simulações, tais como a dimensão espacial ou localização estão, pelo menos, algo
envolvidas no processamento de amplos segmentos da linguagem tais como o
discurso.
Por ultimo, as Experiências 4 e 5 foram realizadas para demonstrar que a
participação em ações reais (exercício numa bicicleta fixa) ou meramente a
preparação do sistema motor para uma ação (leitura do texto com uma perna em
avanço) afeta o modo como os indivíduos compreendem um discurso com descrições
de movimentos metafóricos. Os participantes leram um texto com descrições de
movimentos metafóricos progressivos (e.g., perseguir um futuro melhor) enquanto os
seus corpos estavam preparados (condição de facilitação) ou não (controlo) para o
processamento de informação congruente com ação. A compreensão do discurso
pelos participantes foi avaliada através de medidas “online” (tempos de leitura) e
“offline” (precisão das respostas, tempo de reconhecimento de palavras do texto,
tempo de avaliação da veracidade/falsidade de frases). Foi concluído que a simulação
de ação tem maior efeito na compreensão “offline” implícita do que na “offline”
explícita e que a compreensão “online” não parece ser consideravelmente afetada. Os
resultados obtidos são consistentes com a teoria LASS (Barsalou et al., 2008), a qual
prevê que a simulação afeta mais o processamento de informação baseado na
dedução e interpretação e, num menor nível, o processamento superficial baseado na
informação explicitamente fornecida no texto. Estas conclusões permitem avançar
para além das Experiências 1 a 3 ao demonstrar que as simulações de modalidadeespecífica
estão envolvidas igualmente na compreensão de discursos que descrevem
ações metafóricas as quais são fisicamente impossíveis de desempenhar.
Em resumo, os resultados apresentados suportam a cognição incorporada,
sugerindo que as condições sensório-motoras e afetivas estão implicadas, ao menos
parcialmente, no processamento do discurso “online” e “offline”. É manifesto que as
experiências descritas nesta tese não fornecem evidências de que não existem representações amodais ativadas durante o processamento linguístico, mas
demonstram que o apoio sensório-motor é necessário para a compreensão de
segmentos amplos da linguagem como é o discurso