Introdução. O péptido natriurético tipo B é um biomarcador recomendado e disseminado para abordagem diagnóstica e prognóstica de doentes suspeitos de insuficiência cardíaca aguda no serviço de urgência, importando conhecer a sua real aplicação clínica.
Objetivos. Estudar a pertinência da prescrição, precisão diagnóstica e valor prognóstico do péptido natriurético tipo B na prática clínica do serviço de urgência.
Materiais e métodos. Realizou-se um estudo retrospetivo longitudinal de 463 casos consecutivos admitidos num serviço de urgência hospitalar. Analisaram-se: a pertinência da prescrição face à história e manifestações clínicas, probabilidade diagnóstica (derivada dos critérios de Boston) e diagnóstico médico de insuficiência cardíaca; as estatísticas de precisão diagnóstica face à probabilidade clínica e diagnóstico médico de insuficiência cardíaca; o valor prognóstico face aos eventos adversos imediatos e uma análise de sobrevivência para eventos adversos até 1 ano.
Resultados e discussão. Em 52,5% de casos com prescrição do péptido natriurético tipo B observou-se elevada probabilidade clínica diagnóstica de insuficiência cardíaca aguda, diminuindo a pertinência dessas prescrições. Nos 27,6% de casos com diagnósticos clinicamente incertos, logo maior pertinência na prescrição, as diferenças neste biomarcador foram menores, prejudicando a sua utilidade clínica. Essas diferenças são maiores nos casos de maior probabilidade clínica do diagnóstico, associando-se a diagnósticos mais precisos em 19,9% de casos. As estatísticas de precisão diagnóstica do péptido natriurético tipo B face ao diagnóstico médico de insuficiência cardíaca aguda foram superiores às relativas à probabilidade clínica desse diagnóstico, porém inferiores ao reportado na literatura. Doseamentos superiores a 400pg/mL associaram-se significativamente ao diagnóstico de insuficiência cardíaca aguda e riscos de reinternamento ou morte respetivamente até 6 e 11 vezes superiores aos daqueles com valores menores. O risco de eventos adversos (sobretudo devidos a insuficiência cardíaca) foi maior em doentes com péptido natriurético mais elevado.
Conclusões. Uma importante redução na prescrição de péptido natriurético é possível com uma abordagem clínica criteriosa. A utilização do BNP associa-se a maior precisão diagnóstica da insuficiência cardíaca e fornece relevante informação prognóstica. O limiar de 400pg/mL associa-se significativamente ao diagnóstico e prognóstico desta doença.Introduction. B-type natriuretic peptide is a biomarker recommended and disseminated for the diagnostic and prognostic management of acute heart failure suspected patients in the emergency department, being important to know its real clinical application.
Objectives. To study the pertinence of prescription, diagnostic precision and prognostic value of B-type natriuretic peptide in the emergency department clinical practice.
Materials and methods. A retrospective longitudinal study was performed in 463 consecutive cases admitted to a hospital emergency department. Analysis were performed of the prescription’s pertinence relative to the clinical history and manifestations, diagnostic probability (derived from Boston criteria) and medical diagnosis of heart failure; the diagnostic precision statistics relative to the clinical probability and medical diagnosis of heart failure; the prognostic value relative to the immediate adverse events and a survival analysis of adverse events up to 1 year.
Results and discussion. In 52.5% of cases with prescription of B-type natriuretic peptide a high clinical diagnostic probability of acute heart failure, reducing the pertinence of those prescriptions. In 27.6% of cases with uncertain clinical diagnosis, hence greater pertinence of prescription, the differences in the biomarker were small, reducing its clinical utility. Those differences were greater in cases with higher clinical probability of diagnosis, associating with 19.9% more precise diagnosis. The diagnostic precision statistics of B-type natriuretic peptide relative to the medical diagnosis of acute heart failure were better than those relative to the clinical probability of that diagnosis, however inferior to the reported from literature. Values higher than 400pg/mL significantly associated with the diagnosis of acute heart failure and rehospitalization or death risks respectively up to 6 and 11 times higher than those with lower values. The risk of adverse events (principally caused by heart failure) was greater in patients with higher natriuretic peptide.
Conclusions. An important reduction of B-type natriuretic peptide prescription is possible with a careful clinical approach. Its use associates with better diagnostic precision relative to heart failure and supplies relevant prognostic information. 400pg/mL cutoff is relevant for the diagnosis and prognosis of this disease