O acidente vascular cerebral é uma patologia bastante prevalente na população ocidental,
sendo os principais grupos isquémico e hemorrágico. O isquémico divide-se em várias
categorias, uma delas o enfarte lacunar. O hemorrágico inclui o profundo (também chamado
de hipertensivo) e o lobar.
O enfarte lacunar surge em pequenos vasos afetados por um processo de microangiopatia
secundária principalmente à hipertensão arterial de longo prazo, ocorrendo habitualmente
nos gânglios da base, tálamo, ponte e cerebelo, os mesmos locais onde a hemorragia
intracerebral hipertensiva ocorre.
Esta microangiopatia causa endurecimento e espessamento arterial com alterações
hemodinâmicas que se repercutem a montante nas artérias donde derivam.
Estudos recentes mostraram que parâmetros de fluxo cerebral, obtidos por doppler
transcraniano, como o índice de pulsatilidade ou o de resistividade podem ser usados como
marcadores de resistência vascular das artérias cerebrais distais para avaliação preventiva do
acidente vascular cerebral isquémico. Surgiu assim a questão de se a mesma abordagem
poderia também ser efetiva na hemorragia intracerebral.
Este estudo é retrospetivo, com consulta de registos clínicos de pacientes internados no
Centro Hospitalar Cova da Beira estando aprovado pela Comissão de Ética do mesmo.
O objetivo é comparar entre os grupos com hemorragia intracerebral, enfarte lacunar e grupo
de controlo, parâmetros de fluxo sanguíneo cerebral medidos na artéria cerebral média por
doppler transcraniano. Alguns desses parâmetros são obtidos diretamente (velocidades
sistólica e diastólica) enquanto outros são calculados (velocidade média, índice de
pulsatilidade e índice de resistividade). Pretende-se tentar corroborar a base fisiopatológica
semelhante desses dois tipos de acidente vascular cerebral e tentar compreender se o
doppler transcraniano pode ser preditivo para um evento de hemorragia intracerebral. Foram
também recolhidos dados epidemiológicos e analisado o grau de leucoaraiose cerebral
presente em cada paciente.
Os resultados indicam que as velocidades sistólica, diastólica e média não mostraram
diferenças significativas entre qualquer grupo. Os índices de pulsatilidade e de resistividade
não revelaram diferenças entre os grupos de enfarte lacunar e hemorragia intracerebral, mas
ambos os grupos têm os valores desses índices elevados quando comparados com o grupo de
controlo. Isto é sugestivo de uma base fisiopatológica semelhante entre o enfare lacunar e a hemorragia intracerebral pois ambos têm aumento dos marcadores de resistência vascular cerebral e abre-se a possibilidade para que futuros estudos prospetivos possam avaliar se o aumento dos índices de pulsatilidade e resistividade poderão efetivamente ser considerados um fator de risco preditivo para a ocorrência de hemorragia intracerebral secundária à hipertensão crónica.Stroke is a very common disease in the western population and the two main categories are ischemic and hemorrhagic. Ischemic is divided into several categories, one of them is lacunar infarct. Hemorrhagic stroke includes deep (also called hypertensive) and lobar.
The lacunar infarcts occurs in small vessels affected by a process called microangiopathy, mainly secondary to long-term hypertension, usually occurring in the basal ganglia, thalamus, pons and cerebellum, the same places where usually hypertensive intracerebral hemorrhage occurs.
This microangiopathy causes hardening and thickening of the wall of that blood vessels resulting into hemodynamic changes that can be detected upstream in the main arteries from which derived.
Recent studies have shown that certain cerebral blood flow parameters obtained by transcranial doppler, as pulsatility or resistivity indexes can be used as markers of vascular resistance of the distal cerebral arteries and used in preventive evaluation of ischemic stroke. Having this in mind arose the question if the same approach could also be effective to intracerebral hemorrhage.
This study is retrospective with consultation of clinical records of hospitalized patients in the Cova da Beira Hospital, being approved by its Ethics Committee.
The objective is to compare cerebral blood flow parameters measured in the middle cerebral artery by transcranial doppler between the groups with intracerebral hemorrhage, lacunar infarct and control group. Some of these parameters are obtained directly (systolic and diastolic velocities) while others are calculated (mean velocity, pulsatility index and resistivity index). With this we want try to corroborate the similar pathophysiological basis of these two types of stroke and try to understand if the transcranial doppler may be predictive of an intracerebral bleeding event. Epidemiological data were also collected and was analyzed the degree of brain leukoaraiosis present in each patient.
The results indicate that systolic, diastolic and mean velocities have no significant differences between any groups. The pulsatility and resistivity indexes revealed no differences between the groups of intracerebral hemorrhage and lacunar infarct, but both groups have the values of these indexes elevated when compared with the control group.
This is suggestive of a similar pathophysiological basis between lacunar infarct and intracerebral hemorrhage as both have increased cerebrovascular resistance markers and opens up the possibility for future prospective studies to evaluate if increased pulsatility and resistivity indexes can effectively be considered a predictive risk factor for the occurrence of intracerebral hemorrhage secondary to chronic hypertension