Comunicação e referenciação da comunidade fumadora da Covilhã

Abstract

Introdução: A cessação tabágica é uma estratégia crucial de controlo de tabagismo e de grande custo-efetividade. Em 2012, foi aprovado um programa prioritário nacional de prevenção e controlo de tabagismo. Promover e apoiar a cessação tabágica é uma estratégia crucial para reduzir a prevalência de fumadores na população portuguesa. Apesar da custo-efetividade dos programas de cessação tabágica estar bem demonstrada, poucos fumadores recorrem a um programa de cessação em Portugal. Como tal, é muito importante conhecer as vias de comunicação com os fumadores, no sentido de os motivar e incentivar a deixar de fumar, idealmente com o apoio de um programa de cessação tabágica. Objetivos: Caraterizar a população dos fumadores que recorrem à consulta de cessação tabágica; avaliar as vias que levam ao conhecimento e utilização do programa de cessação e as vias de referenciação dos fumadores que recorrem à consulta de cessação tabágica do Centro Hospitalar Cova da Beira; analisar e caraterizar as tentativas prévias de cessação; avaliar se existem diferenças entre os fumadores provenientes da comunidade e os fumadores referenciados a partir do hospital. Metodologia: Estudo observacional transversal descritivo. Análise dos protocolos clínicos dos fumadores que recorreram à consulta de cessação tabágica de Centro Hospitalar Cova da Beira entre 2010-2012. A colheita dos dados registados no protocolo da consulta é feita sistematicamente na consulta de avaliação inicial. Foi realizada a análise descritiva univariável e bivariável, utilizando-se os testes estatísticos de Qui-Quadrado e MacNemar para as variáveis categóricas e odds ratio quando adequado; t de student e Mann-Whitney para as variáveis contínuas. Os dados sociodemográficos, o estado de saúde geral e o comportamento tabágico foram comparados com um estudo anterior que caraterizou os fumadores que recorreram ao programa nos 2 primeiros anos da consulta. Resultados: Foram incluídos no estudo 300 utentes, na sua maioria homens (68,7%), com idade média de 47,7±11,97 anos (14?75); a média da duração do comportamento tabágico foi de 30,3±12,38; 65,8% dos fumadores são provenientes do hospital, 34,2% são da comunidade; a maioria dos fumadores consome cigarros manufaturados e 5,7% dos fumadores fumam exclusivamente tabaco de enrolar; a carga tabágica dos fumadores foi, em média, 33,6±19,35 unidades/maço/ano; a maioria apresenta motivação e dependência moderadas; os fumadores do estudo iniciaram o consumo tabágico mais cedo e recorreram mais tarde à consulta do que os fumadores que recorreram à consulta entre 2008-2009. Mais de metade dos fumadores teve conhecimento do programa pelo médico, 1/4 pelo amigo/familiar/conhecido, 3,5% pelos media, 2,0% através do hospital/sinalética; cerca de metade dos fumadores tomaram a iniciativa de solicilitar a consulta e os restantes foram referenciados pelo médico; as especialidades médicas que mais referenciam são a pneumologia, a cardiologia e a medicina interna; a medicina geral e familiar referenciou apenas 2 fumadores; cerca de 3/4 afirmaram ter realizado pelo menos uma tentativa prévia de cessação tabágica; a maioria ficou menos de um ano sem fumar; 38,9% deixaram de fumar sem apoio profissional/farmacológico e 20,0% deixaram de fumar durante o internamento hospitalar sem prescrição de terapêutica de substituição nicotínica. Dos que fizeram tentativa prévia, 29,9% referiram ter sido apoiados/aconselhados a parar de fumar por algum profissional de saúde: 70,1% pelo farmacêutico, 20,9% pelo médico, 6,0% pelo técnico de saúde e 3,0% pelo apoio/aconselhamento conjunto do médico e equipa de enfermagem. Os fumadores da comunidade recorreram mais cedo à consulta e apresentam duração do comportamento tabágico e carga tabágica inferiores aos fumadores do meio hospitalar. Conclusão: Este estudo demonstra a precária divulgação da consulta de cessação tabágica e a escassa referenciação pelas diferentes especialidades médicas. A consulta de cessação deverá ser divulgada através de uma rede dinâmica de referenciação. Como formas de promoção da cessação tabágica deverá investir-se: 1) na formação multidisciplinar em tabagismo para todos os profissionais de saúde no hospital e nos cuidados primários, envolvendo prioritariamente os enfermeiros em ambos os níveis de prestação dos cuidados; 2) na integração sistemática da cessação tabágica no tratamento das doenças crónicas; 3) na utilização da sinalética no hospital; 4) na divulgação na comunidade através dos media e no envolvimento dos farmacêuticos comunitários, incentivando os fumadores a cessarem mais cedo. A comparticipação da terapêutica farmacológica e a inclusão da terapêutica específica de cessação tabágica na prescrição hospitalar é crucial.Introduction: Smoking cessation is a crucial strategy for the control of smoking and of high cost-effectiveness. In 2012, a national priority program of prevention and control of smoking was approved. Promoting and supporting smoking cessation is a crucial strategy to reduce the prevalence of smokers in the Portuguese population. Despite the well established cost-effectiveness of smoking cessation programs, few smokers resort to a smoking cessation program in Portugal. Therefore, it is very important to know the ways of communication with smokers, to motivate and encourage quitting, ideally with the support of a smoking cessation program. Objectives: To characterize the smokers who resort to a hospital-based smoking cessation clinic (CHCB Hospital); to access smokers’ awareness and types of referral to a hospital-based smoking cessation clinic; to analyze smokers’ previous quit attempts; to assess differences among community smokers and hospital-referrals. Methodology: Cross-sectional study. Analysis of clinical protocols of CBHC Hospital smoking cessation program for the years 2010-2012. Clinical questionnaires are standard protocols developed by the Portuguese Society of Pulmonology Smoking Working Group. These are systematically applied during clinical visits. We conducted univariate and bivariate descriptive analysis using Chi Square and McNemar tests for categorical variables; and Mann - Whitney and t student tests for continuous variables. Sociodemographic data, general health and smoking behavior were compared with a previous study that characterized smokers who had used the program in the first 2 years of smoking cessation clinic. Results: Participants: 300 smokers; mostly men (68,7%), mean age 47,7±11,97 years (14?75); mean duration of smoking: 30,3±12,38 years; 65,8% hospital-referrals, 34,2% community smokers; most smokers reported consume of manufactured cigarettes and only 5,7% of the smokers use rolling tobacco; the smoking load was on average 33,60±19,35 UMA; most smokers reported moderate nicotine dependence and moderate motivation to quit; most smokers started smoking earlier and resorted later to the hospital-based smoking cessation clinic than the smokers who resorted between 2008-2009. Half were aware of hospital-based smoking cessation clinic by a physician, 24,7% by a friends/family, 3,5% through media, 2,0% through hospital signage; about half were self-referrals and half physicians-referrals (mostly pulmonologists/cardiologists/internal medicine); two smokers were referred by general practitioners; most smokers reported at least one previous attempt, remaining abstinent on average less than a year; 38,7% quitted “cold turkey”; 20,0% quitted during hospital stay (“cold turkey”). Among smokers who reported at least one previous attempt, 29,9% received smoking cessation support: 70,1% by community pharmacist, 20,9% by physician, 6,0% by other health care provider and 3,0% by physician and nursing team. Community smokers resorted earlier to the hospital-based smoking cessation clinic and reported lower duration of smoking and lower smoking load than hospital-referrals. Conclusion: This study demonstrates the poor dissemination of the hospital-based smoking cessation clinic and a scarce referral by different medical specialties. There is room for improvement regarding smoking cessation network referral through: 1) multidisciplinary training on smoking cessation brief advice/referral for all health care providers, especially nurses and general practitioners; 2) systematic integration of smoking cessation in chronic diseases care; 3) use of hospital signage; 4) engaging community and encouraging more smokers to quit earlier through media/social networks/internet/community pharmacists. It is crucial smoking cessation pharmacotherapy reimbursement

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